Impacto da má alimentação para o leite materno pode começar antes mesmo da gravidez.
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, conduziram um estudo inicial com animais e investigaram o efeito de uma alimentação rica em açúcar e gordura, similar ao fast food, durante as três semanas pré-gestação. Os resultados apontaram uma alteração na composição proteica do leite das cobaias, mesmo que o consumo tenha ocorrido pouco antes da gravidez.
“Sabe-se que a composição do leite humano é influenciada pela alimentação da mãe durante a lactação. Este estudo demonstrou alterações na composição das proteínas. Porém, em humanos, os estudos anteriores relacionam alimentação materna principalmente com alterações nos componentes lipídicos do leite materno e não na composição das proteínas”, explica a nutricionista Vanessa Ramis Figueira, do Banco de Leite do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Mais estudos são necessários para confirmar esta alteração também em humanos”, complementa. De fato, pesquisas mostram que a ingestão materna, principalmente, de ácidos graxos e alguns micronutrientes, incluindo vitaminas como B e C e cálcio, está diretamente relacionada à composição do leite da amamentação.
Além disso, a boa alimentação é essencial para mãe e filho em todas as etapas da vida. Enquanto apenas 20% dos nossos genes são influenciados por fatores hereditários, os outros 80% sofrem o efeito do estilo de vida.
“Por isso, pesquisas sugerem que a nutrição no período da gestação e nos primeiros 5 anos pode determinar efeitos na saúde e no bem-estar a longo prazo, até a idade adulta. É a chamada programação metabólica, compreendendo os primeiros 2.200 dias de vida”, explica Vanessa.
A Academia Americana de Nutrição e Dietética recomenda que as mulheres em idade fértil, grávidas ou não, adotem um estilo de vida saudável como um todo, incluindo dieta, atividade física e ganho de peso adequado na gravidez.
Para a mãe, é uma forma de reduzir o risco de doenças metabólicas, cardiovasculares, diabetes, parto prematuro, complicações relacionadas à obesidade, pré-eclâmpsia e hipertensão gestacional, além de suprir as reservas necessárias ao parto e pós-parto, garantindo substrato para a lactação. Já para o bebê, significa uma chance menor de alterações no peso, de problemas crônicos de saúde, de aumento do risco de obesidade desde a infância e de comprometimentos neurocognitivos.
Não adianta manter o peso, mas comer mal. Para o bebê, o estado nutricional materno deficiente ou inadequado está associado a padrões anormais de desenvolvimento, incluindo baixo peso ao nascer ou restrição de crescimento fetal.
“A nutrição é considerada um fator de risco potencialmente modificável e, associada ao aleitamento materno, à correta introdução da alimentação complementar e à manutenção de bons hábitos alimentares. É requisito básico para o crescimento e desenvolvimento infantil adequados”, diz Vanessa.
O que não pode faltar no cardápio das mães:
Uma alimentação equilibrada na gestação e lactação deve incluir uma variedade de alimentos integrais e ricos em nutrientes, incluindo frutas, vegetais, legumes, grãos integrais, alimentos minimamente processados e gorduras saudáveis com ácidos graxos ômega-3, presentes nos peixes, conforme diretrizes internacionais e do Guia Alimentar de Gestantes do Ministério da Saúde.