Alzheimer em 10 anos: o que há de mais avançado para controlar a progressão da doença (e os efeitos colaterais das novas drogas)


Anticorpos recém-aprovados são os primeiros a interferir na perda cognitiva, mas de forma modesta; novos alvos em testes devem levar a cenário de terapia combinada mais eficaz

Faz mais de 100 anos desde que o psiquiatra alemão Alois Alzheimer, em 1906, descreveu pela primeira vez a doença que levaria seu nome e responderia por até 70% dos 55 milhões de casos de demência pelo mundo hoje – 1,2 milhões deles no Brasil. Porém, mesmo após tanto tempo, o Alzheimer segue um desafio, e as terapias não conseguem interromper a progressão da doença.

O cenário, porém, tem começado a mudar com a aprovação de novas drogas nos Estados Unidos que atacam uma das proteínas que se acumulam no cérebro dos pacientes com Alzheimer, a beta-amiloide. Pela primeira vez, foi demonstrado um benefício clínico em retardar a perda cognitiva, ainda que de forma modesta.

Além disso, há no momento outras 127 drogas nos testes clínicos que utilizam diferentes técnicas e alvos da doença no cérebro – como vacinas terapêuticas, remédios orais, anticorpos para limpar a outra proteína, chamada tau, e medicamentos direcionados à neuroinflamação.

Especialistas avaliam que os novos fármacos antiamiloide e os mecanismos inéditos em estudos devem levar a um cenário na próxima década de terapia combinada que será mais eficaz em conseguir enfim diminuir de maneira considerável o ritmo da neurodegeneração.

Porém destacam que ainda há muito sobre a biologia do Alzheimer que é desconhecido, o que torna distante a perspectiva de conseguir interromper de fato a doença, afirma Adalberto Studart Neto, secretário do departamento científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia (ABN):

— Pode ser que muito no futuro cheguemos a algum lugar de terapia única, mas o grande problema é a busca pelo elo perdido na fisiopatologia do Alzheimer. O que sabemos sobre a doença hoje é que ela envolve a deposição de duas proteínas no cérebro, primeiro a beta-amiloide e, depois, a tau, que é quando os sintomas começam a aparecer. A amiloide se deposita do lado de fora o neurônio, e a tau do lado de dentro. Por isso removê-la é mais difícil.

Pela ordem, havia a esperança de que eliminar os aglomerados de amiloide interromperia a progressão do Alzheimer. Inúmeras drogas falharam, porém em 2023 a FDA, agência americana equivalente à Anvisa no Brasil, aprovou o lecanemabe, vendido sob o nome comercial de Leqembi pelas farmacêuticas Eisai e Biogen, que foi o primeiro a demonstrar uma eficácia nesse sentido. Neste ano, o órgão deu o sinal verde para o donanemabe, comercializado como Kisunla pela Eli Lilly, que age de forma semelhante.

— Ambos os estudos envolveram pacientes em estágios inciais do Alzheimer acompanhados ao longo de 18 meses. O que se observou é que nesse período as pessoas tratadas tiveram uma redução de aproximadamente 30% na progressão da doença. Mas essas medicações não proporcionam benefícios sintomáticos perceptíveis, você não vai observar uma melhora clínica, é uma redução na velocidade do declínio. Então a expectativa tem que ser muito bem trabalhada, precisamos ser realistas — diz Paulo Caramelli, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenador do conselho consultivo da Sociedade Internacional para o Avanço da Pesquisa e Tratamento da Doença de Alzheimer (Istaart).

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