Advogada explica que casais que estão sempre brigando e se ofendendo podem gerar consequências muito negativas para os pequenos
O mês de setembro é conhecido como Setembro amarelo, um período dedicado a tratar de prevenção ao suicídio. Dentre os tantos temas inerentes à campanha, que foi criada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com apoio do Conselho Federal de Medicina (CFM), é preciso tratar da saúde mental das crianças e adolescentes, algo que começa em casa, especialmente em algumas fases complicadas, como quando os pais estão se divorciando.
Considerado um importante problema de saúde pública, o suicídio tem impactos na sociedade como um todo. Entre os jovens de 15 a 29 anos, trata-se da quarta causa de morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgados pelo Ministério da Saúde em setembro de 2022, entre 2016 e 2021 houve um aumento de 49,3% nas taxas de mortalidade de adolescentes de 15 a 19 anos, chegando a 6,6 por 100 mil, e de 45% entre adolescentes de 10 a 14 anos, chegando a 1,33 por 100 mil.
Segundo a advogada e empresária Andressa Gnann, sócia fundadora e gestora do escritório Gnann e Souza Advogados, é preciso que os pais estejam mais atentos ao seu papel com relação à saúde mental das crianças. “Precisamos tratar especialmente dos pais que moram juntos e brigam demais, estão em fase de divórcio ou já se divorciaram. É importante que esses pais avaliem como é o ambiente dentro de casa. Se a criança vive em um ambiente tóxico, com os pais brigando e se ofendendo o tempo todo, naturalmente não terá um desenvolvimento saudável, o que pode implicar riscos relacionados à saúde mental”, avalia.
De acordo com Andressa, muitos são os pais que moram juntos e dizem que não se separam por causa dos filhos. “Mas o fato é que não se separam por diversos outros motivos e continuam brigando, fazendo o dia a dia da criança uma tortura. Essas brigas acabam trazendo uma influência psicológica muito negativa. Já vi, inclusive, crianças pedindo para pais se separarem, ou, ainda, crianças que não queriam a separação, mas uma vez que ela aconteceu, demonstraram grande progresso psicológico depois”, conta a advogada.
Uma das principais ações a serem evitadas, segundo Andressa Gnann, é os pais colocarem a criança como uma espécie de moeda de troca ou pombo correio durante as brigas ou quando estão em fase de separação. “Muitos questionam sobre o parceiro ou parceira para a criança ou ficam falando sobre a discussão e tentando imputar a culpa ao outro, porém, os filhos não deveriam estar envolvidos nisso. Nestas situações, os filhos tentam se posicionar como intermediadores, tentando amenizar a situação para os dois lados. Ou seja, eles entram na história como se estivessem participando do divórcio, mas isso é um problema exclusivamente dos pais que devem evitar falar sobre divórcios, processos judiciais ou apenas sobre as brigas do dia a dia com os filhos”, orienta.
A especialista menciona que isso também costuma ocorrer entre casais já divorciados. “Neste caso, ainda podemos acrescentar a questão da alienação parental, que pode fazer muito mal. Lembremos que nenhuma criança quer ter maus pais, por isso é importante evitar falar mal do ex companheiro ou ex companheira na frente dela. Isso evita que elas peguem para si problemas que deveriam ser apenas dos adultos”, afirma Andressa.
A advogada entende que, para o bem da saúde mental dos filhos, os pais que estão em conflito constante deveriam ter coragem de tomar uma decisão: ou fazer terapia de casal ou separar de uma vez. “Não incentivo o divórcio, muito pelo contrário, prezo pelos casamentos duradouros, porém, um casamento infeliz, cheio de discussões, agressões e insultos não é saudável nem para o casal e muito menos para os filhos que ficam no meio daquele ambiente tóxico, vendo seus próprios pais se agredirem verbal ou fisicamente”, afirma.
Ela conta que, muitas vezes, vê os pais colocarem a culpa da falta de coragem e atitude nos filhos dizendo que não se separam por causa deles, mas também não buscam acompanhamento com profissionais e não buscam melhorar a relação. “Ou seja, estão prejudicando ainda mais seus filhos, afinal, um ambiente ruim, que às vezes sequer pode ser chamado de lar, não é saudável para a criança e pode sim desenvolver depressão. Precisamos lembrar que depressão não tem cara nem idade e precisamos poupar as crianças dos problemas de adultos para que possam crescer saudáveis mentalmente”, conclui Andressa Gnann.