Desenvolvedores da vacina receberam críticas por falta de transparência na divulgação dos resultados dos testes. Dados preliminares apresentados na segunda (23) apontaram que a vacina tinha, em média, 70% de eficácia.
O governo britânico anunciou nesta sexta-feira (27) que pediu à Autoridade de Regulamentação Sanitária de Medicamentos (MHRA) para examinar a vacina contra a Covid-19, desenvolvida pelo laboratório AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford.
“Pedimos oficialmente ao regulador sanitário para avaliar a vacina Oxford/AstraZeneca e determinar se atende a normas de segurança rigorosas”, informou em comunicado o ministro da Saúde, Matt Hancock. Se for aprovada, esta será uma “etapa importante rumo à produção de uma vacina o mais rapidamente possível”, acrescentou.
A MHRA já iniciou uma revisão contínua para determinar se a vacina de Oxford atende seus rígidos padrões de segurança, eficácia e qualidade.
O governo do Reino Unido diz que não há razão para ninguém se preocupar com os dados dos estudos clínicos da vacina e que qualquer dúvida sobre a segurança e eficácia da vacina será esclarecida com a avaliação independente da agência reguladora.
A vacina batizada de ChAdOx1 já tem previsão de distribuição no Brasil, entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021: o governo federal vai investir R$ 1,9 bilhão para produção de 100 milhões de doses.
Eficácia de até 90%
Na segunda-feira (23), os desenvolvedores da vacina anunciaram que, segundo os resultados dos testes clínicos realizados no Reino Unido e no Brasil, a combinação da meia dose com uma dose completa acabou tendo uma eficácia maior na proteção contra a doença, de 90%. Em contrapartida, a eficácia nos participantes que receberam as duas doses completas foi menor, de 62%.
Os cientistas de Oxford não souberam explicar o motivo da diferença.
Mene Pangalos, vice-presidente executivo da AstraZeneca, afirmou no mesmo dia que a meia dose aplicada em parte dos voluntários da vacina foi uma “casualidade”.
“O motivo de termos a meia dose é a casualidade”, disse Mene Pangalos, chefe de pesquisa e desenvolvimento não oncológico da AstraZeneca, à Reuters.
Na quinta-feira (26), o diretor da farmacêutica AstraZeneca afirmou que a vacina deve passar por um “estudo adicional” para reavaliar a eficácia de aplicar uma meia dose combinada com uma dose inteira da imunização.
Especialistas questionam dados
Os resultados dos testes da AstraZeneca foram criticados por cientistas nacionais e internacionais, que levantaram vários questionamentos.
No centro das preocupações está o fato de que o resultado mais promissor dos testes, de 90% de eficácia, vem de uma análise de subgrupo – uma técnica que muitos cientistas dizem que pode produzir leituras incorretas.
A transparência da empresa também foi criticada.
“A meia dose foi um erro, e pior, foi dada apenas para voluntários jovens. A empresa tentou encobrir o fato”, escreveu a microbiologista brasileira Natália Pasternak em uma rede social.
Além disso, Oxford/AstraZeneca não divulgaram partes importantes do estudo, como o número de casos de Covid-19 no grupo que teve 90% de eficácia, apontou a epidemiologista Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin de Vacinas.
fonte: G1