Cientistas usaram dispositivos que contam passadas para avaliar efeito da caminhada contra obesidade, hipertensão, diabetes e depressão, entre outras doenças
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Caminhar entre oito e nove mil passos todos os dias protege contra uma série de doenças crônicas, como obesidade e depressão, segundo pesquisa inédita e recém-publicada na revista “Nature”.
Os médicos já sabiam que esse valor estava perto de dez mil, mas, agora, o número ficou mais preciso graças ao estudo, que monitorou pela primeira vez as passadas por meio de dispositivos como os smartwatches, relógios ligados a aplicativos. Os autores avaliaram uma gama maior de doenças – não só as mais tradicionais como as cardiovasculares – e por um longo período de tempo.
Como funcionou o estudo
Depois de acompanhar mais de 6 mil voluntários durante quatro anos, os pesquisadores constataram que, de forma geral, quanto maior a quantidade de passos e maior a intensidade, menor o risco de diversas doenças.
Aqueles que caminhavam mais todos os dias – próximo dos dez mil passos – tinham uma chance entre 24% e 52% menor de desenvolver diabetes, hipertensão e depressão em relação aos que mantinham uma média próxima a seis mil.
No entanto, os benefícios à saúde apareceram antes mesmo dos famosos dez mil: acima de 8.200 passos já cai o risco de desenvolver obesidade, apneia do sono, refluxo gastroesofágico e transtorno depressivo. Para essas doenças, quanto maior a quantidade de passos, maior a proteção. Mas atenção: se a meta é perder peso, é preciso andar um pouco além dos dez mil.
Por outro lado, os efeitos positivos contra hipertensão e diabetes atingiram seu pico em 8 mil e 9 mil passos, respectivamente. Acima disso não houve muita diferença.
Esses resultados estão alinhados com dois estudos que também acabam de ser publicados no periódico científico “Jama”. Ambos acompanharam mais de 70 mil pessoas e constataram menor risco de demência, câncer e doenças cardiovasculares em quem caminha cerca de dez mil passos.
Quanto e como se exercitar?
Ainda que até uma caminhada leve seja benéfica, a intensidade faz diferença.
“Para prevenir doenças crônicas, é preciso mais do que um passeio no parque”, diz o cardiologista pós-graduado em Medicina do Esporte Rodrigo Cardoso Porto, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Para garantir os bons resultados, não é obrigatório ter um dispositivo que ajude a contar passos. A recomendação atual da Organização Mundial da Saúde é praticar atividade física moderada de 150 a 300 minutos por semana, ou entre 75 e 150 minutos se a atividade for intensa.
“A vantagem é que pode-se dividir esse período e somar com outras atividades, como a caminhada para o trabalho ou pedalar”, lembra o médico. “Mas se o objetivo é o condicionamento físico, aí é preciso aumentar a intensidade praticando corrida, por exemplo”.