Especialista faz alerta sobre como a exclusão dessas pessoas nas ações de conscientização comprometem prevenção e podem agravar desigualdades em saúde
Estamos entrando no mês da conscientização e prevenção do câncer de mama, o Outubro Rosa, seguido pelo Novembro Azul, que foca na prevenção e diagnóstico precoce do câncer de próstata. No entanto, essas fundamentais campanhas ainda deixam de fora uma parcela significativa da população: as pessoas transgênero.
Muitas diretrizes de rastreamento dessas doenças ainda não incluem no escopo pessoas trans apesar das emergentes recomendações feitas por sociedades médicas. A ausência de formação específica dos profissionais da saúde no que tange à saúde dessa população também é notória.
Soma-se ao preocupante cenário o afastamento das pessoas trans dos equipamentos de saúde, como mostra uma pesquisa realizada em 2023, pela ANTRA, que evidenciou que 62% das pessoas transgênero evitaram buscar serviços médicos por medo de sofrerem preconceito. Além disso, 36% informaram já terem atendimento recusado por serem trans e 78% acredita que o Sistema Único de Saúde (SUS) não possui preparo para atendê-las.
“A invisibilidade nas campanhas é uma realidade que mantém afastadas do acesso à saúde as pessoas trans, reforça estigmas e pode levar ao diagnóstico tardio de várias doenças”, explica o médico endocrinologista Leonardo Alvares, professor, pesquisador e autor do livro Saúde de Pessoas Transgênero – Práticas Multidisciplinares.
O endocrinologista ressalta, por exemplo, que homens trans podem desenvolver câncer de mama ou de colo do útero. Já mulheres trans em hormonização, precisam estar atentas à saúde das mamas e, mesmo que já tenham realizado cirurgia de redesignação sexual, também da próstata. Contudo, materiais de conscientização, protocolos clínicos e até campanhas oficiais raramente contemplam essas especificidades.
Leonardo Alvares, que também desenvolve pesquisas pioneiras sobre saúde e performance de pessoas trans em parceria com instituições nacionais e internacionais, reforça que a solução passa pela inclusão. “Se o objetivo dessas campanhas é salvar vidas, precisamos garantir que todas as vidas sejam contempladas. Incluir pessoas trans em Outubro Rosa e Novembro Azul não é só representatividade, é uma ação concreta de cuidado, equidade e promoção da saúde”, conclui.