Pesquisa da USP mostra como o uso de corticoides pode ajudar no tratamento de casos graves da Covid-19


Medicamentos estimulam produção de endocanabinoides, que têm ação anti-inflamatória e também ajudam a reduzir o risco de trombose no paciente.

Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein

Uma equipe de pesquisadores da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto, descobriu umimportante mecanismo de açãodos corticoides contra o coronavírus. O estudo, que foi publicado na revista Viruses, pode abrir portas para o desenvolvimento de novas terapias no combate a infecções virais e outras doenças. Os corticoides, conhecidos por sua ação anti-inflamatória, foram os primeiros medicamentos a demonstrar eficácia comprovada no tratamento de casos graves da Covid-19, quando não havia vacinas disponíveis durante a pandemia.

A pesquisa da USP teve como objetivo investigar o papel dos endocanabinoides, neurotransmissores que regulam a atividade neurológica e possuem funções anti-inflamatórias, no desenvolvimento da doença. Os cientistas buscaram compreender se pacientes graves apresentavam deficiência desses neurotransmissores, o que poderia resultar em uma piora do quadro clínico, e se, inversamente, pacientes com sintomas mais leves apresentavam níveis mais elevados desses compostos no sangue.

“Para nossa surpresa, observamos exatamente o oposto: casos graves apresentavam níveis elevados de endocanabinoides, enquanto os casos leves apresentavam níveis mais baixos”, afirma o professor Carlos ArterioSorgi, coordenador da pesquisa. Além disso, foi constatado que quanto maior a concentração dessas substâncias, menor a taxa de Fator de Agregação Plaquetária (PAF), que são compostos relacionados à formação de coágulos que podem causar danos aos órgãos e tecidos.

Depois de considerar todas as variáveis, os cientistas perceberam que a diferença entre os pacientes estava relacionada ao tratamento com corticoides, que era administrado aos pacientes em estado grave e hospitalizados. As análises laboratoriais revelaram que esses medicamentos afetam as enzimas responsáveis pelo metabolismo dos endocanabinoidese, provavelmente, por meio desse mesmo mecanismo, também interferem nos fatores de coagulação, alterando os níveis desses compostos. Em outras palavras, enquanto estimulam a produção dos primeiros, eles inibem a dos elementos envolvidos na coagulação. Essa ação auxilia no combate à inflamação e, ao mesmo tempo, reduz o risco de trombose.

Novos tratamentos

Os achados abrem caminho para futuros tratamentos à base de corticoides e canabinoides – naturais ou sintéticos – para outras doenças inflamatórias e neurológicas. “Eles podem servir como adjuvantes”, diz Sorgi. Mas são necessários mais estudos para determinar o momento exato e a forma de usar esses medicamentos: “Há casos em que o dano ao tecido foi tão grande que não é possível reverter. E, ao contrário, se começar o tratamento cedo demais, os corticoides podem inibir a resposta imunológica e prejudicar ainda mais o paciente.”

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