Endometriose e fertilidade: por que o congelamento de óvulos pode ser uma opção importante


Com cerca de 8 milhões de mulheres afetadas pela condição ginecológica no Brasil, especialista reforça a importância do acompanhamento regular para diagnóstico precoce

Março é o mês dedicado à conscientização sobre a endometriose, uma condição que afeta cerca de 10% das mulheres em idade reprodutiva no Brasil e no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Apesar de ser uma doença comum, a endometriose ainda é amplamente subdiagnosticada, com muitas mulheres sofrendo por anos antes de receberem um diagnóstico preciso. Além de causar dor crônica e outros sintomas debilitantes, a condição pode comprometer significativamente a fertilidade, impactando a qualidade de vida e os planos reprodutivos de milhões de mulheres.

Caracterizada pelo crescimento de tecido semelhante ao endométrio fora do útero, endometriose vai além de uma condição ginecológica – é uma questão de saúde pública. No Brasil, aproximadamente 8 milhões de mulheres são afetadas pela doença, e a estimativa para o período de 2023 a 2025 é de mais de 7 mil novos casos. Segundo o Ministério da Saúde, uma em cada 10 mulheres no país sofre com seus sintomas. “Seja devido à formação de aderências na pelve, distorções anatômicas ou inflamação nos órgãos como bexiga, ovário e intestino”, explica a Dra. Alessandra Evangelista, especialista em Reprodução Assistida da clínica VIDA, unidade do Fertgroup.

De acordo com a especialista, esses dados reforçam a importância de estratégias de preservação da fertilidade, como o congelamento de óvulos, que tem ganhado destaque como uma alternativa viável e segura.

Como a endometriose afeta a fertilidade?

A endometriose é uma das principais causas de infertilidade feminina. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 40% das mulheres com a doença enfrentam dificuldades para engravidar. “A condição pode comprometer a fertilidade de diversas formas. Além das aderências e distorções anatômicas, os focos de endometriose liberam substâncias inflamatórias, afetando a qualidade dos óvulos e a receptividade do endométrio. A redução da reserva ovariana também pode ocorrer, especialmente na presença de cistos endometrióticos (endometriomas) nos ovários”, explica o especialista em reprodução assistida.

Por se tratar de uma doença progressiva, os impactos da endometriose na fertilidade podem se tornar irreversíveis se não forem tratados a tempo. “No entanto, com o tratamento adequado, muitas mulheres conseguem preservar ou recuperar a sua fertilidade. Por isso, o diagnóstico precoce e a adoção de estratégias de preservação são essenciais”, destaca Alessandra.

O tratamento da endometriose inclui medidas para reduzir a inflamação e controlar os sintomas. O uso de anticoncepcionais pode ajudar a aliviar as cólicas menstruais e o ciclo regular, sendo uma opção para mulheres que não querem engravidar no momento. Para aquelas que desejam ter filhos e apresentam formas mais avançadas da doença, a cirurgia pode ser uma alternativa eficaz. “O procedimento remove os focos de endometriose, restaurando a anatomia pélvica e aumentando as chances de gestação”.

Congelamento de óvulos: alternativa para preservar a fertilidade

O congelamento de óvulos é uma técnica recomendada para mulheres diagnosticadas com endometriose, especialmente em estágios moderados ou avançados. O procedimento permite que os óvulos sejam coletados e armazenados enquanto a paciente ainda possui uma boa reserva ovariana, garantindo maiores chances de sucesso em futuras tentativas de gravidez.

Para Alessandra, o ideal é que a preservação seja realizada antes que a endometriose cause danos mais severos aos ovários ou reduza significativamente a qualidade dos óvulos. “Isso pode ser feito em qualquer fase da vida reprodutiva, mas é particularmente eficaz até os 35 anos, quando a reserva e a qualidade dos óvulos são melhores”.

Um estudo publicado na revista Fertility and Sterility mostrou que mulheres que realizam o congelamento de seus óvulos até os 35 anos têm uma taxa de sobrevivência de aproximadamente 90% após o descongelamento, com um índice de fertilização subsequente em torno de 75%. Esses números refletem um índice cumulativo de nascidos vivos de cerca de 50% após três ciclos de fertilização in vitro (FIV), demonstrando o potencial da técnica como uma opção viável para mulheres que desejam adiar a maternidade.

Além disso, a Sociedade Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE) alerta que pacientes com endometriose que pretendem realizar cirurgias ginecológicas também devem considerar o congelamento de óvulos antes do procedimento. “Isso porque as intervenções cirúrgicas podem comprometer ainda mais a reserva ovariana”, alerta a especialista.

Um olhar para o futuro

Embora o congelamento de óvulos não seja a garantia concreta de uma gravidez futura, Alessandra Evangelista destaca o procedimento como uma alternativa que pode aumentar significativamente as chances de sucesso em tratamentos de fertilidade.

Além disso, segundo levantamento da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), houve um aumento de 76,3% no número de mulheres que passaram por ciclos de congelamento de óvulos no Brasil entre 2020 e 2023. “Cada vez mais mulheres, principalmente jovens, recorrem ao congelamento como uma forma de preservar a maternidade nos seus próprios termos, especialmente diante de diagnósticos como a endometriose, que podem gerar insegurança sobre a fertilidade”.

A especialista, contudo, salienta que cada caso deve ser avaliado individualmente. “O ideal é que a paciente mantenha um acompanhamento regular para compreender todas as possibilidades de tratamento adequadas ao seu quadro”, conclui.

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