Segundo novo estudo, o transtorno pode gerar um processo neurológico que reduz a capacidade de compensar os efeitos do declínio cognitivo
Uma pesquisa publicada recentemente na revista científica JAMA Network Open encontrou uma associação entre o diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) na vida adulta com um maior risco de ter demência. Segundo o estudo, adultos sem diagnóstico prévio do transtorno têm quase três vezes mais probabilidade de desenvolver a condição neurodegenerativa do que adultos sem TDAH.
Pesquisadores da Universidade Rutgers, nos Estados Unidos, analisaram dados de mais de 100 mil pessoas em Israel, acompanhadas entre 2003 e 2020, para avaliar se aqueles com TDAH correm maior risco de demência, incluindo a doença de Alzheimer. Segundo eles, embora o transtorno seja relativamente comum na população, há poucas pesquisas sobre o impacto do transtorno em outras condições de saúde.
“Ao determinar se os adultos com TDAH correm maior risco de demência e se os medicamentos e/ou mudanças no estilo de vida podem afetar os riscos, os resultados desta pesquisa podem ser usados para informar melhor os cuidadores e médicos”, disse Beeri, presidente do Krieger Klein Endowed Chair em Pesquisa em Neurodegeneração na BHI e membro do corpo docente do Rutgers Institute for Health, Health Care Policy and Aging Research.
Os resultados mostraram que a presença de TDAH em adultos estava associada a um risco significativamente maior de demência, mesmo quando outros fatores de risco para demência foram levados em consideração, como condições cardiovasculares. Por exemplo, os indivíduos que tiveram um novo diagnóstico de TDAH durante o período estudado, apresentaram uma incidência de demência de 13,2%, contra 7% daqueles que não tiveram o transtorno.
Ajustando para idade, gênero e outros fatores de risco para demência (como tabagismo e comorbidades), a razão de risco de demência em pacientes com TDAH foi 277% maior do que entre os indivíduos sem a síndrome.
Em adultos, o TDAH pode se materializar como um processo neurológico que reduz a capacidade de compensar os efeitos do declínio cognitivo mais tarde na vida.
“Os sintomas de défice de atenção e hiperatividade na velhice não devem ser ignorados e devem ser discutidos com os médicos”, disse Stephen Levine, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Haifa.
A pesquisa indica também que o tratamento do TDAH com psicoestimulantes pode ajudar a reduzir o risco de demência nessas pessoas, uma vez que se sabe que os psicoestimulantes modificam a trajetória do comprometimento cognitivo. No entanto, os pesquisadores ressaltam que são necessários mais estudos para examinar detalhadamente o impacto dos medicamentos em pacientes com TDAH e como eles poderiam afetar o risco de demência.
Jornal O Globo