Especialistas explicam a importância de completar o ciclo vacinal para frear o aumento de casos e internações pela doença; segundo o Ministério da Saúde, 77 milhões de brasileiros não receberam nem a primeira dose de reforço
Diante da ausência do orientações atualizadas do Ministério da Saúde, as decisões sobre a aplicação de doses de reforço da vacina contra Covid-19 recaem sobre os municípios e estados. Com cada cidade utilizando critérios diferentes para a aplicação das vacinas, falta clareza para os brasileiros sobre a importância de completar seu esquema vacinal para conter o novo aumento dos casos da doença.
A diretriz mais recente do governo federal em relação ao assunto é de 19 de junho deste ano, e estabelece que todas as pessoas acima de 12 anos podem receber uma dose de reforço (ou terceira dose). A segunda dose de reforço (quarta dose) é recomendada apenas para maiores de 40 anos.
Para pessoas imunocomprometidas, são recomendadas duas doses de reforço acima dos 12 anos, e uma terceira dose de reforço (quinta dose) para aqueles acima de 40 anos. Estes são considerados os ciclos vacinais completos para cada faixa da população.
No entanto, a maior parte das capitais brasileiras adota esquemas vacinais diferentes deste e diferentes entre si. Há capitais que disponibilizam a quarta dose para toda a população adulta, e outras que já estão aplicando a quinta dose em idosos e imunossuprimidos acima dos 18 anos.
Diante da nova alta de casos, é preciso reforçar a importância das doses de reforço para conter o avanço da doença.
Segundo o infectologista Álvaro da Costa, do Hospital das Clínicas, muitos fatores contribuíram para o aumento nos casos de Covid: o relaxamento do uso de máscaras, a volta de grandes eventos com aglomerações, e também a diminuição na imunidade conferida pelas vacinas com o tempo.
Com o avanço no conhecimento científico sobre os imunizantes contra Covid-19, foi observado que a proteção tende a diminuir entre seis e oito meses após a aplicação das duas doses iniciais.
“As pessoas perderam o medo da pandemia, porque já se passaram dois anos, e agora os casos de amigos que pegaram são mais leves. A adesão às doses de reforço é baixa, pois elas não sabem o risco que estão correndo ao não se vacinarem novamente”, disse.
De acordo com dados divulgados pelo Ministério da Saúde em 24 de novembro, mais de 77 milhões de brasileiros não receberam nem a primeira dose de reforço. Dentre as pessoas elegíveis, 24 milhões não foram receber a segunda dose de reforço.
“Existe uma grande resistência da população em ir tomar as doses adicionais em função da melhora no cenário da pandemia. A orientação da importância de completar o ciclo vacinal ficou de lado, enquanto o discurso que coloca em dúvida a eficácia da vacina foi constante”, disse a infectologista Raquel Stucchi, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Ela criticou a falta de comunicação das gestões estaduais e municipais, e a “ausência” do Ministério da Saúde, que não dá novas orientações sobre reforço desde junho.
Costa lembra a importância da vacinação como medida coletiva, já que as pessoas que não completaram o esquema vacinal ficam mais propensas a transmitir o vírus, inclusive para aqueles que fazem parte dos grupos de risco e podem desenvolver casos graves da doença. “Não estamos mais falando sobre controlar uma doença desconhecida. Após dois anos, temos um aumento nos casos e na mortalidade que poderia ser evitado”, disse.
Os especialistas concordam que o Brasil não está necessariamente atrasado no número de doses de reforço recomendadas, mas sim na eficácia das vacinas. Ambos disseram que o país já deveria estar aplicando vacinas bivalentes.
Vacinas bivalentes
Diante das mudanças no vírus e da possibilidade de escape das novas linhagens à resposta imunológica gerada pelas vacinas desenvolvidas e em uso no mundo, as empresas farmacêuticas partiram para o desenvolvimento de imunizantes atualizados e adaptados às cepas de maior relevância epidemiológica, como as subvariantes BA.1, BA.4 e BA.5, da Ômicron.
O reforço com a vacina bivalente da Pfizer contra a Covid-19, que também contempla as sublinhagens BA.4 e BA.5 da Ômicron, por exemplo, apresenta resposta imune significativamente superior em comparação com a vacinação com o imunizante original da farmacêutica, segundo informações divulgadas pela Pfizer.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso emergencial da vacina bivalente no dia 22 de novembro, junto a outro imunizante que contempla a subvariante BA.1. Em nota, a Pfizer disse que as vacinas atualizadas devem ser entregues ao Brasil “nas próximas semanas”.
No entanto, o Ministério da Saúde e os especialistas reforçaram que as vacinas que já são aplicadas como reforço seguem efetivas, e que não é recomendado que as pessoas esperem a chegada das vacinas bivalentes para tomar sua dose de reforço. As vacinas monovalentes continuam protegendo contra as formas graves da Covid-19 e a possibilidade de óbito.
“Não temos uma previsão concreta de data ou de quantas vacinas bivalentes chegarão ao Brasil. As vacinas mais antigas continuam muito importantes, pois diminuem o risco de casos graves”, fala Stucchi.
Álvaro da Costa diz que a chegada das vacinas bivalentes é importante, mas que as doses já chegam atrasadas, pois não sabemos se as variantes que estarão circulando nos próximos meses serão exatamente aquelas contra as quais o imunizante protege.
“Temos que entender quais variantes estarão circulando no país para saber qual o tamanho do impacto das vacinas bivalentes”, conclui
CNN BRASIL