Virando de um lado para o outro em noites sufocantes de verão? Você não está sozinho.
À medida que as temperaturas aumentam devido às mudanças climáticas, nosso sono está se tornando mais curto e interrompido.
Mas não é só o calor que nos mantém acordados – as mudanças climáticas criam vários desafios para nosso descanso noturno, o que pode estar afetando nossa saúde.
O que acontece quando não dormimos o suficiente?
O sono não é apenas descanso – é vital para nossa saúde.
Os adultos precisam de pelo menos sete horas por noite para manter a função cognitiva, a memória e o equilíbrio emocional. O sono ruim impacta imediatamente o humor e a atenção, enquanto problemas crônicos de sono aumentam o risco de diabetes, obesidade, depressão, doenças cardíacas e podem levar até à morte prematura.
Como as mudanças climáticas estão afetando nosso sono?
1. As temperaturas noturnas estão aumentando
Nosso ritmo circadiano – aquele relógio biológico interno – exige que nossa temperatura corporal interna diminua à noite para um sono de qualidade. A temperatura ideal do quarto para dormir varia entre 15°C e 19°C.
O aumento das temperaturas externas dificulta essa regulação, especialmente para aqueles sem ar-condicionado. Paradoxalmente, o uso generalizado de ar-condicionado contribui ainda mais para as mudanças climáticas, pois consome energia proveniente de combustíveis fósseis, gerando emissões.
Pesquisas mostram que o impacto no nosso sono já pode ser sentido. Nosso estudo de 2023 com 375 adultos australianos descobriu que as pessoas perderam 12 minutos de sono por noite nas noites mais quentes em comparação com as mais frias (31°C vs. 0,4°C de temperatura noturna ao longo do ano).
Globalmente, cientistas preveem que poderemos perder de 50 a 58 horas de sono por ano, por pessoa, até o fim do século, caso o aquecimento continue sem controle. Essa é uma das formas como as mudanças climáticas agravam as desigualdades geográficas.
2. As mudanças climáticas estão piorando a poluição do ar
Condições quentes e secas tendem a agravar a poluição do ar. À medida que as mudanças climáticas aumentam o número de dias quentes e a frequência das ondas de calor, os incêndios florestais se tornarão mais comuns. Isso adiciona mais uma fonte de poluição do ar, aumentando a emissão de gases de efeito estufa e partículas suspensas.
A poluição do ar está associada a piora da saúde, aumento do risco de doenças crônicas e morte precoce.
Ela também afeta nosso sono, causando problemas respiratórios, inflamação e, possivelmente, prejudicando a capacidade do nosso sistema nervoso de regular o sono.
No inverno, a queima de madeira para aquecimento residencial adiciona mais uma fonte de emissões prejudiciais ao clima. A poluição do ar causada por fogueiras e lareiras agrava doenças respiratórias como asma, bronquite e doença pulmonar obstrutiva crônica, comprometendo ainda mais o sono
3. Os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e severos
Seja incêndios florestais, ondas de calor, enchentes ou ciclones, os eventos climáticos extremos estão se tornando mais comuns e intensos.
Com esses eventos extremos, vem o caos generalizado nas comunidades afetadas. Desde deslocamento em massa da população até a perda de moradia, segurança e recursos essenciais, o sono se torna uma preocupação secundária quando se enfrenta desastres naturais.
No entanto, distúrbios do sono são comuns após esses eventos extremos. Uma revisão de pesquisas globais sobre sobreviventes de incêndios florestais descobriu que dois terços relataram insônia e mais de um terço teve pesadelos. Esses efeitos persistiram por até 10 meses após o desastre.
4. A ansiedade climática está aumentando
Mesmo que você não tenha vivenciado diretamente um evento climático extremo, o fluxo constante de catástrofes climáticas na mídia pode desencadear o que os psicólogos chamam de “ansiedade climática” – um temor existencial que mantém as pessoas acordadas.
Pesquisas confirmam que essas preocupações com o clima estão associadas a distúrbios do sono, incluindo dificuldade para adormecer, insônia e despertares frequentes. Isso ocorre em todas as faixas etárias, afetando tanto jovens quanto adultos mais velhos.
Se preocupações relacionadas ao clima ou problemas contínuos de sono estiverem afetando significativamente sua vida, considere consultar um médico ou psicólogo.
Dicas para dormir bem em noites quentes
Felizmente, há algumas medidas simples que você pode tomar para aumentar suas chances de ter uma boa noite de sono. Elas custam pouco ou nada e exigem apenas um pequeno planejamento antes de dormir.
Aqui estão algumas dicas para dormir bem, apesar da temperatura:
Para o ambiente:
- Durma no cômodo mais fresco da casa (que pode não ser o quarto).
- Mantenha as cortinas fechadas durante o dia para evitar o aquecimento pelo sol.
- Use um ventilador – o fluxo de ar pode reduzir a sensação térmica (ajudando o suor a evaporar mais rápido) sem necessariamente resfriar o ambiente.
- Escolha roupas de cama leves e respiráveis (fibras naturais são as melhores).
- Se a temperatura externa cair à noite, abra as janelas para estimular a circulação do ar.
Para o corpo:
- Tome um banho frio antes de dormir para ajudar a reduzir a temperatura corporal.
- O horário do exercício é importante: prefira se exercitar no início do dia.
- Use roupas leves de fibras naturais.
- Tenha uma toalha úmida ou um borrifador de água ao lado da cama para refrescar a pele.
- Mantenha-se hidratado, mas evite refeições pesadas antes de dormir.
À medida que nos adaptamos às mudanças climáticas, garantir uma boa noite de sono deve ser uma prioridade para nossa saúde.
Com alguns ajustes práticos no nosso ambiente e hábitos, podemos nos adaptar a essas mudanças enquanto defendemos soluções climáticas mais amplas que, no fim das contas, nos ajudarão a dormir melhor.
* Ty Ferguson é pesquisador na Universidade do Sul da Austrália
* Carol Maher é professora de exercício, nutrição e atividade na Universidade do Sul da Austrália
* Este artigo foi republicado de The Conversation sob licença Creative Commons. Leia o original.