Farmacêutica EMS lança o Olire, um similar do Saxenda, no país
A farmacêutica brasileira EMS lança, nesta segunda-feira, a primeira versão produzida nacionalmente das novas “canetas emagrecedoras”, medicamentos aprovados para o tratamento da obesidade por levarem à perda de peso.
O remédio, chamado de Olire, tem como princípio ativo a liraglutida. Ele é um similar do Saxenda, medicamento desenvolvido pela dinamarquesa Novo Nordisk que já está disponível no país desde 2016.
O Olire foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro do ano passado. No entanto, a EMS não podia comercializar o produto até que a patente da liraglutida expirasse, o que aconteceu em março deste ano.
A partir de agora, o similar pode chegar às farmácias, assim como outros laboratórios podem criar versões similares ou genéricas da substância.
A liraglutida pertence à mesma classe de medicamentos da semaglutida, do Ozempic e do Wegovy, e da tirzepatida, do Mounjaro. Porém, é uma molécula mais antiga, com uma eficácia menor no tratamento da obesidade por não levar a uma perda de peso tão expressiva.
Para quem é indicada?
No Brasil, a liraglutida é aprovada para tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade a partir dos 12 anos. No caso do peso, é indicada para pessoas com índice de massa corporal (IMC) de 30 kg/m² ou mais (obesidade) ou entre 27 e 30 kg/m² (sobrepeso), mas com problemas de saúde relacionados ao peso, como pressão alta ou pré-diabetes. O tratamento envolve injeções diárias.
Quais os valores?
Além do Olire, para obesidade, a farmacêutica também vai lançar no mercado brasileiro o Lirux, que é a liraglutida na dosagem indicada para o tratamento do diabetes tipo 2. O Lirux é um similar do Victoza, da Novo Nordisk.
No primeiro momento, a farmacêutica disponibilizou 100 mil canetas de Olire e 50 mil de Lirux para as redes de farmácia Raia, Drogasil, Drogaria São Paulo e Pacheco. Segundo a EMS, a venda começará em unidades das regiões Sul e Sudeste, com expansão gradual para o resto do país ao longo de agosto.
Os remédios terão preços sugeridos a partir de R$ 307,26 (embalagem com 1 caneta), R$ 507,07 (Lirux com 2 canetas) e R$ 760,61 (Olire com 3 canetas). O tempo de duração de uma caneta depende da dose diária de liraglutida indicada.
Cada caneta contém 3 ml com uma concentração de 6 mg de liraglutida por ml. Isso quer dizer que uma caneta tem, ao todo, 18 mg, e a caixa, 54 mg. Na dose máxima para obesidade (3 mg), a caixa com três canetas é suficiente para 18 dias de tratamento.
Enquanto a legislação brasileira obriga uma redução de pelo menos 35% do preço entre genéricos, não há uma regra parecida no caso dos similares. Porém, a EMS disse que comercializaria o Olire com preços entre 10% a 20% abaixo do Saxenda, o remédio de referência.
Para comparação, o preço sugerido da caixa com a quantidade suficiente para um mês de tratamento com a dose máxima do Wegovy, de 2,4 mg, é de R$ 1.699,00 online com o desconto da farmacêutica. Já o do Ozempic, com dose de 1 mg, R$ 999,00.
No caso do Mounjaro, a dose vai até 15 mg, porém só estão disponíveis no Brasil versões de até 5 mg por enquanto. O preço da caixa, que também rende um mês de tratamento, é de R$ 1.759,64 como parte do e-commerce Lilly Melhor Para Você, um programa gratuito de suporte ao paciente da farmacêutica.
Qual a eficácia?
Nos estudos clínicos conduzidos pela Novo Nordisk, que desenvolveu a molécula, a liraglutida na maior dosagem, de 3mg diários, levou a uma perda de peso de, em média, 8% após um tratamento de 56 semanas (pouco mais de um ano), segundo o teste SCALE, publicado na revista científica New England Journal of Medicine.
Ao todo, 63,2 % dos participantes perderam 5% ou mais do peso; 33,1 % perderam 10% ou mais e 14,4 % alcançaram uma redução de 15% ou mais do número da balança.
A farmacêutica brasileira espera produzir 200 mil canetas de ambos os medicamentos ainda neste ano e, em 12 meses, disponibilizar mais de 500 mil unidades no Brasil. As unidades são produzidas em uma nova fábrica da EMS em Hortolândia, São Paulo, inaugurada no ano passado com capacidade para produzir dezenas de milhões de canetas injetáveis por ano.
O laboratório planeja não apenas atender o mercado nacional, como exportar os remédios para outros países, como Estados Unidos e nações europeias, ainda neste ano. Para o ano que vem, o objetivo da EMS é lançar também um similar da semalgutida, princípio ativo do Ozempic e do Wegovy.
A molécula leva a uma perda de peso maior, que chega a 17,4% após 68 semanas, segundo os estudos clínicos. Além disso, é uma injeção semanal, e não diária, o que facilita a adesão ao tratamento.
A patente da semaglutida expira em março de 2026 no Brasil, embora a Novo Nordisk tente ampliar o prazo na Justiça. Caso a previsão se mantenha, já no ano que vem versões similares e genéricas do medicamento poderão estar disponíveis nas farmácias do país.
As substâncias fazem parte da nova classe de medicamentos chamada análogos de GLP-1, que simulam um hormônio de mesmo nome no corpo. Há receptores dele em diferentes locais: no pâncreas, por exemplo, essa interação aumenta a produção de insulina, motivo pelo qual os remédios são usados para diabetes.
Já no estômago, o GLP-1 reduz a velocidade da digestão da comida e, no cérebro, ativa a sensação de saciedade. Com isso, a pessoa sente menos fome e, consequentemente, reduz as calorias ingeridas por dia e perde peso. Outro famoso análogo do GLP-1 é o Mounjaro, cujo princípio ativo é a tirzepatida, da Eli Lilly.
JORNAL O GLOBO
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