5 sinais de alerta do câncer de esôfago que não podem ser ignorados


Fortemente associados com tabagismo, consumo excessivo de álcool e alimentação rica em ultraprocessados, os tumores no esôfago podem ser prevenidos ou diagnosticados mais cedo a partir da atenção  com sinais como dificuldade para engolir, perda de peso inexplicável, queimação no peito, rouquidão e indigestão frequente 

Abril é o mês da campanha Abril Azul Claro, de conscientização sobre o câncer de esôfago, um tumor que tem como principais fatores de risco o tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade e refluxo gastroesofágico. No Brasil, são esperados 10.990 novos casos em 2025, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA), sendo três vezes mais comum em homens comparado com as mulheres. Em âmbito mundial, de acordo com a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS) há pouco mais do dobro de número de casos entre os homens: 366 mil entre eles e 145 mil novos casos anuais entre as mulheres.

Conhecido também por sintomas inespecíficos e que podem ser confundidos com outras condições gastrointestinais, os sinais do câncer de esôfago geralmente são percebidos apenas em estágios avançados da doença. “Devido à progressão silenciosa da doença, é fundamental estar atento a esses sinais e procurar avaliação médica ao menor indício de sintomas persistentes”, é o que o diz o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e diretor do Hospital de Base, de Brasília.

Nos Estados Unidos, apenas 18% dos casos são diagnosticados no estágio inicial, quando a doença está localizada (restrita ao esôfago). Nestes casos, em que há diagnóstico precoce de câncer de esôfago, a sobrevida em cinco anos é de 48,1%, mais do que o dobro de chances de sucesso no tratamento quando comparado com a população em geral com diagnóstico desta doença. “Aumentar as taxas de diagnóstico precoce é a principal medida para redução da mortalidade por câncer de esôfago”, afirma o presidente da SBCO. Um alerta importante é que, ainda segundo o NCI, quatro entre dez casos de câncer de esôfago são diagnosticados já com a ocorrência de metástase. Para antecipar o diagnóstico é importante estar atento aos sinais de alerta. Confira 5 sinais do tumor que, se estiverem presentes, não devem ser ignorados:

  1. Dificuldade para engolir (disfagia) – Os alimentos sólidos são os primeiros a se tornarem difíceis de engolir e, com o tempo, até líquidos podem se tornar um desafio.
  2. Perda de peso inexplicável – Quando a perda de peso não tem uma causa aparente é importante investigar. A causa pode ser a dificuldade de se alimentar devido ao impacto da doença no metabolismo.
  3. Dor, pressão ou queimação no peito – Os pacientes podem apresentar sensação de dor no tórax, semelhante à azia ou desconforto ao engolir.
  4. Rouquidão ou tosse persistente – As alterações na voz ou tosse que não melhora, podem ser sinais relacionados ao tumor.
  5. Indigestão ou azia frequente – Sintomas parecidos com refluxo e gastrite podem ser sinais de alerta, principalmente em pessoas com fatores de risco.

O diagnóstico do câncer de esôfago pode ser feito por meio de uma biópsia, geralmente durante um exame de endoscopia digestiva alta. Outros exames de imagem como tomografia computadorizada (TC) e ressonância magnética (RM) podem ser solicitados para avaliar a extensão do tumor.

OS FATORES DE RISCO – Assim como outros tipos de câncer, o câncer de esôfago ocorre quando as células sofrem alterações no DNA, levando à multiplicação descontrolada de células malignas. No caso específico do câncer de esôfago, as evidências associam o surgimento da doença à irritação crônica deste órgão, a partir de causas como tabagismo, obesidade, etilismo, hábito de consumir bebidas líquidas em altas temperaturas, alto consumo de ultraprocessados e baixo consumo de frutas e vegetais. Outros fatores de risco são a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) e histórico de alterações pré-cancerosas nas células do esôfago (esôfago de Barrett). Deve haver atenção especial também por parte das pessoas submetidas a tratamento de radiação no tórax ou na parte superior do abdômen.

Segundo projeção do IARC/OMS para o ano de 2050 o número de casos anuais de câncer de esôfago pode saltar dos atuais 511 mil para 922 mil em 2050, um aumento de 80%. De acordo com Rodrigo Nascimento Pinheiro, o tumores no esôfago poderiam ser evitados. “O câncer é uma doença multifatorial, ou seja, diversos elementos contribuem para seu surgimento, como fatores genéticos hereditários, hábitos de vida e condições clínicas pré-existentes. Por isso, a prevenção pode ser um caminho importante para reduzirmos esses números”. Alerta o especialista, que ainda ressalta um alerta sobre os males do tabagismo. “A indústria do tabaco busca constantemente atingir a população mais jovem. Primeiro vieram os cigarros saborizados e mentolados, e depois os dispositivos eletrônicos, como o vape, que podem ser ainda mais prejudiciais do que o próprio cigarro tradicional”, alerta o especialista.

Tratamento e cirurgia – Este tumor apresenta dois subtipos mais comuns: o carcinoma escamocelular, também conhecido como carcinoma de células escamosas e o adenocarcinoma.. Juntos, eles representam mais de 90% dos casos. O tratamento cirúrgico para pacientes com câncer de esôfago consiste na realização de esofagectomia, que é a remoção total ou parcial do tumor, com margem de segurança (área adjacente com tecido normal). Em alguns casos, pode haver a indicação de sessões de radioterapia ou quimioterapia (terapias neoadjuvantes, ou seja, antes da cirurgia).

“As diferentes formas de cirurgia podem ser realizadas tanto por via aberta/convencional ou de maneira minimamente invasiva. Porém, quando se emprega a minimamente invasiva – por endoscopia ou laparoscopia, as incisões são bem menores, resultando em menor risco de sangramento, menos dor e mais rápida recuperação”, destaca Pinheiro.

Cirurgia, fase de diagnóstico e sobrevida em cinco anos – A escolha da terapêutica mais adequada para tratar o câncer de esôfago se baseia no estadiamento (fase em que a doença é diagnosticada, que vai de 0 a IV) e nas condições de saúde geral do paciente. A cirurgia costuma ser indicada para portadores de tumores em estágios iniciais e tem objetivo curativo. Para tumores em estágio 0 ou I (iniciais) pode-se recomendar a remoção do tumor por esofagectomia ou via ressecção (retirada) endoscópica da mucosa.

Dependendo das características, pode-se indicar, ainda, quimioterapia e radioterapia (prévias ou posteriores ao procedimento). Para tumores em estágios II e III, quando houve disseminação para linfonodos e para órgãos próximos, geralmente, indica-se a quimioterapia associada com radioterapia, seguida de cirurgia. Mas, em caso de tumores pequenos, pode-se realizar o tratamento cirúrgico isolado.

Já para tumores em estágio IV, com metástases à distância, busca-se aliviar os sintomas e retardar a progressão da doença com tratamentos não cirúrgicos. Em estágios muito avançados é possível indicar um procedimento cirúrgico com intuito paliativo, visando melhorar a qualidade de vida do paciente. É o caso, por exemplo, da cirurgia para colocação de sonda de alimentação.

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