O Rio Grande do Norte apresentou um excesso de 3.108 mortes por causas naturais além do que era esperado para o ano de 2020. Apesar da mortalidade por Covid-19 ser maior entre a população idosa, em termos proporcionais, o excesso de mortalidade foi maior entre a população com menos de 60 anos, de acordo com análise realizada pelos pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Demografia (PPGDem) Ricardo Ojima e Victor Hugo Dias Diógenes junto aos dados fornecidos pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) e Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS), lançou o Painel de Análise do Excesso de Mortalidade por causas naturais no Brasil em 2020.
A pesquisa aponta que a diferença entre as mortes estatisticamente esperadas e o observado em 2020 para as pessoas com menos de 60 anos no RN foi de 33%. Ou seja, é bem provável que, se não fosse a pandemia, cerca de mil pessoas com menos de 60 anos teriam deixado de morrer no RN no ano passado. “Devido ao crescimento vegetativo e o processo de envelhecimento da população, seria esperado que ano após ano haja um aumento no número absoluto de mortes. Porém, devido aos efeitos diretos e indiretos da pandemia, o número de óbitos observados foi muito maior do que as tendências de anos anteriores apontavam”, explicam os pesquisadores no estudo.
Análise publicada no ONAS já havia apontado o Excesso de Mortalidade
Para chegar a esta conclusão dois indicadores são mais utilizados: os números de infectados e de óbitos atribuídos diretamente à doença. Porém, existem os chamados efeitos indiretos da pandemia na mortalidade da população para os quais a análise chama a atenção: as mortes que provavelmente não ocorreriam em situações normais, de não pandemia, como aquelas causadas pela sobrecarga dos hospitais e da infraestrutura médica assistencial; resistência pela busca de assistência médica; paralisação no tratamento de doenças, como câncer; etc.
Nos dados trazidos pelo Painel de Análise do Excesso de Mortalidade por causas naturais no Brasil 2020, existe uma projeção dos óbitos que o Brasil esperava ter em 2020 (óbitos esperados) com base na tendência observada nos últimos 5 anos (2015-2019). Essa projeção é comparada com o número de mortes efetivamente observadas no ano e a diferença entre a projeção e o observado é que convencionou-se chamar de “excesso de mortalidade”. Na avaliação do excesso de mortalidade foram excluídos os óbitos por causas externas, como homicídios, acidentes de trânsito, etc. e apenas os números relativos a óbitos por causas naturais foram utilizados.
O estudo também aponta a evolução do excedente de mortalidade ao longo dos meses do ano de 2020 e por semana epidemiológica no Rio Grande do Norte. “Percebe-se destacadamente que o excedente de mortalidade se concentrou entre as semanas epidemiológicas 20 e 36 (corresponde aproximadamente os meses de maio a agosto). Após esse período, com a retração do contágio, houve uma proximidade maior entre os óbitos observados e esperados, mas voltando a distanciarem nas últimas semanas do ano, quando coincide com o recrudescimento da doença não só no estado potiguar, mas também em todo o Brasil”, afirmam Ojima e Diógenes.
UFRN