Necessidade de estar conectado 24 horas por dia e evitar atividades prazerosas em função do celular são sintomas comuns da síndrome
Apesar de ainda não ser oficialmente considerada um transtorno mental, a dependência em aparelhos celulares já é conhecida como nomofobia, que vem de “no mobile phone phobia”. O problema é característico de pessoas que se sentem incapazes de viver sem, a cada minuto, consultar o celular para checar as redes sociais e as últimas notícias.
Segundo Lala Fonseca, psicóloga e especialista em burnout e ansiedade, a fobia é causada pela praticidade do acesso à internet, pela quantidade de recursos oferecidos e pela portabilidade, ou seja, algo que pode acompanhar o tempo todo. Nesse sentido, existe um vício na sensação de não estar perdendo nada, além da dopamina liberada ao receber curtidas, respostas e mensagens das pessoas que estão distantes.
“No vício do celular, quando ficamos afastados do aparelho ou incomunicáveis, é comum desenvolver um extremo desconforto. A angústia é de intensidade extrema e provoca, inclusive, pensamentos catastróficos de que haverá uma emergência para justificar racionalmente tal necessidade”, explica Lala.
Problema é mais comum entre jovens
Com a expansão das mídias digitais e a superexposição que ocorre entre os jovens, a nomofobia é predominante nesse público — especialmente adolescentes e jovens adultos, conhecidos como “nativos digitais”.
Segundo uma pesquisa realizada pela SecurEnvoy em 2021, jovens adultos com idade entre 18 e 24 anos tendem a ser os mais viciados em seus telefones, com 77% dos entrevistados se autodeclarando incapazes de permanecer separados do celular por mais de alguns minutos. Entre os adultos de 25 a 34 anos, a taxa ainda é alta, mas cai para 68%.
Conforme aponta Lala, pessoas tímidas de baixa autoestima também têm uma tendência maior em decorrência do desconforto que sentem socialmente. “Estar por trás de uma tela permite você não se identificar ou, de uma certa forma, sentir menos vergonha em se posicionar do que de frente com uma pessoa real”, explica a especialista.
Como identificar a nomofobia?
Segundo Lala, um dos principais sinais em pacientes com quadro de nomofobia é a necessidade de estarem conectados 24 horas por dia. Ficar sem sinal pode indicar uma possível crise, em que a pessoa se sente angustiada por não estar ciente do que está acontecendo no mundo.
Quando fora de casa, o paciente está sempre com baterias, carregadores e aparelhos extra, para não correr o risco de se desconectar. Além disso, a nomofobia provoca a diminuição da produtividade, devido às distrações causadas por mensagens ou atualizações do universo digital.
Outros comportamentos também podem se manifestar, tais como:
- Acordar no meio da noite para ver notificações;
- Sentir um desconforto acentuado em não ver e-mail, mensagens instantâneas e rede social por 15 minutos ou mais;
- Evitar atividades prazerosas e vida social para ficar no celular;
- Dormir com o celular embaixo do travesseiro;
- Checar a bateria a todo momento;
- Incapacidade de ir ao banheiro sem levar o telefone.
Quais os sintomas da nomofobia?
Além da total dependência dos aparelhos móveis, pacientes com nomofobia apresentam sintomas físicos e emocionais. Entre os sinais físicos, Lala destaca:
- Suor nas extremidades;
- Taquicardia;
- Falta de ar;
- Tontura;
- Tremores;
- Enjoos;
- Dor no peito;
- Dor de cabeça.
Já os sintomas emocionais incluem:
- Medo;
- Paralisação;
- Angústia e ansiedade acentuadas;
- Irritabilidade;
- Tristeza;
- Isolamento;
- Pensamentos catastróficos;
- Solidão;
- Depressão.
Diagnóstico da nomofobia
O diagnóstico da síndrome deve ser realizado por um psiquiatra, que analisará os critérios relacionados no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) para identificar as causas e sua relação com outras questões do paciente, como autoestima, timidez e fobia social — além de quadros como depressão e ansiedade.
Há diversos critérios usados no DSM para descrever os sintomas da patologia, segundo Lala. São eles:
- Preocupação excessiva com a internet;
- Necessitar aumentar o tempo conectado para ter a mesma satisfação;
- Exibir esforços repetidos para diminuir o tempo de uso da internet;
- Apresentar irritabilidade e/ou depressão;
- Quando o uso da internet é restringido, apresentar labilidade emocional (internet como forma de regulação emocional);
- Permanecer conectado mais tempo do que o programado;
- Ter o trabalho e as relações sociais em risco pelo uso excessivo;
- Mentir sobre a quantidade de horas conectadas.
Como é feito o tratamento da nomofobia?
O tratamento de nomofobia é feito através da terapia comportamental, tanto por meio de questionamentos em relação ao uso do celular quanto trabalhando o motivo pelo qual é confortável interagir digitalmente.
Segundo Lala, muitas vezes é utilizada uma técnica de exposição à ausência do celular (método chamado de detox digital), além de uma dessensibilização sistemática para aprender a relaxar na ausência do celular.