Saiba como aproveitar o conhecimento sobre a formação do cérebro para se comunicar com mais chances de sucesso com pré-adolescentes e adolescentes
Você se sente frustrado com o egocentrismo do adolescente, o ultrapassar dos limites e as decisões questionáveis que parecem surgir do nada, um afastamento dramático dos agradáveis anos do ensino fundamental?
Essas são queixas comuns dos pais, mas que contam com explicações sobre o desenvolvimento. Os cérebros dos adolescentes mudam rapidamente e ainda não estão totalmente desenvolvidos. A boa notícia é que os pais podem aproveitar a compreensão desse desenvolvimento para se comunicarem com mais chances de sucesso.
Também é importante não fazer suposições devido à pandemia. Muitas famílias temem que a pandemia tenha alterado a trajetória de vida de seus filhos ou tenha causado dificuldades emocionais que terão um impacto duradouro, observou Lisa Damour, psicóloga e autora de “Untangled: Guiding Teenage Girls Through the Seven Transitions into Adulthood” (Desemaranhado: guiando meninas adolescentes através das sete transições para a vida adulta, em tradução livre) e “Under Pressure: Confronting the Epidemic of Stress and Anxiety in Girls” (“Sob pressão: enfrentando a epidemia de estresse e ansiedade em meninas”).
“Na maioria das vezes, esse não é o caso”, disse Damour. “Na maioria das vezes, tem sido um período realmente difícil de tristeza, angústia e ansiedade, que tem sido duro de aceitar porque já se prolongou por muito tempo e ainda não chegou ao fim”.
Diante da incerteza contínua, é ainda mais importante compreender as realidades do desenvolvimento do cérebro do adolescente. Aqui estão cinco maneiras de apoiar pré-adolescentes e adolescentes de modo a realizar uma conexão com onde eles estão em termos de desenvolvimento.
1. Abrace a repetição
Os cérebros dos adolescentes continuarão a se desenvolver pelos seus 20 e poucos anos e, embora isso possa parecer uma notícia desanimadora, é uma coisa boa, compartilhou Tina Payne Bryson, psicoterapeuta e co-autora de “O Cérebro da Criança” e “O cérebro que diz sim: Como criar filhos corajosos, curiosos e resilientes” (disponíveis em português). “Temos uma longa janela para impactar a forma como o cérebro adulto é conectado”.
Como os anos da adolescência seguem os primeiros três anos da vida em termos de plasticidade cerebral, é uma janela onde experiências e oportunidades repetidas de ensino e desenvolvimento de habilidades são muito importantes, disse Bryson por e-mail. “Tenha um propósito, especialmente sobre o tipo de experiências relacionais de qualidade que eles têm com adultos que fornecem apoio positivo”.
Dada a importância da repetição ao longo do tempo, Bryson também recomendou não julgar os adolescentes com base no que acontece em um dia, semana ou mês. Em vez disso, pense em seu progresso ao longo do tempo e considere: “Eles estão mais maduros e responsáveis do que há seis meses?”
2. Valide sentimentos em vez de minimizar ou criticar
Os adolescentes experimentam emoções com mais intensidade do que os adultos, o que representa um desafio em situações de grande carga emocional.
“Os adolescentes têm cérebros desajeitados”, disse Damour. “O centro de emoção é atualizado e torna-se mais poderoso antes que seu sistema de manutenção de perspectiva evolua e possa acompanhar. Emocionalmente, eles podem ser totalmente acelerados e sem freios ou seus freios podem falhar”.
Diante de grandes sentimentos, mantenha a calma, permita que eles aquietem suas emoções intensas e validem seus sentimentos. “Quando as emoções diminuem, os sistemas de manutenção da perspectiva voltam a funcionar”, disse Damour.
Em vez de minimizar ou invalidar sentimentos, Damour propõe comentários afirmativos, como “Vejo que você está com raiva”, seguido de empatia. Ela observou que quando a tempestade de emoções começa a se acalmar, a mente racional do adolescente ganha vantagem.
