O termo “grupo de risco” se popularizou durante a pandemia de Covid-19 para se referir àqueles que têm maior risco de desenvolver a forma grave da doença causada pelo coronavírus Sars-CoV-2. Mas o conceito vale também para outras enfermidades infectocontagiosas, como hepatites e tétano, contra as quais já existem vacinas há muito tempo e cuja probabilidade de contaminação é maior em indivíduos com condições que comprometem seu sistema imunológico.
Menos da metade da população brasileira sabe que essas pessoas — que vivem com HIV, hipertensão ou estão em tratamento oncológico, por exemplo — têm direito a um calendário de vacinação ampliado que é oferecido nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) do Sistema Único de Saúde (SUS). Cerca de 60% dos brasileiros desconhecem o serviço, enquanto 76% sequer ouviram falar nos CRIEs.
Os dados são do estudo Pacientes de risco: o conhecimento da população sobre os CRIE e o calendário de vacinação, realizado pela empresa Inteligência em Pesquisa e Consultoria (Ipec). Os resultados foram divulgados nesta terça-feira (17) durante coletiva de imprensa virtual para o lançamento da campanha CRIE Mais Proteção, iniciativa da farmacêutica Pfizer que tem apoio da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Foram ouvidas 2 mil pessoas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Salvador e Curitiba na pesquisa, que tem nível de confiança de 95% e margem de erro de dois pontos para mais ou menos.
Antes de perguntar sobre vacinação, o levantamento investigou — e encontrou lacunas sobre — o conhecimento das pessoas em geral sobre as condições de risco mais prevalentes. Para 31% da população, pacientes com câncer não constituem um grupo de risco, número que sobe para 34% e 40% em relação ao diabetes e pessoas que vivem com HIV, respectivamente. Para sanar qualquer dúvida: na verdade, sim, esses pacientes estão mais suscetíveis a desenvolver quadros graves de doenças infectocontagiosas.
Já entre os que são de fato portadores de doenças crônicas, a falta de informação sobre a imunização se deve inclusive ao atendimento médico: 68% dos adultos diagnosticados ou em tratamento para alguma destas enfermidades não receberam recomendações de profissionais da saúde a respeito de vacinação. “Esse último dado chama atenção, pois a equipe de saúde é envolvida no atendimento e no tratamento de quem faz parte do grupo de risco e pode impactar positivamente os índices de vacinação”, defende Márjori Dulcine, diretora médica da Pfizer Brasil, em comunicado.
Para Ana Paula Borian, infectologista e médica do CRIE de Vitória, no Espírito Santo, a Covid-19 recolocou a imunização em pauta, o que pode ser observado pelo aumento de buscas pela palavra ‘vacina’ na internet. Mas ainda há trabalho pela frente. “Precisamos divulgar muito a importância das vacinas de rotina e os CRIEs e criar mais proteção, que é o objetivo dessa campanha.”
Criado em 1993, o serviço conta com 53 unidades pelo Brasil que disponibilizam imunobiológicos contra infecções como meningite e pneumonia pneumocócica. Além da população de risco, podem ser contemplados também seus familiares. Como as pessoas com sistema imunológico comprometido podem não produzir uma uma resposta tão efetiva contra patógenos ou são impedidas de receber vacinas “vivas” — contendo o vírus atenuado —, é importante conscientizar o restante da sociedade para alcançar uma proteção coletiva. Em cada CRIE, são oferecidos 47 tipos de imunizantes, incluindo vacinas, soros e imunoglobulinas.
Além de confiar na vacina, é preciso se informar
Em meio a um contexto de queda nas taxas de imunização básica, justificada pela falta de informação, disseminação de fake news e a (falsa) sensação de que doenças como sarampo foram erradicadas, aumenta-se a hesitação contrária às vacinas. Se, em 2019, 19% das crianças brasileiras de até 1 ano de idade ficaram com a vacinação atrasada, em 2020 essa taxa cresceu para 28%, segundo o Ministério da Saúde.
Apesar disso, a pesquisa da Ipec traz bons números sobre a confiança das pessoas em imunizantes, com 91% dos entrevistados tendo afirmado que eles salvam vidas. Por outro lado, 32% deles não sabem que pessoas imunossuprimidas devem ser vacinadas e 21% sentem algum tipo de receio com as doses.
A relação entre médico e paciente também foi abordada pelo estudo, revelando que 52% dos brasileiros se sentem à vontade para questionar o profissional de saúde, mas um em cada três não tira suas dúvidas — acabam buscando na internet ou preferem confiar que as orientações médicas serão suficientes.
Para Jussara Del Moral não foi bem assim. Paciente oncológica desde 2007, ela conta que, até chegar a pandemia da Covid-19, a vacinação não era um assunto frequente nos consultórios em que esteve. Hoje com câncer em estado de metástase, ela compartilha nas redes sociais sua experiência em manter a qualidade de vida e, mais recentemente, incentiva que as pessoas do grupo de risco mantenham suas cadernetas em dia. “Informação é poder e eu estou cada vez mais convencida disso”, disse Del Moral no evento.
REVISTA GALILEU