Ter um nível mais alto de força muscular nas pernas parece estar “fortemente associado” a um menor risco de desenvolver insuficiência cardíaca após um infarto do miocárdio. É o que mostra uma pesquisa apresentada este mês num congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia, ainda não publicada em periódico científico.
O trabalho, realizado por uma equipe da Universidade Kitasato, no Japão, destaca a importância do exercício regular e da manutenção da força muscular em indivíduos com 60 anos ou mais, uma vez que a massa muscular pode diminuir com a idade, possivelmente afetando a saúde cardiovascular.
O que acontece após o infarto
Após um infarto do miocárdio, o coração pode passar por um processo de remodelação, no qual o tecido fibroso (resultante da cicatrização) se acumula, causando um aumento do tamanho do coração. No entanto, evidências sugerem que a reabilitação cardíaca baseada em exercícios pode alterar o curso dessa remodelação, a fim de melhorar a função cardíaca.
Esse processo de remodelação é a principal causa do início da insuficiência cardíaca após o infarto do miocárdio. Segundo os pesquisadores, as miocinas, que são cadeias de aminoácidos liberados pelas fibras musculares, podem desempenhar um papel nisso.
Assim como o exercício pode ajudar a atenuar a remodelação cardíaca, os pesquisadores dizem que o próprio músculo também libera miocinas. Assim, manter um bom aporte de massa muscular pode estar associado a um menor risco de desenvolver insuficiência cardíaca.
Estudo se concentrou na força das coxas
Os pesquisadores analisaram a força dos músculos quadríceps – parte da frente das coxas – de 932 pessoas com idades entre 57 e 74 anos que haviam sido hospitalizadas devido a um ataque cardíaco entre 2007 e 2020.
Eles descobriram que a taxa de incidência de insuficiência cardíaca foi maior, de 22,9 por 1.000 pessoas-ano, entre os pacientes cujos quadríceps apresentavam baixa força. Já entre aqueles com alta força nesses músculos a taxa de incidência era bem mais baixa: de 10,2 por 1.000 pessoas-ano.
Os autores esclarecem que os resultados precisam ser replicados em outros estudos, mas eles sugerem que o treinamento de força envolvendo os músculos do quadríceps deve ser recomendado para pacientes que sofreram um ataque cardíaco, a fim de prevenir a insuficiência cardíaca.
Braços também são importantes
Esta não é a primeira vez que os cientistas estudam a associação entre a força muscular e o prognóstico de pessoas com doenças cardiovasculares. Em 2016, um estudo publicado no American Journal of Cardiology revelou que a massa muscular nos braços poderia estar associada às taxas de sobrevivência da doença cardíaca.
Após um infarto, muitas medidas devem ser tomadas para evitar problemas cardíacos adicionais. A Associação Americana para o Coração recomenda tomar medicamentos conforme prescrito pelo médico, comparecer a consultas médicas de acompanhamento, participar de reabilitação cardíaca, obter apoio de entes queridos ou se conectar com outras pessoas que passaram pela mesma situação. Além disso, é fundamental gerenciar fatores de risco, como pressão alta, colesterol alto e diabetes, mantendo-se em medicamentos, não fumando, comendo de forma saudável e fazendo exercícios.