Bebidas, mesmo as zero açúcar, foram ligadas a um aumento de até 20% na chance de desenvolver um quadro de fibrilação atrial
Um novo estudo publicado nesta terça-feira na revista científica Circulation: Arrhythmia and Electrophysiology, da Associação Americana do Coração, encontrou uma associação entre o consumo de bebidas adoçadas, como os refrigerantes, e um risco aumentado de fibrilação atrial, quadro caracterizado por uma frequência cardíaca irregular e muitas vezes acelerada que afeta a circulação sanguínea.
Os cientistas analisaram dados de mais de 200 mil adultos, de 37 a 73 anos, disponíveis no UK Biobank, um banco de dados de saúde britânico, entre 2006 e 2010. Os indivíduos não tinham um diagnóstico da doença no início do acompanhamento. No final, 9.362 casos de fibrilação atrial foram identificados.
Ao analisar as informações alimentares, eles observaram que aqueles que consumiam mais de dois litros por semana de bebidas adoçadas artificialmente, como os refrigerantes zero açúcar, que utilizam adoçantes artificiais, tiveram um risco 20% maior de desenvolver a fibrilação atrial. O volume equivale a menos de uma lata de 350 ml por dia.
A maior incidência também foi observada entre aqueles que bebiam mais de dois litros por semana de bebidas adoçadas, ainda que não artificialmente, como os refrigerantes comuns. No entanto, o aumento foi menor, de 10%. O diagnóstico cardíaco, segundo os pesquisadores, é importante e eleva o risco de um infarto, por exemplo, em cinco vezes.
O estudo também constatou que o consumo de até no máximo um litro por semana de suco puro, sem adição de açúcar, foi associado a um risco 8% menor de fibrilação atrial. O trabalho é observacional, ou seja, aponta uma associação ao longo do tempo, mas não pode definir 100% que se trata de uma relação de causa e consequência.
Além disso, os resultados “não podem concluir definitivamente que uma bebida representa mais risco à saúde do que outra devido à complexidade de nossas dietas e porque algumas pessoas podem beber mais de um tipo de bebida”, destaca Ningjian Wang, pesquisador do Shanghai Ninth People’s Hospital e da Universidade Shanghai Jiao Tong, em Xangai, na China, e autor principal do trabalho, em comunicado.
“Entretanto, com base nessas descobertas, recomendamos que as pessoas reduzam ou até mesmo evitem bebidas adoçadas artificialmente e com açúcar sempre que possível. Não considere que o consumo de bebidas adoçadas artificialmente com baixo teor de açúcar e calorias é saudável, isso pode representar possíveis riscos à saúde”, complementa.
Os cientistas analisaram ainda se tinha algum marcador genético que indicasse uma suscetibilidade maior entre os indivíduos que desenvolveram fibrilação atrial e consumiam muita bebida adoçada. Mas não foi encontrada uma relação.
“Embora os mecanismos que ligam as bebidas adoçadas ao risco de fibrilação atrial ainda não estejam claros, há várias explicações possíveis, incluindo a resistência à insulina e a resposta do corpo a diferentes adoçantes. Os adoçantes artificiais em alimentos e bebidas incluem principalmente sucralose, aspartame, sacarina e acessulfame”, diz Wang.
Para Penny Kris-Etherton, que participou do estudo e é membro do Comitê de Nutrição da Associação Americana do Coração, as descobertas são surpreendentes “considerando que dois litros de bebidas adoçadas artificialmente por semana são equivalentes a cerca de um refrigerante diet por dia”, ou seja, uma quantidade que não é alta.
Ela, que é professora emérita de Ciências Nutricionais da Universidade Estadual da Pensilvânia, destaca que há evidências robustas sobre as bebidas adoçadas com açúcar e o aumento de riscos cardiovasculares, mas que “há menos evidências sobre as consequências adversas dos adoçantes artificiais para a saúde”.
“Ainda precisamos de mais pesquisas sobre essas bebidas para confirmar essas descobertas e entender completamente todas as consequências para a saúde de doenças cardíacas e outros problemas de saúde. Enquanto isso, a água é a melhor opção e, com base nesse estudo, as bebidas adoçadas sem ou com baixas calorias devem ser limitadas ou evitadas”, diz.
JORNAL O GLOBO