Dez anos de esperança: Expedição leva saúde e dignidade a comunidade com maior incidência de Xeroderma Pigmentoso no mundo


Mutirão liderado por dermatologistas voluntários da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em parceria com a La Roche-Posay, transformou a realidade de Araras (GO), com cirurgias, diagnósticos e apoio social a famílias afetadas por condição genética rara

A comunidade de Araras, no município de Faina (GO), recebeu mais uma edição da Expedição Recanto das Araras, nos dias 26 e 27 de setembro de 2025. Uma iniciativa que, ao longo de uma década, transforma a vida de pessoas com Xeroderma Pigmentoso (XP), condição genética rara que torna a pele extremamente sensível à luz solar e eleva em até mil vezes o risco de câncer de pele.

Promovida pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em parceria com a La Roche-Posay e com apoio da SAS Brasil, a ação celebrou 10 anos de história com a realização de cirurgias, exames especializados, além de atividades educativas e ambientais. Mais do que uma ação médica, a expedição se consolidou como um movimento contínuo de transformação social, saúde e cidadania.

“É uma situação em que buscamos nos mobilizar ao máximo para ajudar. O que percebemos ao longo desses dez anos de ação foi uma melhora progressiva na qualidade de vida das pessoas, e isso é visível. Hoje, quase não vemos deformidades como víamos antes. A extensão dos tumores diagnosticados e tratados diminuiu significativamente. Sem dúvida, isso é reflexo de uma maior conscientização da população, tanto em relação à fotoproteção quanto à importância de buscar cuidados médicos precoces”, diz Dr. Carlos Barcaui, presidente da SBD que participa da iniciativa há 8 anos.

A ação contou com 13 médicos dermatologistas, foram feitas mais de 160 consultas dermatológicas e mais de 40 cirurgias em apenas dois dias. Além de exames com dermatoscópios digitais, aplicação de terapias tópicas e orientações sobre proteção solar rigorosa — essencial para pacientes com XP.

“Eu descobri o Xeroderma Pigmentoso aos 20 anos, hoje estou com 50. Essa é a segunda vez que venho nessa ação. Vim de Minhas Gerais porque lá não tinha tanto conhecimento do XP, aqui que eu conheci o que é e qual o tratamento. Aqui estou tendo ajuda”, disse Carmen Bortoleto, paciente da ação.

A expedição contou com três centros cirúrgicos montados em uma escola no próprio povoado, consultórios móveis, exames de imagem, além da distribuição de protetores solares da La Roche-Posay (linha Anthelios UVmune KA+ FPS 99), desenvolvidos especialmente para peles sensíveis e com alta proteção contra os raios UVA. A entrega gratuita dos produtos foi realizada em sinergia com as orientações médicas e o trabalho educativo conduzido em parceria com a SAS Brasil.

“Nossa expectativa é que projetos como este, que apoiamos com tanto empenho, sirvam de inspiração para que outras iniciativas privadas também se engajem e apoiem comunidades como Araras. Uma forma concreta de transformar vidas e promover mudanças reais na vida dos brasileiros”, diz Matheus Vieira, Gerente de Marketing da La Roche-Posay.

Desde a primeira expedição em 2015, centenas de lesões cancerígenas foram removidas e diversos casos foram diagnosticados precocemente. A ação, que é realizada a cada dois anos, em 2025, contou pela primeira vez com ultrassonografia dermatológica de alta frequência com doppler.

“Atendimento muito bom. Retirei um caroço que estava no meu peito e o material foi enviado para biópsia. Eu achei importante vir porque o caroço estava crescendo e agora me sinto aliviado por ter tido o tratamento. Eu já me cuido muito. Uso protetor solar para evitar um problema maior”, diz Joaquim Andrade, paciente da ação.

Araras: maior comunidade com XP do mundo

Segundo a Associação Brasileira de Xeroderma Pigmentoso (AbraXP), Araras apresenta uma taxa inédita de incidência de XP no mundo: um caso a cada 40 habitantes. Esse cenário atraiu o olhar da comunidade científica nacional e internacional, e transformou a região em referência mundial para o estudo e cuidado da condição.

A visibilidade gerada pela expedição também mobilizou importantes avanços estruturais. Ao longo dos 10 anos, foram doadas centenas de cestas básicas, roupas especiais e insumos médicos. Um dos marcos mais significativos foi a construção de 50 moradias destinadas a famílias com XP, além da retomada da obra da Unidade Básica de Saúde (UBS) da comunidade, prometida desde 2014 e viabilizada graças ao projeto.

“Cada edição foi uma chance de dar voz a uma comunidade invisibilizada. Graças à mobilização gerada, conseguimos abrir portas e conquistar melhorias que antes pareciam impossíveis”, afirmou Gleice Machado, secretária de saúde de Faina e mãe de um paciente com XP, envolvida desde o início da ação. A Secretaria de Saúde local também promoveu atendimentos ginecológicos, odontológicos, consulta clínica, orientações jurídicas e outras ações sociais.

A expedição promoveu ainda mudanças no ambiente local. Ao longo da década, foram realizadas ações de educação ambiental, plantio de árvores e criação de áreas sombreadas, medidas que ajudam a proteger os moradores da exposição solar e melhoram a qualidade de vida da comunidade.

Tudo começou com um olhar atento

A história da expedição teve início em 2009, quando a dermatologista Sulamita Chaibub atendeu uma criança com sinais suspeitos. O diagnóstico de XP e a identificação de outros casos semelhantes motivaram a criação da primeira expedição em 2015. Desde então, Dra. Sulamita atua como coordenadora voluntária da iniciativa.

“Hoje somos melhores do que ontem, e amanhã seremos melhores do que hoje. Com união, ciência e humanidade, estamos construindo uma nova história para Araras. Uma onda do bem por múltiplas mãos”, afirma a médica.

Sobre o Xeroderma Pigmentoso (XP)

O Xeroderma Pigmentoso é uma condição genética rara que torna a pele extremamente sensível à radiação ultravioleta, presente na luz solar e em algumas fontes artificiais.
Essa sensibilidade provoca danos cumulativos ao DNA das células da pele, o que aumenta de forma significativa o risco de desenvolver câncer cutâneo, especialmente em idade precoce. Embora seja uma condição rara, pode ocorrer em qualquer pessoa, independentemente de sexo ou etnia. A proteção solar precisa ser contínua e rigorosa, combinando filtros solares de alta eficácia, barreiras físicas (chapéus, roupas, óculos) e, quando necessário, intervenções médicas para remoção de lesões.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *