Vacina desenvolvida em Ribeirão Preto é nova aposta do governo contra a Covid-19
A mais nova aposta do governo federal para o combate à pandemia de Covid-19 atende pelo nome de Versamune, vacina desenvolvida no Brasil e financiada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações, que protocolou junto à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) o pedido para que possam ser feitos os primeiros testes clínicos em humanos.
A Versamune é fruto de uma parceria entre a empresa brasileira Farmacore, com sede em Ribeirão Preto (SP), a americana PDS Biotechnology e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP).
Como funciona?
Em entrevista à CNN, a CEO da Farmacore, Helena Faccioli, explicou que, basicamente, a Versamune tem a proteína S-1, que impede que o vírus se conecte às células do corpo, evitando a instalação da doença.
Ainda que o vírus consiga se ligar à célula, o SARS-Cov-2 será combatido pelas células T ativadas por uma partícula nano lipídica também presente na vacina, – a grosso modo, é como uma partícula de gordura muito pequena.
Assim, a ação do imunizante se baseia na interação destes dois compostos. Se o trabalho da proteína S-1 falhar, as partículas nano lipídicas terão “treinado” as células T para o combate ao novo coronavírus, o que inclusive colabora para que pessoas que tenham contraído o vírus uma vez não passem por uma reinfecção.
Quantas doses devem ser tomadas?
Duas doses, com intervalo de 21 dias entre elas. Até o momento, os testes foram conduzidos em camundongos, e a resposta imunológica foi muito satisfatória: 98% dos animais não foram infectados pelo vírus. Dos que desenvolveram a doença, nenhum morreu.
Para o pesquisador Célio Lopes Silva, da FMRP-USP, a Versamune será mais efetiva na proteção contra o novo coronavírus do que as vacinas que estão sendo utilizadas atualmente por ser mais eficiente em matar as células infectadas.
Quanto tempo devem durar os testes?
De acordo com Helena Faccioli, a previsão é que os ensaios clínicos, em humanos, durem entre seis e nove meses.
Se a Anvisa liberar os ensaios clínicos, as empresas farão as primeiras duas fases de testes em cerca de 360 voluntários. O objetivo é avaliar se a vacina gera os anticorpos necessários e se não há efeitos colaterais graves.
Na sequência, vem a fase três, que deve contar com 20 mil a 30 mil voluntários e servirá para testar se o imunizante realmente vai oferecer a proteção necessária no dia a dia.
“Se é uma nova vacina, tem que obedecer todo o rito, fazer estudos de fase 1 e 2, que são mais rápidos. Em dois meses dá para fazê-los. Mas os ensaios de fase 3, utilizando uma população maior, de diferentes estados, demora um tempo”, explicou Júlio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Quando as doses devem estar prontas?
A CEO da Farmacore afirmou que a empresa está em negociação com uma indústria farmacêutica nacional e que as doses devem ser fabricadas em paralalo com os testes clínicos. A expectativa é que assim que os testes forem finalizados, a Versamune já consiga atender entre 30% e 40% da demanda brasileira por vacinas.
Ela espera que entre janeiro e fevereiro de 2022 a Anvisa já esteja analisando um pedido de uso emergencial da vacina. Se for aprovado, a distribuição pode ser feita imediatamente.
“Como é um processo simples e fácil, devemos ter uma capacidade de atender pelo menos 50% da necessidade de doses ao ano. Vamos trabalhar junto com o Ministério da Ciência e Tecnologia para para abastecer o mercado interno, produzindo entre 400 e 500 milhões de doses”, afirmou Faccioli.
A logística deve ser facilitada porque a vacina é feita para ser armazenada em refrigeradores comuns, em temperaturas que vão de 6ºC a 8ºC. Além de abastecer o mercado doméstico, a Farmacore quer que a Versamune também atenda outros países da América Latina.
Quem está pagando?
“Recebemos um financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia para execução de grande parte dos testes clínicos, mas os investimentos iniciais foram feitos pela própria empresa”, diz Helena Faccioli, que estima gasto de R$ 20 milhões até aqui.
As fases 1 e 2 devem demandar mais R$ 30 milhões, e a CEO garante que “o governo já sinalizou que tem o recurso”.
A fase 3, a mais cara, deve demandar mais R$ 300 milhões. “Tem que contratar mais cinco, seis centros clínicos pelo Brasil, cada um com sete a oito mil voluntários”, explica Faccioli, que já trabalha em uma “articulação” com a pasta para que esses gastos futuros também fiquem por conta do governo federal.
“Mas o processo ainda precisa seguir fase a fase para que também possamos avançar nas próximas etapas de recursos”, pontua.
Empresa tem experiência no mercado veterinário
Além da Versamune, a Farmacore também desenvolve uma vacina contra a tuberculose, atualmente em período de testes. No entanto, a empresa tem mais experiência da produção de medicamentos de uso veterinário, com foco em cães, vacas, salmões e até uma vacina de uso oral para tilápias.
No site da empresa, o Imunivax é apresentado como principal produto já desenvolvido. Trata-se de medicamento de uso veterinário voltado para o tratamento de câncer, dermatite, doenças autoimunes e doenças infecciosas, principalmente em cães.
No caso do Imunivax, a USP também aparece como parceira da Farmacore, à semelhança do que ocorre com a Versamune. A universidade detém 30% da titularidade da patente do medicamento, enquanto a empresa tem 70%.
Quantas vacinas brasileiras temos?
De acordo com o Ministério da Saúde, são monitorados 17 estudos nacionais de possíveis vacinas contra a Covid-19, de diferentes origens. Nesta semana, dois desses estudos concluíram a fase de estudos pré-clínicos e pediram autorização para começar os testes em seres humanos.
Uma é a Versamune-CoV-2FC, da Farmacore, e a outra é a Butanvac, vacina brasileira desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a Dynavax e a PATH.
CNN Brasil