Estudo mostra relação entre horários, qualidade do sono e bem-estar; fatores socioeconômicos como gênero, raça e nível educacional impactam na condição de trabalho e, consequentemente, na qualidade de vida
Por Gabriela Cupani, da Agência Einstein
Um novo estudo da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, mostra como rotinas de trabalho não convencionais podem comprometer o bem-estar a longo prazo. O levantamento aponta que há uma relação entre horários irregulares ao longo da vida — algo normalmente associado a empregos precários —a prejuízos ao sono e à saúde a partir dos 50 anos de idade.
Segundo o artigo, as transformações sofridas pelo mercado de trabalho desde a década de 1980, com incremento tecnológico e aumento da demanda por serviços, têm exposto trabalhadores a condições mais negativas, como plantões imprevisíveis e jornadas irregulares. E essas características se tornaram comuns no mundo todo. Para piorar, aqueles mais vulneráveis socialmente são os mais sujeitos a esquemas de trabalho pouco saudáveis.
Estudos anteriores já apontavam que trabalhar fora do esquema típico comercial (horário diurno, de segunda a sexta-feira) afeta o sono e traz implicações negativas tanto para o ritmo circadiano, o que leva a uma série de alterações no organismo, quanto para a vida social.
A partir de dados do levantamento National Longitudinal Surveyof Youth-1979, a equipe de pesquisadores coletou informações de mais de 7 mil pessoas durante cerca de 30 anos nos EUA. Eles acompanharam os voluntários, inicialmente com 22 anos, em média, até perto dos 50. Apenas um quarto deles trabalhava exclusivamente no horário convencional, os demais tinham jornadas variáveis, turnos irregulares, trabalhos noturnos e rotativos.
No final do acompanhamento, constatou-se que, ao chegar à meia-idade, esses trabalhadores dormiam menos horas por dia, com menor qualidade, e eram mais propensos a reportar má saúde física e mental, além de depressão.
Os resultados também evidenciam a influência de fatores socioeconômicos nesses desfechos, incluindo gênero, raça e nível educacional. Por exemplo: é mais provável que mulheres brancas com nível universitário tenham um trabalho diurno estável e seis horas a mais de sono semanal do que homens negros com nível médio que trabalham em horários variáveis.
Para os autores, os achados reforçam que o tipo de emprego modela a vida diária, o que traz efeitos a longo prazo. “A pesquisa mostra que fatores como tempo e esquema de trabalho, posição socioeconômica e sono podem impactar a saúde”, analisa a neurologista Letícia Soster, do Hospital Israelita Albert Einstein. “Mas não se pode falar em uma relação de causa e efeito, pois esse impacto é multifatorial”, ressalta a médica.