Andrea Beltran conta como o marketing de escassez e o gatilho emocional das promoções ativam comportamentos impulsivos, e ensina estratégias práticas para manter o equilíbrio

A Black Friday tornou-se um dos períodos mais aguardados do ano, mas também um dos mais desafiadores para quem luta contra a ansiedade e o consumo impulsivo. Segundo a psicóloga clínica Dra. Andrea Beltran, o ambiente de descontos, contagens regressivas e comunicações que apelam à urgência ativa áreas do cérebro ligadas à recompensa imediata e pode gerar comportamentos semelhantes aos observados em compulsões.
“Durante a Black Friday, há uma combinação poderosa de estímulos: o medo de perder uma oportunidade (‘FOMO’), o excesso de informações e o apelo emocional das marcas. Tudo isso cria um estado de alerta constante, aumentando a ansiedade e levando o consumidor a agir por impulso, e não por necessidade”, explica a Dra.
De acordo com a especialista, essa resposta é natural e controlável. O primeiro passo é reconhecer os gatilhos emocionais e compreender que o prazer da compra rápida é momentâneo. “Muitas vezes, a sensação de bem-estar vem da antecipação, não do produto em si. Entender isso ajuda a reduzir o impulso”, complementa.
Um levantamento recente da Boston Consulting Group (BCG) mostrou que 79% dos consumidores em 10 países pretendem participar das promoções de final de ano, incluindo a Black Friday, enquanto 48% afirmam já ter usado ou pretendem usar ferramentas de inteligência artificial generativa para orientar as compras. O estudo destaca que o ambiente digital, cada vez mais personalizado e orientado por dados, tende a amplificar o estímulo ao consumo rápido e à busca por recompensas imediatas.
Para manter o equilíbrio emocional e financeiro durante o período, a psicóloga recomenda planejar com antecedência o que realmente é necessário e definir um limite de gastos. Evitar navegar sem propósito por sites e notificações de promoções também reduz o risco de decisões precipitadas. “Um bom exercício é fazer uma pausa consciente antes de clicar em ‘comprar’. Respirar fundo e esperar alguns minutos ajuda o cérebro a sair do modo automático”, orienta.
Cuidado com o estado emocional
A Dra. Andrea Beltran também ressalta que o contexto emocional influencia diretamente o comportamento de consumo. Compras feitas em momentos de estresse, cansaço ou carência emocional tendem a ser mais impulsivas. Nesses casos, a recomendação é substituir o “clique da recompensa” por pequenas ações de autocuidado, como uma pausa, um descanso, uma caminhada ou atividades que proporcionem prazer sem envolvimento financeiro.
“A ideia não é demonizar a Black Friday, mas entender que ela mobiliza emoções poderosas. O consumo pode ser saudável quando há consciência, intenção e controle emocional”, reforça.
A especialista ainda alerta que o consumo impulsivo pode estar associado a questões mais profundas de ansiedade e autoestima, especialmente quando se torna frequente. “Se a pessoa percebe que as compras são uma forma de aliviar angústias ou preencher vazios emocionais, é importante buscar ajuda profissional para compreender e trabalhar essas causas”, conclui a Dra.


