Pressão crescente sobre famílias afetadas pela condição e exige detecção precoce, apoio multiprofissional e políticas eficazes em prol da saúde mental

Dr. Marcelo Valadares é médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
A saúde mental dos pacientes com Parkinson exige atenção. Estudos indicam índices consideráveis de sofrimento emocional entre esses grupos e seus cuidadores, além de tremores e da rigidez muscular características da condição.
Uma meta-análise publicada na Neuroscience & Biobehavioral Reviews indica que aproximadamente 38% dos pacientes com Parkinson apresentam sintomas depressivos ao longo da doença¹. Em 2024, uma pesquisa publicada na Frontiers in Neurology confirmou que a depressão permanece um dos sintomas não motores mais comuns da doença, mesmo em estágios iniciais².
“Os pacientes com Parkinson precisam lidar com a progressão dos sintomas motores e os distúrbios neuropsiquiátricos característicos da doença, e, ainda, com uma insuficiência de suporte social que aumenta seu sofrimento e compromete a adesão ao tratamento. A intervenção precoce em saúde mental, combinada a redes de apoio estruturadas e acompanhamento multiprofissional, pode reduzir índices de depressão, melhorar a resposta terapêutica e prolongar a autonomia funcional desses indivíduos”, analisa Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Unicamp.
A detecção precoce do Parkinson pode contribuir para uma velhice mais ativa e com melhor qualidade de vida. Sinais como perda de olfato, alterações do sono, constipação e mudanças de humor muitas vezes precedem os tremores e podem indicar a necessidade de avaliação neurológica. Se o indivíduo for diagnosticado, o acompanhamento psicológico contínuo e o suporte multiprofissional ajudam a prevenir o sofrimento emocional, facilitar a adaptação às mudanças impostas pela doença e preservar autonomia e bem-estar pelo maior tempo possível.
Sofrimento compartilhado com os cuidadores
O sofrimento emocional não se restringe ao paciente. A pressão sobre os cuidadores é alta, e inclui desgaste emocional, impactos sociais, financeiros e até mudanças na dinâmica familiar, frequentemente sem treinamento formal e com acúmulo de outras atividades, como trabalho e afazeres domésticos.
Para entender o que leva a esse nível de sofrimento emocional entre familiares, uma revisão sistemática publicada em janeiro de 2025 na revista Medicine analisou 28 estudos e identificou 38 fatores que aumentam a sobrecarga dos cuidadores. Entre eles, estão o avanço dos sintomas motores do paciente, distúrbios de humor e ausência de apoio social. Essa sobrecarga, quando persistente, é reconhecida como um dos principais gatilhos para sintomas depressivos e para a piora da saúde mental de quem cuida de pessoas com Parkinson.³ Em um acompanhamento de um ano, com pacientes e cuidadores, pesquisadores constataram que 17,8% dos cuidadores receberam diagnóstico clínico de depressão. ⁴
“Frequentemente, o adoecimento da saúde mental ocorre de forma paralela ao longo da progressão da doença, com sofrimento para quem cuida e para quem é cuidado. Isso pode reduzir a qualidade do cuidado, causar ainda mais sofrimento para o paciente e criar um ciclo de deterioração difícil de interromper”, explica o médico.
Proteger essas famílias é particularmente desafiador. O período de descanso planejado dos cuidadores esbarra em questões financeiras e responsabilidades acumuladas, o que tende a intensificar a sobrecarga emocional e física. Já o acesso a acompanhamento psicológico e redes de apoio estruturadas é limitado, com serviços que ainda não são consistentes e abrangentes. “Contar com suporte multiprofissional dessa natureza é importante, pois preservaria o equilíbrio emocional do cuidador e teria impacto positivo na adesão terapêutica e no bem-estar das pessoas com Parkinson”, avalia o Dr. Marcelo.