Tiago Eneas – CCET/UFRN
Diante de um cenário em que as alterações climáticas se tornam cada vez mais agravantes, tanto para a natureza quanto para os seres humanos, um grupo de pesquisadores investigou a relação entre a poluição atmosférica e o baixo peso ao nascer, analisando mais de dez milhões de nascimentos ao longo de quase duas décadas. O artigo, intitulado Poluição atmosférica ambiental e baixo peso ao nascer no Brasil, publicado na revista Chemosphere em outubro deste ano, constitui a primeira pesquisa em nível nacional acerca da temática.
O artigo demonstrou que a exposição materna aos poluentes NO2 (dióxido de nitrogênio), O3 (ozônio) e PM2,5 (um tipo de partículas finas inaláveis) pode aumentar o risco de baixo peso ao nascer e que, em certas regiões do Brasil, algumas dessas causas foram mais determinantes do que outras (no Nordeste, por exemplo, houve mais influência do NO2). Além disso, é obtido que os meninos são mais vulneráveis em comparação às meninas e que o menor número de consultas pré-natais está associado à maior chance de baixo peso.
O estudo contemplou todos os estados do Brasil e coletou 10.213.144 registros de nascimento entre primeiro de janeiro de 2001 e 31 de dezembro de 2018. Diante da complexidade de cada região do território brasileiro, onde as disparidades regionais abrangem fatores ambientais, estruturais e de acesso à saúde, foram consideradas, para o tratamento desses dados, as seguintes variáveis: dados do nascimento; sexo da criança; peso ao nascer; idade, raça, estado civil, dados do último período menstrual, nível educacional e município de origem da mãe; período gestacional (expresso em semanas) e número de visitas pré-natais.
Dentro desse período, 4,92% dos bebês (479.204) nasceram abaixo do peso. A região Sudeste foi a que registrou o maior índice, com 4,88% dos casos (192.372), e o Centro-Oeste foi o menor, representando 4,13% (30.140). Proporcionalmente, as demais regiões mostraram-se bastante próximas: Norte e Nordeste ficaram com 4,66% cada, enquanto o contorno Sul com 4,69%. No que diz respeito aos estados brasileiros, Minas Gerais (MG), Maranhão (MA), Bahia (BA), Acre (AC) e Alagoas (AL) tiveram a maior proporção, com 5,53%, 5,25%, 5, 17%, 5,03% e 5,01%, respectivamente.
De acordo com os autores, essa variação pode ser atribuída a fatores diversos, como topografia, padrões meteorológicos e circulação atmosférica. Uma vez que esses aspectos de interação com atividades emissoras de poluição, como práticas industriais, podem ser ocasionadas circunstâncias únicas que afetam diretamente o nascimento, com capacidade de influenciar até mesmo o desenvolvimento fetal.
A análise do material foi realizada utilizando modelos de regressão logística, técnica estatística empregada para calcular a probabilidade de uma determinada ocorrência com base em um conjunto de dados. Os dados foram organizados e analisados separadamente para cada um dos trimestres gestacionais (processo conhecido como análise estratificada), permitindo a identificação de condições específicas mais prevalentes em determinados períodos da gravidez.
A pesquisa foi conduzida por Julia Placido Moore, Reizane Maria Damasceno da Silva e Weeberb J. Requia, do Centro de Estudos em Meio Ambiente e Saúde Pública da Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getúlio Vargas (FGVcemasp); Mariana Andreotti Dias e Francisco Jablinski Castelhano, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Leonardo Hoinaski, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Para Mariana Andreotti, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem/UFRN), onde realiza estágio pós-doutoral, as descobertas apresentadas são essenciais para o desenvolvimento de diretrizes de prevenção à exposição durante a maternidade e de proteção infantil. “Este estudo fornece informações valiosas para estratégias específicas das regiões para melhorar a saúde materna e neonatal”, completa.