Menos de 20% dos atendimentos foram por internações programadas; para a Sociedade de Cardiologia do Estado de SP, é preciso investir em prevenção
Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein
Levantamento realizado pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) com base nos dados de internação do Sistema Único de Saúde (SUS) em 2022 apontaque 83,37% dos casos de internação na área de cardiologia aconteceram por emergências. Parte dessas internações poderia ser evitada, segundo a Socesp, caso os pacientes fizessem um acompanhamento preventivo.
De acordo com o levantamento, no ano passado foram realizadas 1,19 milhão de internações por doenças cardiovasculares, sendo 982.963 delas em caráter emergencial e pouco mais de 200 mil foram internações eletivas (programadas).
Segundo o cardiologista Miguel Antônio Moretti, médico-assistente do Instituto do Coração (InCor) e diretor da Socesp, mais de 50% das emergências cardiológicas ocorrem em consequência de doenças isquêmicas do coração – infarto, angina, insuficiência cardíaca, valvulopatias e arritmias. Outros problemas que levam à internação de emergência são doenças vasculares, como AVC (Acidente Vascular Cerebral), doenças da artéria aorta, aneurisma, aterosclerose.
Exames preventivos e hábitos saudáveis
Um dos motivos para explicar o alto número de atendimentos de emergência cardiológica é a falta de prevenção primária, ou seja, a falta de um acompanhamento cardíaco de rotina para a prevenção. “Em geral, o brasileiro não tem o hábito de fazer prevenção porque acha que fazer exames uma vez por ano é a mesma coisa que prevenir, mas não é. Os exames são fundamentais para o diagnóstico precoce, mas é preciso cuidar do corpo e da mente o ano todo, com hábitos saudáveis e qualidade de vida”, disse Moretti.
O cardiologista diz ainda que quando o paciente chega num pronto-socorro com alguma dessas doenças descompensadas, ele precisa ficar internado porque muito provavelmente terá de fazer exames mais aprofundados, como angioplastia de emergência, ressonância magnética, tomografia, checagem laboratorial das enzimas cardíacas, entre outros. “O custo para o sistema de saúde para manter esse paciente internado é muito maior do que se ele estivesse fazendo a prevenção adequadamente”, afirma Moretti.
Mas para fazer prevenção, é preciso ter acesso ao médico especialista (no caso, o cardiologista), e esse é outro fator que impacta na quantidade de atendimento de emergência, segundo a Socesp. “Em muitos casos, por causa da falta de acesso ao especialista, o paciente só procura o sistema de saúde depois de sofrer um evento cardiovascular. Se um paciente que tem insuficiência cardíaca, por exemplo, fizesse acompanhamento regularmente, a chance de ele ir parar no pronto-socorro com a doença descompensada reduziria muito”, afirma o médico.
Cada minuto conta
As doenças isquêmicas do coração ainda são a principal causa de morte de homens e mulheres no Brasil e no mundo – estima-se que ao menos 380 mil brasileiros morrem todos os anos por doenças cardiovasculares. Diante deste cenário de tantos quadros de emergências cardiológicas, Moretti ressalta que os profissionais de saúde que estão na ponta do atendimento dentro do pronto-socorro também precisam estar bem treinados. Segundo o cardiologista, identificar rapidamente o quadro e agir o mais rapidamente possível reduz o risco de sequelas ou de morte.
“Na cardiologia tempo é vida. Uma pessoa que sofre uma parada cardíaca perde 10% de chance de sobreviver a cada minuto passado sem socorro ou com um atendimento ineficaz. Se passarem dez minutos, esse paciente pode não sobreviver”, exemplifica o cardiologista.
Por isso, ele ressalta que é tão importante prevenir as doenças. “Quanto mais avançada estiver a condição de saúde daquele paciente, maior o risco de um desfecho ruim num episódio de emergência, seja relacionado ao risco de morte ou à qualidade de vida que essa pessoa vai ter depois desse evento”, ressaltou.
Como prevenir?
Existem alguns fatores essenciais que ajudam a prevenir doenças cardiovasculares, entre eles: deixar de fumar (o cigarro é um dos principais fatores de risco); controlar a pressão arterial; manter uma alimentação equilibrada e saudável; controlar os níveis de colesterol e de triglicérides no sangue; controlar o diabetes; manter o peso adequado; fazer exercícios físicos regularmente e dormir bem. “A prevenção é primordial”, finalizou o médico.