Composto é alternativa contra o câncer
A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um novo grupo de compostos com capacidade de inibir a multiplicação e levar à morte células cancerosas. A partir dos resultados de ensaios in vitro feitos no Laboratório de Química de Coordenação e Polímeros (LQCPol), do Instituto de Química da UFRN, observou-se a possibilidade que esses compostos têm de serem utilizados como princípio ativo em medicamentos destinados ao tratamento do câncer. Atuar contra a multiplicação de células tumorais é essencial, pois no seu crescimento desordenado em agrupamentos é onde se fundamenta a principal diferença danosa entre as células normais e cancerosas.
A nova tecnologia tem como inventores Daniel de Lima Pontes, Eduardo Henrique Silva de Sousa, Javier Alcides Ellena, Ana Cristina Facundo de Brito Pontes, Mayara Jane Campos de Medeiros, Hugo Alexandre de Oliveira Rocha, Francisco Ordelei Nascimento da Silva e Wendy Marina Toscano Queiroz de Medeiros. Denominada de “Compostos de Cobre ou Zinco com Atividade Antitumoral”, recebeu, no dia 3 de setembro, o patenteamento definitivo junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Depositado em 2017, o pedido contou com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade de São Paulo (USP). Os compostos foram desenvolvidos com alunos vinculados ao Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ).
Orientador da pesquisa que resultou na concessão, Daniel de Lima Pontes explica que a nova linhagem de compostos é constituída por metais essenciais — aqueles necessários para o funcionamento adequado do organismo e que desempenham funções específicas ao compor biomoléculas. Exemplos são o cobre e o zinco, os quais são diferentes dos fármacos à base de platina utilizados atualmente na quimioterapia de certos tipos de câncer, tais como cisplatina, carboplatina e oxaliplatina.
Essa distinção entre um tipo e outro de substância é um diferencial, visto que o corpo humano, de certa forma, já possui mecanismos fisiológicos para lidar com as reações que envolvem estes metais usados na nova tecnologia. “Os compostos foram desenvolvidos unindo as propriedades dos metais cobre ou zinco com espécies orgânicas específicas, tais como ligantes piridínicos e vanilóides, para que atuem sinergicamente na obtenção das propriedades químicas e biológicas observadas”, explica o professor do Instituto de Química. Ele lista ainda como fatores distintivos para a invenção a diminuição de potenciais efeitos colaterais quando de seu uso e o fato de os procedimentos sintéticos serem acessíveis para escalonamento de produção em larga escala.
Daniel Pontes salienta que as etapas de síntese e purificação dos compostos estão estabelecidas, resultando em rendimento e pureza usualmente empregados na indústria, e que a atividade frente às células tumorais está comprovada. “Enquanto invenção, a tecnologia está plenamente desenvolvida. Este estágio de desenvolvimento posiciona os compostos no TRL 4, o que equivale ao MRL no qual se tem a capacidade de produzir a tecnologia em ambiente laboratorial”, destaca o docente. TRL e MRL são escalas de maturidade tecnológica, cujos parâmetros de classificação vão de um a nove. Em uma tradução livre do inglês, o primeiro é o nível de prontidão tecnológica, enquanto o segundo é o nível de prontidão de fabricação. Assim, as TRLs e MRLs indicam o quão pronto se encontra um produto ou um processo, respectivamente, em sua escala de desenvolvimento.
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O professor do Instituto de Química, vinculado também ao Programa de Pós-graduação em Química – Rede Nacional (PMPQRN/IQ), identifica que, atualmente, a equipe do LQCPol está trabalhando no desenvolvendo de outros compostos que possam apresentar propriedades biológicas melhores do que os protegidos nesta patente. Ele acredita que as lições aprendidas durante as etapas da pesquisa acabam por impulsionar novas ideias com potencial de incremento tecnológico, o que acaba sendo direcionado em ações e atividades que possam auxiliar na expansão do conhecimento e no refinamento dos mecanismos de ação destes compostos para o tratamento do câncer.
“Entretanto, dentro do ciclo natural de desenvolvimento de uma invenção à condição de inovação, ou seja, para que chegue ao alcance do consumidor, é necessária a parceria com empresas para condução de ensaios in vivo que permitam a investigação de segurança e de condições de uso e identificação dos compostos de maior interesse dentre os protegidos no escopo da patente, ou a proposição de novos compostos”, descreve Daniel Pontes.
Para ele, dentro desse ciclo natural, patentear uma invenção é uma forma também de tornar o fruto do trabalho de pesquisa e desenvolvimento nas universidades ainda mais atrativo para parcerias com empresas. Pontes coloca a premissa de que grande parte das tecnologias desenvolvidas nos centros de pesquisa necessitam de complementações para a sua plena produção, aplicação e comercialização, situação que coloca a patente e o seu licenciamento como uma ferramenta, uma forma de garantia para as empresas de que o investimento a ser realizado resultará em ganhos futuros em decorrência do monopólio de exploração da tecnologia.
A tecnologia é um dos mais de 600 ativos que integram a Vitrine Tecnológica da UFRN, grupo de produtos protegidos industrialmente e frutos de pesquisas realizadas no âmbito da Universidade ou com participação de pesquisadores da Instituição. A lista — da qual fazem parte tanto itens patenteáveis como os registros dos Programas de Computador — pode ser acessada no endereço www.agir.ufrn.br.