Validar as respostas também é importante para o desenvolvimento do cérebro e a comunicação futura. “Quando os adolescentes compartilham seus pensamentos e sentimentos conosco, o que às vezes soa como crítica, reclamação ou grito, se respondemos de maneira que os faz sentir menosprezados, minimizados ou criticados, seus cérebros fazem associações negativas no que diz respeito ao compartilhamento conosco, então eles recuam e não vamos conseguir ouvir como eles se sentem e o que pensam”, disse Bryson.
3. Alimente o mecanismo da busca por recompensa
Os cérebros dos adolescentes são programados para buscar novas experiências e recompensas. Talib recomenda que os pais participem do processo, realizando feedbacks positivos ou oferecendo recompensas.
“Isso pode significar apontar os pontos fortes deles, distribuir elogios específicos e compreender que, ao assumir riscos e tentar coisas novas, os adolescentes ajustam quais experiências valem a pena”, disse Talib.
Talib observa que uma abordagem positiva dos pais pode ter efeitos de longo prazo. “Seja a voz da recompensa, aquela que os faz se sentir bem consigo mesmos, e eles poderão ouvir suas palavras reverberarem em suas mentes por toda a vida”.
4. Continue presente, mesmo quando for difícil
Um desafio dos pais de adolescentes é que os momentos difíceis são quando os pais podem ficar reativos e responder de maneiras que afastam seus filhos, enquanto esses mesmos momentos são quando os filhos mais precisam saber que os pais estão ao seu lado, explicou Bryson.
“Às vezes, eles terão a capacidade de ser maduros e lidar com a situação e consigo mesmo bem, e outras vezes não”, disse Bryson. “Haverá momentos em que eles precisarão de mais aconselhamento, apoio e ajuda, e outras vezes não. O que eles mais necessitam é que estejamos presentes quando precisarem”.
5. Dê apoio aos padrões de sono do adolescente
O sono é outro campo de batalha comum para pais e adolescentes, mas as mudanças nos padrões de sono de pré-adolescentes e adolescentes são normais. Talib observou que os humanos têm um ritmo biológico circadiano que libera naturalmente a melatonina, o hormônio do sono, e que adolescentes a partir dos 11 anos experimentam uma mudança normal neste ritmo. Com isso, a liberação de melatonina se traduz em uma a duas horas e um momento natural de dormir perto das 23h.
“Em um mundo ideal, os adolescentes teriam de 8 a 10 horas de sono todas as noites, que é o ponto ideal para o desenvolvimento e evolução ideal do cérebro. Mas, na realidade, vemos que 3 em cada 4 adolescentes são essencialmente privados de sono de forma crônica”, disse Talib.
Ela recomenda que os pais apoiem o sono dos adolescentes estimulando que eles durmam e acordem na mesma hora diariamente. Além de evitar cochilos depois das 15h e tirar as telas do quarto uma hora antes de dormir. “O presente de um despertador antigo para ajudar a tirar os telefones do quarto à noite é talvez o melhor de todos para um adolescente”, disse Talib.
Quando se trata de criar adolescentes de uma forma que se alinhe com o desenvolvimento do seu cérebro, uma grande peça do quebra-cabeça para os pais é ajustar a mentalidade e as expectativas. Damour disse que é comum os pais presumirem que algo está errado quando veem o filho em perigo. “Dadas as condições nos últimos 18 meses, todo adolescente deveria estar chateado”, disse Damour.
Damour observou que, se os pais enfrentam esse transtorno com uma mentalidade de “faça isso parar” ou “algo está errado”, isso não ajudará os jovens a se sentirem melhor. “Se, em vez disso, eles caminharem ao encontro dos adolescentes com validação e empatia, estarão trabalhando com a realidade como ela é e com quase todas as probabilidades de dar aos adolescentes o que eles precisam e merecem”.
Christine Koh é uma ex-cientista da música e do cérebro que se tornou escritora, podcaster e diretora de criação.
Textro traduzido, leia o original em inglês.