Em testes com 701 adultos, caminhar cerca de 130 minutos a cada sete dias praticamente dobrou o tempo em que pacientes permaneciam sem queixas
Um hábito simples, que pode ser facilmente incorporado à rotina, traz grandes benefícios para quem sofre com dor na lombar. Caminhar pelo menos três vezes na semana praticamente dobrou o número de dias sem queixas de dor pelos pacientes. É o que mostra um novo estudo publicado ontem na revista científica The Lancet por pesquisadores das Universidades Macquarie e de Sydney, na Austrália.
O trabalho é o primeiro grande ensaio clínico a analisar a relação. Embora exercícios físicos já sejam recomendados para o tratamento da condição, os responsáveis pelo trabalho explicam que muitas vezes eles podem envolver entraves como a complexidade, a necessidade de supervisão e os custos para o acesso.
“As intervenções baseadas em exercícios para prevenir a dor nas costas que foram exploradas anteriormente são geralmente baseadas em grupos e precisam de supervisão clínica rigorosa e equipamentos caros, portanto, são muito menos acessíveis à maioria dos pacientes”, diz Natasha Pocovi, pesquisadora da Universidade Macquarie e autora do estudo, em comunicado.
Nesse cenário, a caminhada, que dispensa supervisão e demanda apenas um tênis e disposição, é uma alternativa mais democrática – bastava saber se o impacto para as queixas na coluna também seria positivo.
“Caminhar é um exercício simples, de baixo custo e amplamente acessível, que pode ser praticado por praticamente qualquer pessoa, independentemente da localização geográfica, idade ou condição socioeconômica”, diz o autor do trabalho e professor de Fisioterapia da Universidade Macquarie, Mark Hancock.
Para responder essa pergunta, foram recrutados 701 adultos que tinham sofrido recentemente com um episódio de dor na lombar. Eles foram aleatoriamente divididos em dois grupos, um que participou de sessões de caminhada, e outro de controle que não realizou a atividade, foi apenas acompanhado para comparação. Os voluntários foram monitorados por períodos que variaram de um a três anos.
No final, os resultados foram surpreendentes, afirmam os cientistas. Os participantes que caminharam relataram, em média, o dobro de dias sem recorrência do problema em relação aos demais.
“O grupo de intervenção (que fez as caminhadas) teve menos ocorrências de dor limitante da atividade em comparação com o grupo de controle e um período médio mais longo antes de ter uma recorrência, com uma mediana de 208 dias em comparação com 112 dias”, diz Hancock.
Segundo o pesquisador, as pessoas no estudo caminharam de três a cinco vezes por semana, por uma média de 130 minutos ao todo. Ao jornal britânico The Guardian, ele destacou que os dados mostram que “não é necessário caminhar 5 ou 10 km todos os dias”, o importante é “começar com caminhadas curtas e depois aumentar gradualmente a distância e a intensidade à medida que seu condicionamento físico aumenta”.
Entre os motivos para esse efeito positivo, ele diz que não se sabe exatamente qual é a razão, mas cita alguns fatores que se acredita estarem envolvidos nessa relação: “É provável que isso inclua a combinação de movimentos oscilatórios suaves, carga e fortalecimento das estruturas e dos músculos da coluna vertebral, relaxamento e alívio do estresse e liberação de endorfinas que fazem você se sentir bem”, diz.
Além disso, ele lembra que a caminhada traz muitos outros benefícios para a saúde do corpo como um todo, “incluindo saúde cardiovascular, densidade óssea, peso saudável e melhora da saúde mental”.
Pocovi acrescenta ainda que o programa de caminhadas se mostrou uma alternativa econômica: “Ele não apenas melhorou a qualidade de vida das pessoas, mas também reduziu a necessidade de procurar apoio de saúde e o tempo de afastamento do trabalho em aproximadamente metade”.
“Nosso estudo demonstrou que esse meio eficaz e acessível de exercício tem o potencial de ser implementado com sucesso em uma escala muito maior do que outras formas de exercício”, continua.
As conclusões são importantes especialmente devido à alta prevalência do problema pelo planeta. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a dor lombar é a principal causa de incapacidade no mundo.
Em 2020, as estimativas apontavam que cerca de 1 em cada 13 pessoas sofria com as queixas, o equivalente a 619 milhões de indivíduos em todos os países. O número representa um aumento de 60% em relação ao cenário de 30 anos antes, em 1990.
Além disso, o órgão estima que os casos de dor lombar vão aumentar para cerca de 843 milhões até 2050, com o maior crescimento na África e na Ásia, onde as populações estão aumentando e as pessoas estão vivendo mais.
Deu em Jornal O Globo