Vegetais da Caatinga: 3 produtos com origem no Rio Grande do Norte são considerados promissores para o mercado de cosméticos naturais


Maior mapeamento de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias já realizado no Brasil destaca três espécies vegetais da caatinga com potencial para mercados diferenciados

Hoje, 28 de abril, é Dia Nacional da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro que abriga três espécies vegetais com potencial para mercados diferenciados, de acordo com mapeamento realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Extrato de melão de São Caetano, extrato de arnica e cera de carnaúba estão entre as 26 cadeias de valor identificadas pelo projeto ArticulaFito – Cadeias de Valor em Plantas Medicinais, o maior mapeamento de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias já realizado no Brasil. Os três produtos – frutos da caatinga e com origem no Rio Grande do Norte (RN) – são considerados promissores para o mercado de cosméticos naturais.

A coordenadora técnica e executiva do ArticulaFito, Joseane Carvalho Costa, que é pesquisadora da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), explica que cadeias de valor são sistemas produtivos que utilizam de forma sustentável recursos da sociobiodiversidade e contribuem com a conservação ambiental, o desenvolvimento econômico e a redução de desigualdades. “Por terem agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais em suas bases produtivas, essas cadeias agregam valores étnicos, históricos, sociais, culturais e ambientais aos seus produtos. Assim, o fortalecimento das cadeias de valor de produtos da sociobiodiversidade representa grande oportunidade para o desenvolvimento econômico local, a partir de ações que integrem produção sustentável e geração de renda, aliando conservação da biodiversidade e empoderamento social das populações extrativistas e dos agricultores familiares”, afirma.

A caatinga ocupa 10% do território nacional. Além do Rio Grande do Norte, está presente em mais nove estados: Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Piauí, Sergipe e no norte de Minas Gerais. Apesar de abrigar fauna e flora únicas na biodiversidade, o bioma enfrenta problemas crônicos de degradação e sofre com desmatamento, queimadas e poluição. Sistemas produtivos sustentáveis – como as cadeias de valor mapeadas pelo ArticulaFito – são fundamentais para promover a sua proteção, pois combinam a produção e colheita de plantas medicinais, aromáticas, condimentares e alimentícias com o compromisso com o planeta Terra e as futuras gerações.

Frutos da caatinga

O mapeamento realizado pelo ArticulaFito retrata a situação atual dessas cadeias de valor, descreve as visões de futuro dos empreendimentos e aponta os problemas a serem superados, assim como as oportunidades encontradas em cada contexto. “Um grande desafio é a repartição justa e equitativa dos benefícios adquiridos a partir de produtos da sociobiodiversidade, uma vez que grande parte do lucro obtido com essas atividades não retorna para as comunidades tradicionais e os agricultores familiares que estão na base produtiva. Reconhecemos que os conflitos de interesses existem e servem para sinalizar a necessidade de uma mediação dialogada, processual, transformadora, visando superar as dificuldades e alcançar os resultados comuns, almejados por todos na visão de futuro”, pontua Joseane.

 

A cera de carnaúba é um exemplo: 80% da produção é vendida como matéria-prima para o mercado externo e retorna em produtos com alto valor agregado para o consumidor brasileiro. “Esta é uma cadeia extrativista tradicional, que pouco se modificou após séculos de exploração. A partir da extração da carnaúba e da transformação do pó cerífero em cera bruta, todos os processos são realizados fora da região, ou do país. Com isso, a maior parte dos recursos financeiros movimentados não retorna para as comunidades tradicionais”, avalia Joseane.

 

Em relação à produção do melão de São Caetano, a coordenadora técnica e executiva do ArticulaFito destaca que ainda é preciso estabelecer preços justos entre os diversos elos da cadeia produtiva e promover a valorização das finalidades medicinais da espécie, que vem sendo cada vez mais estudada. “O mapeamento indica que há oportunidades para ampliar a produção, a comercialização e trazer benefícios diretos para a comunidade. Está em sua visão de futuro ingressar no mercado de fitocosméticos (sabonetes sólidos e líquidos, shampoos, géis e cremes, etc) e no de fitoterápicos (emulsões, pomadas e géis)”, descreve a pesquisadora da Unifesspa.  A arnica, por sua vez, já vem gerando renda para as comunidades produtoras. “É um cenário promissor, que pode ser potencializado se houver uma relação próxima, de troca de experiências e aprendizado, entre empresas e comunidades. É importante estruturar uma justa repartição dos benefícios gerados com a venda dos produtos finais”, aponta Joseane.

 

A partir dos mapeamentos do ArticulaFito,  visa-se estabelecer estratégias de governança para propiciar um ambiente de equilíbrio e diálogo constante entre os diferentes atores ligados ao desenvolvimento de uma cadeia de valor, incluindo os tomadores de decisão. Além disso, com os mapeamentos foi possível identificar a necessidade de “Promovemos capacitação e apoio técnico especializado para adequar os empreendimentos às boas práticas de produção e à legislação fitossanitária vigente, para que as comunidade tradicionais e os agricultores familiares possam acessar, com segurança e qualidade, os mercados diferenciados, pautados em valores como a equidade de gênero, nos conhecimentos e saberes tradicionais, na conservação e no uso sustentável da biodiversidade brasileira”, conta Joseane. Com a pandemia de covid-19, as oficinas de capacitação passaram a ser realizadas virtualmente e estão disponíveis em acesso aberto no canal do ArticulaFito no YouTube: www.youtube.com/articulafito.

 

Conheça as Cadeias de Valor em Plantas Medicinais mapeadas pelo ArticulaFito:

 

Fitoterapia: extrato seco e chá medicinal de calêndula; extrato seco e chá medicinal de espinheira santa; chá medicinal de guaco; produtos tradicionais de capim cidreira; pó de carapiá; semente de umburana; chá de cavalinha; pílula artesanal de babosa; chá medicinal de hortelã; semente de sucupira; extrato de pilocarpina das folhas de jaborandi.

 

Cosméticos: vagem de fava d’anta; extrato de melão de São Caetano; extrato de arnica; cera de carnaúba; óleo e sabonete de copaíba; óleo de andiroba; óleo de pracaxi; repelente de andiroba; óleo e cosméticos de buriti; manteiga de tucumã e óleo do bicho do tucumã.

 

Alimentos: óleo de macaúba; óleo extravirgem e farinha de babaçu; amêndoas de castanha do Pará; jambu in natura e cachaça de jambu; bacuri in natura, polpa, semente e casca e manteiga de bacuri.

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