Desde o início da pandemia, estudos têm indicado que homens são afetados mais gravemente pelo novo coronavírus do que mulheres. Uma pesquisa brasileira mostrou que o vírus também pode afetar a saúde sexual e reprodutiva deles.
Em uma entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Jorge Hallak, da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e do Grupo de Estudo em Saúde Masculina do IEA (Instituto de Estudos Avançados), afirmou que outras doenças virais, como a caxumba e o zika vírus, causam impactos significativos na saúde de homens. “Fizemos um levantamento e vimos que outros 27 tipos vírus afetam o testículo e a saúde sexual e reprodutiva do homem. Está havendo um capítulo novo entre a virologia e a andrologia, que estuda a saúde do homem”.
Na pesquisa realizada na FMUSP, foram avaliados pacientes na fase aguda da covid-19, com objetivo de tentar identificar o vírus no sêmen ejaculado. Hallak conta que esse processo não é tão simples, uma vez que os doentes sofrem com cansaço, tornando difícil garantir a amostra necessária via masturbação.
As evidências iniciais mostraram que o Sars-CoV-2 não foi encontrado no sêmen. “Entretanto, o que tem se revelado nas pesquisas que ainda estão em andamento é que o coronavírus tem um componente que afeta não só os testículos como também o epidídimo (ducto que coleta e armazena os espermatozoides)”, diz ele.
Por meio de um ultrassom, eles identificaram que uma porcentagem significativa de contaminados assintomáticos tiveram uma inflamação importante no epidídimo, diferente das infecções bacterianas. “Também vimos alterações das funções dos espermatozoides de maneira moderada, inclusive na qualidade deles, mas ainda não existe evidência de que o vírus possa deixar o indivíduo infértil”.
Os resultados da pesquisa brasileira se assemelham aos estudos internacionais realizados em países como a China.
Por meio de análises e testes, os pesquisadores também conseguiram verificar que o vírus pode afetar ainda mais as células responsáveis por produzir hormônios (como a testosterona) nos testículos, causando uma disfunção na quantidade deles no sangue. Já se sabe que esse é um efeito transitório e recuperável, mas ainda não foi descoberto o período necessário para que isso seja normalizado.
O que se sabe até o momento é que o vírus tem uma predileção pelo sistema reprodutivo masculino, de acordo com Hallak. Uma possível explicação é a quantidade de receptores do órgão: depois do pulmão, que é o mais afetado pela síndrome, pois a infecção ocorre por via aérea, os órgãos com mais receptores são os testículos, seguido pelo rim. “As evidências mostram que a proporção de infecção é a mesma para homens e mulheres, só que a gravidade é 50% maior em indivíduos do sexo masculino. Isso se deve a componentes biológicos, e não necessariamente socioambientais”, explica o professor.
fonte: UOL com informações do Jornal da Usp