Bactérias intestinais podem desempenhar papel na depressão


Um novo estudo, publicado na Nature Communications, mostra como as bactérias intestinais podem desempenhar um papel na depressão por meio da produção de neurotransmissores, como serotonina e glutamato. A depressão é um sentimento crônico de tristeza, vazio ou incapacidade de sentir prazer. As causas da depressão ainda não são totalmente compreendidas, no entanto, é provável que vários fatores estejam envolvidos, como: genética, alterações nos níveis de neurotransmissores no cérebro, fatores ambientais, como exposição a traumas e fatores psicológicos e sociais.

O que o estudo descobriu?

Neste estudo, pesquisadores da Oxford Population Health, trabalhando com colegas na Holanda, investigaram a relação entre a composição e a diversidade da microbiota intestinal com sintomas de depressão. Eles examinaram dados de 1.133 participantes do Estudo de Rotterdam. Foi um estudo prospectivo em andamento desde 1990 na cidade de mesmo nome, na Holanda, visando doenças cardiovasculares, neurológicas, oftalmológicas e endócrinas. Como parte da análise, eles controlaram fatores de estilo de vida e uso de medicamentos. Por exemplo, eles incluíram apenas indivíduos que não estavam tomando antidepressivos. Isso para evitar a medição de alterações na microbiota intestinal que são consequência da depressão – ou da medicação – em vez de uma causa.

Várias bactérias identificadas mostraram um envolvimento potencial na maneira como as pessoas produzem neurotransmissores, particularmente aquelas ligadas à depressão, como o glutamato. Os pesquisadores então replicaram e validaram essas descobertas usando dados de outro estudo observacional, chamado Helius. Os resultados desta pesquisa podem um dia levar ao desenvolvimento de novos tratamentos para condições como a depressão.

O papel das bactérias

Najaf Amin, autora do estudo e associada sênior de pesquisa da Oxford Population Health, destacou as principais descobertas para o Medical News Today, dizendo que a equipe de pesquisa “identificou 13 tipos de bactérias [12 gêneros e uma família] associados à depressão”.

Ela citou as bactérias Eggerthella, Hungatella, Sellimonas e Lachnoclostridium como encontradas mais abundantemente, enquanto Coprococcus, Lachnospiraceae UCG001, grupo RuminococcusgauvreauiiEubacterium ventriosum, Subdoligranulum, Ruminococcaceae (UCG002, UCG003, UCG005) e a família Ruminococcaceae como menos abundantes em indivíduos com maior sintomas de depressão. “Essas bactérias são conhecidas por estarem envolvidas no metabolismo de algumas moléculas-chave, incluindo glutamato e butirato, através das quais essas bactérias podem influenciar a depressão”, frisou Najaf.

Quais são as implicações clínicas?

Ela afirmou que grandes estudos cuidadosamente conduzidos sobre a associação do microbioma intestinal com a depressão estavam faltando. Segundo ela, esses estudos são o primeiro passo para o entendimento da patogênese, fornecendo biomarcadores e alvos terapêuticos para a doença. “Como o microbioma intestinal é determinado principalmente pelos fatores do estilo de vida, dieta em particular, uma vez estabelecida a causalidade, a terapia seria tão simples quanto a modificação da dieta ou o uso de probióticos”, observou.

Além disso, a depressão é uma doença que pode ser subdiagnosticada e superdiagnosticada. Um biomarcador permitirá uma medição objetiva, que atualmente não existe, melhorando assim o diagnóstico”, acrescentou.

O especialista em medicina regenerativa e antienvelhecimento de Nova York, Neil Paulvin, não envolvido no estudo, disse ao MNT que “sabemos que o microbioma afeta nosso humor e produz neurotransmissores como ácidos N-acetilneuramínicos, serotonina e norepinefrina. Isso faz parte do futuro da saúde mental. Precisamos encontrar a combinação específica de bactérias intestinais que são boas e ruins para a ansiedade. Por exemplo, quais bactérias podem ativar o Gaba [ácido gama-aminobutírico, um neurotransmissor] para ajudar na ansiedade, o que pode afetar a serotonina para ajudar na depressão e se o transplante de microbiota fecal será uma resposta para depressão e ansiedade”.

Paulvin destacou que existem pílulas psicobióticas [probióticos que afetam o humor] atualmente em desenvolvimento. “Agora estamos cultivando as informações para desenvolver programas no futuro”, disse.

Transmissão de glutamato no cérebro

“Este é um estudo muito bem feito que controlou várias variáveis potencialmente interferentes e, ao fazê-lo, demonstrou o papel de certas espécies de microbioma intestinal no fornecimento de moduladores químicos que são conhecidos por terem efeito direto e indireto na química do cérebro envolvida na função cognitiva e emocional”, comentou James Giordano, professor de Neurologia e Bioquímica no Georgetown University Medical Center, também não envolvido na pesquisa.

“Ou seja, essas espécies intestinais, Eggerthella e Eubacterium ventriosum, demonstraram produzir butirato – uma importante molécula precursora do Gaba, uma substância química do cérebro que funciona no controle regulatório do glutamato”, explicou ele, que acrescentou que, além disso, essas espécies demonstraram produzir serotonina, que tem efeitos diretos sobre o sistema nervoso entérico, o eixo intestino-cérebro e, dessa forma, podem afetar os níveis de serotonina e a atividade no cérebro que, por sua vez, são importantes para aspectos das funções cognitivas, emocionais e comportamentais. “Foi demonstrado que a hiperatividade da transmissão do glutamato no cérebro contribui para várias características dos transtornos depressivos e de ansiedade e, portanto, a contribuição do microbioma intestinal para o controle mediado por Gaba e serotonina da atividade cerebral do glutamato (principalmente por meio da modulação do nervo vago) pode ser um mecanismo importante para manter a saúde mental”, completou Giordano.

Ele conta que o estudo também revelou que certas outras espécies de bactérias intestinais podem exercer efeitos perturbadores no microambiente do intestino, no sistema nervoso entérico, no eixo intestino-cérebro, na química do cérebro e na expressão de sinais e sintomas de transtornos depressivos e de ansiedade.

“Assim, o supercrescimento dessas espécies e o subdesenvolvimento ou subatividade de espécies benéficas podem produzir estados inflamatórios locais e sistêmicos, que podem interromper a estabilidade bioquímica e fisiológica do cérebro e contribuir para o desenvolvimento e exacerbação de condições neuropsiquiátricas”, alertou Giordano.

Podemos alterar a microbiota intestinal?

Najaf observou que é possível alterar a composição dessas populações de bactérias. Isso é possível por meio do uso de prebióticos e probióticos. Por exemplo, as bactérias produtoras de butirato podem ser alteradas pelo consumo de dietas ricas em fibras, por exemplo frutas frescas, grãos integrais e vegetais.

Giordano concordou, dizendo ao MNT que uma mensagem importante fornecida pelas descobertas deste estudo é que a saúde intestinal por meio da estabilidade do microbioma intestinal é importante para manter as funções cerebrais envolvidas no pensamento, humor e comportamento: “O crescente conhecimento sobre o microbioma intestinal e o eixo intestino-cérebro fortalece que o uso prudente de pré e probióticos pode ser valioso para manter a saúde do intestino e do cérebro”.

Fonte: Medical News Today

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *