Masturbação faz mal à saúde? O que estudos científicos realmente mostram


Ao longo das últimas décadas, a masturbação deixou de ser tratada apenas como tabu e passou a ser investigada pela ciência. Pesquisas observacionais e revisões publicadas na revista científica Archives of Sexual Behavior analisaram seus efeitos sobre o corpo, bem-estar e ajudam a entender em que situações a prática é neutra, benéfica ou merece atenção.

Os estudos mostram que os possíveis impactos não estão ligados à frequência em si, mas ao contexto em que a masturbação acontece —especialmente quando aparece associada a sofrimento psicológico, culpa intensa ou comportamento compulsivo.

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Na prática clínica, essa leitura é compartilhada por especialistas. “A masturbação é uma resposta fisiológica do corpo e faz parte da sexualidade humana”, explica Lilian Fiorelli, ginecologista e especialista em Sexualidade Feminina e Uroginecologia.

“Do ponto de vista médico, não há evidência de que ela faça mal à saúde, ao contrário. O que precisa ser avaliado é o contexto em que acontece.”

Essa distinção aparece de forma consistente na literatura científica. Estudos publicados em 2019 e 2022 no Archives of Sexual Behavior apontam que eventuais associações negativas —como pior satisfação sexual ou desconforto emocional— surgem principalmente quando a masturbação está ligada à ansiedade, conflitos internos ou imagem corporal negativa, e não ao ato em si.

Estudo aponta que masturbação pode ajudar a aliviar sintomas da menopausa. — Foto: Deon Black/Pexels

Orgasmo e resposta hormonal

Do ponto de vista fisiológico, o orgasmo —seja por meio da masturbação ou da relação sexual— desencadeia uma resposta neuroendócrina bem documentada. Pesquisas experimentais mostram liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e ocitocina, além da redução do cortisol, o hormônio relacionado ao estresse.

“Essa resposta ajuda a explicar por que muitas pessoas relatam sensação de relaxamento, melhora do humor e até facilidade para dormir após o orgasmo”, explica Lilian Fiorelli.

Estudos que analisaram essa resposta indicam que os efeitos são transitórios, mas reais, sem evidência de danos ao organismo.

A resposta hormonal associada ao orgasmo ajuda a entender por que a masturbação costuma ser relacionada à redução de estresse e tensão. A literatura científica aponta que o aumento de endorfinas após o clímax pode contribuir para alívio momentâneo de dores, como cefaleia e cólicas menstruais, além de favorecer um estado geral de relaxamento.

“Não se trata de um tratamento médico”, ressalta Lilian. “Mas a masturbação pode funcionar como um modulador natural do estresse, assim como outras atividades que promovem bem-estar.”

Esse efeito também ajuda a explicar relatos frequentes de melhora do sono. A queda do cortisol e a liberação de ocitocina após o orgasmo criam um ambiente fisiológico mais favorável ao descanso, embora especialistas ressaltem que isso não substitui cuidados estruturais com o sono.

Autoconhecimento e saúde sexual

Além dos efeitos físicos, a masturbação aparece associada ao autoconhecimento corporal, especialmente entre mulheres. Ainda segundo o estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Oslo, publicado no Archives of Sexual Behavior, a prática pode contribuir para maior consciência do próprio corpo, facilitando a identificação de estímulos prazerosos e de limites.

“Conhecer o próprio corpo ajuda a mulher a se comunicar melhor sobre prazer e desconforto”, explica Lilian. “Isso pode refletir positivamente na vida sexual com parceiros, embora essa relação varie muito de pessoa para pessoa.”

Outro estudo, esse desenvolvido por pesquisadores da Universidade Johannes Gutenberg de Mainz, mostra que a masturbação pode coexistir com uma vida sexual satisfatória ou surgir como alternativa em períodos de menor desejo ou dificuldades na relação —sem que isso represente, por si só, um problema de saúde.

Em que situações a prática pode ser indicada

Na prática clínica, a masturbação pode ser orientada como parte do cuidado em saúde sexual em contextos específicos, como na perimenopausa e na pós-menopausa. Com a queda do estrogênio, a mucosa vaginal tende a ficar mais fina, menos elástica e menos lubrificada, o que pode causar dor durante a relação.

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