Paciente relata episódios desde os seis meses de idade e revela os impactos físicos, emocionais e sociais da anafilaxia

Letícia Maria tem 21 anos e a caneta de adrenalina é a sua companheira em todos os momentos
Letícia Maria tem 21 anos e sabe, desde bebê, o que é lutar para viver. Aos seis meses, teve sua primeira reação grave a um alimento comum: o trigo. Desde então, convive com o risco constante de choques anafiláticos. Sua história ganha ainda mais relevância durante a Semana Mundial da Alergia, período em que especialistas reforçam a importância da conscientização sobre reações alérgicas graves, como a anafilaxia.
O relato de Letícia é um alerta para todos que convivem ou conhecem alguém com alergia alimentar severa — uma condição séria, silenciosa e, muitas vezes, subestimada.
Um susto logo no início da vida
“Meu pai disse que me encontrou roxa no berço, sem conseguir chorar porque já não tinha mais ar. Ele me levou às pressas para o hospital. Foi ali que tudo começou.”
Desde então, Letícia nunca mais teve contato com trigo. Sua alergia é tão severa que qualquer traço do alimento pode desencadear uma crise. Em algumas situações, o simples contato com partículas no ambiente já foi suficiente para provocar sintomas.
Crises recorrentes e o medo constante
Durante a adolescência, Letícia enfrentou anos difíceis, marcados por episódios frequentes:
“Teve ano que tive cinco crises. A estabilidade só veio com muito controle e rotina.”
Além das limitações físicas, a condição impôs desafios sociais e emocionais:
“Ir a festas, comer fora, tudo é mais difícil. Eu sempre jantei antes de aniversários. Era a única forma de garantir que não passaria mal.”
Anafilaxia: uma ameaça rápida e invisível
A médica alergista e presidente da ASBAI-RN, Dra. Simone Diniz, destaca que a anafilaxia é uma das reações alérgicas mais graves e que exige reconhecimento e resposta imediata:
“É uma condição assustadora, mata mesmo. O paciente pode sair de um estado normal para um colapso respiratório ou circulatório em minutos.”
Letícia carrega diariamente uma caneta de adrenalina autoinjetável, essencial para conter a reação nos primeiros minutos até a chegada ao hospital. No entanto, o dispositivo não está disponível no SUS e ainda não foi liberado para comercialização no Brasil.
O impacto emocional e a vigilância constante
A médica alergista e diretora da ASBAI-RN, Dra. Eliane Macedo, reforça que o peso emocional também é um desafio invisível para quem convive com alergia grave:
“Esses pacientes vivem em estado de alerta. Eles precisam orientar colegas, familiares, cozinhas e escolas. Isso afeta a rotina e o bem-estar emocional.”
Ela alerta para os riscos da contaminação cruzada e da falta de preparo em locais públicos, como escolas e restaurantes, e destaca que é preciso treinamento e protocolos para lidar com emergências alérgicas.
Tratamento caro e inacessível para muitos
Letícia conta que precisou importar a caneta de adrenalina por cerca de mil dólares, valor inviável para a maioria das famílias:
“É muito caro, mas é a minha segurança. Eu já precisei usar. Se eu não tivesse, poderia não estar aqui.”
Segundo Dra. Simone Diniz, essa barreira de acesso é um problema grave de saúde pública:
“O dispositivo salva vidas e deveria estar disponível no SUS. A luta da comunidade médica e dos pacientes é para que isso mude.”
Viver com alergia é viver com coragem e informação
Letícia hoje participa de ações educativas, compartilha sua história e reforça que a informação é a principal ferramenta de prevenção:
“Já ouvi gente dizendo que era frescura. Mas quem já teve uma crise sabe o quanto é sério. Falar sobre isso pode evitar mortes.”