Estudo da USP avaliou a participação desses alimentos no total calórico da dieta da população e projetou o impacto da redução desse consumo na mortalidade por doenças crônicas
A metodologia empregada no estudo envolveu o cruzamento de análises do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o consumo alimentar pessoal no território nacional e os dados de mortalidade da população. As informações foram classificadas por faixas etárias, entre homens e mulheres, a partir dos 30 anos.
Já existem diversas evidências que associam o aumento do consumo de ultraprocessados com o risco de se desenvolver DCNT. Assim, a equipe de pesquisa decidiu avaliar a ingestão das calorias diárias de cada grupo a partir de sua natureza de processamento, a fim de se verificar a influência dos ultraprocessados e, posteriormente, apontar o impacto dessa alimentação nas taxas de mortalidade.
Consumo exagerado de ultraprocessados
Por meio do último levantamento do consumo alimentar pessoal no Brasil, referente aos anos de 2017 e 2018, chegou-se à porcentagem representada por calorias ingeridas a partir do consumo de ultraprocessados. A equipe constatou que todos os grupos consomem pelo menos 13% do seu total de calorias por meio desses produtos.
ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS NA INGESTÃO CALÓRICA TOTAL
Faixas etárias | Homens (%) | Mulheres (%) |
30-34 | 18.4 | 21 |
35-39 | 18.6 | 19 |
40-44 | 15.5 | 18.5 |
45-49 | 18.1 | 18.4 |
50-54 | 15.4 | 17.4 |
55-59 | 14.6 | 16.2 |
60-64 | 13 | 16.3 |
65-69 | 14.2 | 16 |
Pelo estudo, o recorte com a alimentação mais saudável são os homens de 60 a 64 anos, com apenas 13% do consumo representado pelos ultraprocessados. Por sua vez, o grupo mais preocupante são as mulheres de 30 a 34 anos, cuja ingestão desses produtos representa 21% das calorias diárias.
Ao Jornal da USP, o primeiro autor da pesquisa, Eduardo Nilson, ressalta que as informações de 2017/2018 ainda mostram que houve um aumento de 20% no consumo de ultraprocessados, quando comparado ao levantamento anterior, de 2007/2008.
Segundo ele, essa elevação é consequência das campanhas de marketing em torno desses alimentos e da subida de preços dos produtos frescos. “A substituição aconteceu em todos os grupos da sociedade, independente da renda. Mas, inegavelmente, tem mais impacto na população vulnerável. O macarrão instantâneo e o biscoito recheado são alimentos-símbolos dessa situação”, destaca o especialista.
O estudo ainda calcula quantas mortes poderiam ser evitadas em diferentes cenários de diminuição do consumo de ultraprocessados. Com uma redução de 10% desse consumo, por exemplo, 5.900 pessoas (3.500 homens e 2.400 mulheres) não morreriam de doenças crônicas ao longo do ano.
Esse número aumenta ainda mais à medida que se diminui a quantidade de ultraprocessados ingeridos. Na redução de 20%, o valor vai para 12 mil indivíduos (7.100 homens e 4.800 mulheres). Já no corte de 50% desses alimentos, o número total de vidas poupadas salta para 29.300 (17.400 homens e 11.900 mulheres).