Tabaco está por trás dos tumores mais prevalentes no mundo todo; impacto social e econômico relacionado às doenças poderia ser evitado
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Do total de mortes por câncer, quase um terço delas – 30% – são relacionadas ao cigarro, revela um estudo que acaba de ser divulgado pela Sociedade Americana do Câncer.
Os autores chegaram a esse número após analisar dados de 123 mil mortes por tumores em 2019 nos Estados Unidos. Além disso, constataram uma redução de mais de dois milhões de anos de vida pela queda na expectativa de vida de todos os pacientes. A perda precoce de pessoas em idade ativa, ou a incapacidade delas, gera um impacto econômico de 21 bilhões de dólares a cada ano.
“O dado não nos surpreende porque a gente sabe que o cigarro é o principal fator de risco para os tumores mais prevalentes”, diz a pneumologista Luiza Helena Degani Costa, do Hospital Israelita Albert Einstein.
A pesquisa aponta o impacto do tabagismo na sociedade, com um alto custo emocional, social e econômico. Para isso, os pesquisadores avaliaram as mortes por tumores sabidamente associados ao cigarro: cavidade oral, faringe, esôfago, estômago, cólon, fígado, pâncreas, pulmão, bexiga e até leucemia mieloide aguda, entre outros.
Embora o tabagismo venha caindo de forma geral, ainda há mais de um bilhão de fumantes no mundo. O cigarro é responsável por mais de sete milhões de mortes a cada ano em todo o planeta, segundo dados de um outro estudo recente publicado no periódico Lancet, que mapeou o impacto do tabagismo em mais de 200 países ao longo de quase 30 anos.
Graças a essas medidas, a taxa de fumantes brasileiros despencou cerca de 70% nas últimas três décadas e é praticamente a metade do índice nos Estados Unidos, onde a queda foi de 30% no mesmo período. Lá, em torno de 15% das mulheres e 20% dos homens fumam. Aqui esses números estão por volta de 7% e 11%, respectivamente.
Cigarro eletrônico
Apesar dos dados otimistas do Brasil, o cigarro ainda mata 160 mil brasileiros todos os anos, e o impacto econômico anual chega a 57 bilhões de reais. “Agora, vemos o crescimento muito grande do consumo do cigarro eletrônico”, lamenta a pneumologista.
De fato, embora seja proibido desde 2009, o uso no país vem crescendo de forma significativa.
“Sabe-se que ele também vicia e está relacionado a doenças como asma, DPOC e já há indícios de associação com problemas cardiovasculares”, diz a especialista. Por ser um produto relativamente novo, só a longo prazo poderemos constatar outros prejuízos associados às substâncias cancerígenas que ele possui, por exemplo.
“Além de manter a campanha contra o cigarro tradicional, agora precisamos acender o alerta também contra os eletrônicos”, enfatiza Luiza. Do contrário, não conseguiremos reduzir essas mortes no futuro – e pior, poderíamos voltar à estaca zero.