Apesar de ser um alimento altamente nutritivo, o feijão tem deixado de compor a dieta da população e isso tem impacto direto na saúde, aumentando risco de sobrepeso e obesidade.
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Aquela clássica combinação saborosa de feijão com arroz, tão tradicional no Brasil, não deve ser negligenciada na mesa das refeições diárias. Apesar de ser um alimento altamente nutritivo, o feijão tem sido cada vez menos presente na dieta da população, o que impacta diretamente na saúde. Essa é a conclusão de uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que revelou uma associação direta entre a redução do consumo regular de feijão e o aumento do risco de sobrepeso e obesidade.
O estudo foi realizado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e primeiro partiu da observação dos resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, que já indicavam uma tendência importante de redução no consumo de alimentos in natura ou minimamente processados pela população brasileira. A partir daí, a nutricionista Fernanda Serra Granado, autora do estudo, resolveu analisar outra base de dados importante: o Vigitel (inquérito telefônico realizado anualmente pelo Ministério da Saúde para fazer uma vigilância dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis).
A base de dados do Vigitel possui informações de mais de 500 mil adultos que responderam à entrevista telefônica e foram acompanhados entre os anos de 2007 e 2019. A nutricionista resolveu estudar a tendência de redução no consumo da leguminosa e o impacto disso na saúde.
Segundo Granado, as respostas sobre o consumo de feijão foram divididas em três indicadores: não consumo, consumo não regular (1 a 4 dias por semana) e consumo regular (5 a 7 dias por semana). Após o cruzamento de dados, ela observou uma tendência mais intensa de queda no consumo entre 2012 e 2017 e, por meio de cálculos estatísticos, projetou que a ingestão de feijão deve cair ainda mais até 2030.
Para se ter uma ideia, em 2012, 67,5% dos brasileiros afirmaram que mantinham o consumo regular de feijão na dieta. Em 2017, esse número caiu para 59,5% dos entrevistados e, segundo a nutricionista, a projeção estima que o consumo regular de feijão caia para 46,9% dos brasileiros em 2025, momento no qual a maioria da população adulta deixará de comer esse alimento regularmente.
“Essa tendência está se confirmando ano após ano e isso é muito preocupante. O feijão, além de ser um símbolo cultural da alimentação do brasileiro, compõe o cardápio de uma dieta saudável, equilibrada e balanceada. A redução no consumo indica que as pessoas estão substituindo os alimentos naturais por ultraprocessados e por opções menos saudáveis”, explica a nutricionista.
O que explica a queda no consumo?
De acordo com a pesquisadora, algumas hipóteses podem explicar a queda no consumo: a falta de tempo ou dificuldade de preparar alimentos naturais ou minimamente processados em casa; a oscilação nos preços do feijão; e a conveniência e acessibilidade aos alimentos ultraprocessados e prontos para o consumo.
Diante deste cenário, a nutricionista decidiu então avaliar se essa tendência de redução trazia algum impacto direto na saúde da população. Para isso, adicionou dois novos indicadores na análise: baixo consumo (1 a 2 dias por semana) e consumo moderado de feijão (3 a 4 dias por semana).
E, para sua surpresa, os resultados apontaram que o grupo que respondeu que não consome feijão teve 10% mais chances de desenvolver excesso de peso e 20% mais chances de desenvolver obesidade. Por outro lado, o grupo que afirmou que faz consumo regular de feijão (em 5 ou mais dias da semana) apresentou fator de proteção no desenvolvimento de excesso de peso (14%) e obesidade (15%). Os dados foram realizados em comparação aos consumidores moderados da leguminosa durante a semana (3 a 4 dias por semana).
“Esses resultados só reforçam a importância do feijão na alimentação. Ele é um alimento rico em proteínas, vitaminas e minerais e integra uma dieta saudável e nutricionalmente equilibrada. Recomendo muito que as famílias priorizem o alimento natural nas refeições e façam deles a sua escolha”, afirmou.