Maiores quedas estão em imunizações que devem ser feitas até os seis meses para evitar doenças graves, como tuberculose, meningite e paralisia infantil
Dados do Ministério da Saúde mostram que a cobertura vacinal de imunizantes indicados para crianças caiu ano a ano entre 2018 e 2020. Segundo a pasta, as vacinas BCG, hepatite B (ambas para recém-nascidos), rotavírus humano, pneumocócica e poliomielite estão no topo da lista – todas devem ser administradas até os seis meses de idade, para evitar doenças fatais.
Imunologistas consultados pela CNN apontam que o medo de reações adversas, as campanhas contra vacinas e a desinformação estão entre os motivos para a queda na cobertura vacinal. A pandemia de Covid-19 também pode ter contribuído para a diminuição da vacinação.
Segundo os dados do Ministério da Saúde, a taxa de cobertura da vacina BCG (que previne contra tuberculose grave) foi de 99,72% em 2018, caiu para 86,67% em 2019 e chegou a 73,38% em 2020, uma queda de 26,4% em dois anos.
A vacina contra a hepatite B, que, assim como a BCG, deve ser administrada até o primeiro mês da criança, também viu sua cobertura cair no mesmo período. Em 2018, 88,40% da população indicada foi vacinada, enquanto em 2019, a cobertura baixou para 78,57%,chegando a 62,97% em 2020.
A cobertura da vacina contra o rotavírus humano (que evita a gastroenterite em bebês) também sofreu queda nos últimos dois anos, segundo o levantamento do Ministério da Saúde. Em 2018, a vacina que deve ser administrada em duas ou três doses entre os dois e sete meses de idade alcançou uma cobertura de 91,33%; em 2019, caiu para 85,40%, e em 2020 chegou a 77,01% de cobertura.
As vacinas meningogócica (ou meningococo) C, pentavalente (contra difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e doenças causadas por Haemophilus influenzae tipo b); pneumocócica (que evita pneumonia e meningite) e poliomielite (que evita a paralisia cerebral) – todas que devem ser oferecidas antes da criança completar meio ano de vida – estão na sequência também com quedas na cobertura ano a ano.
Desinformação e pandemia
Segundo a imunologista Lorena de Castro Diniz, da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai), há três fatores que explicam a queda nas coberturas vacinais. A primeira é o fato de o Programa Nacional de Imunizações (PNI) ter conseguido, ao longo dos anos, erradicar doenças do país, como a poliomielite, fazendo com que novas gerações deixem de dar valor necessário à imunização.
A segunda é a disseminação de campanhas anti-vacinação, com base em notícias falsas, que descredibilizam a necessidade de doses. Por último, a pandemia de Covid-19, que fez as pessoas se esquecerem da importância de outras vacinas.
Queda em vacinas que evitam doenças graves
Para Diniz, tais atitudes são perigosas, porque as vacinas indicadas são importantes para prevenir males que podem ser graves e até fatais em crianças. “São doenças de alta letalidade ou mortalidade. Com essas baixas coberturas, elas tendem a voltar e ficar descontroladas, criando novas epidemias ou pandemias”, ressalta.
A imunologista ressalta que as crianças sempre foram o público com as maiores taxas de cobertura, justamente por ser o mais vulnerável a doenças, por isso essa queda é preocupante. Ela cita a queda da vacinação contra a poliomielite, que evita a paralisia infantil, e a de vacinas que previnem contra a meningite – duas doenças graves. Segundo a especialista, essas doenças podem ressurgir, assim como aconteceu com o sarampo, que voltou com força no Brasil nos últimos anos.
“Estamos com baixíssimas coberturas para paralisa infantil, doença que teve o seu surto há cerca de quarenta anos, deixou muitas pessoas sequeladas, vivendo durante anos no respirador, na ventilação mecânica ou que levava óbito”, afirma.
Consequências da queda na cobertura
Quanto mais pessoas deixarem de se vacinar, maior a chance de vírus ou outros patógenos que deixaram de circular no país ressurjgirem de formas até mais agressivas, o que pode provocar novas pandemias, afirma o imunologista Antonio Condino Neto, presidente do Departamento de Imunologia da Sociedade Brasileira de Pediatria.
O imunologista ressalta a importância de manter a caderneta de vacinação em dia para todas as faixas etárias que têm vacinas ofertadas pelo PNI. “É importantíssimo que as vacinas para cada faixa etária sejam atualizadas, e o cartão de vacina seja totalmente preenchido. Vacinação é para a família, não é só para crianças”, explica.
O que diz o Ministério da Saúde
O Ministério da Saúde afirma que a pasta vem reforçando ações e estratégias necessárias para ampliar as coberturas vacinais e reverter as consequências provocadas pela pandemia da Covid-19. Uma delas foi a criação do Movimento Vacina Brasil, lançado em 2019 para mobilizar a população sobre a importância da vacinação e afastar o risco de reintrodução de doenças já erradicadas no país, informou em nota enviada à CNN.
De acordo com a pasta, são realizadas, constantemente, reuniões com as equipes técnicas de vacinação estaduais, para monitorar as estratégias locais de busca ativa da população para completar a carteira de vacinação, além de ações de multivacinação; campanhas nacionais, como a de sarampo, poliomielite, influenza e imunização de rotina.
“Para garantir a ampliação da cobertura vacinal na Atenção Primária à Saúde (APS), o Ministério adota, ainda, estratégias em conjunto com os gestores locais do SUS. Entre elas, estão a disponibilidade de sala de vacina aberta em todo horário de funcionamento da unidade de saúde, aproveitar consultas ou outros procedimentos para realizar a vacinação, orientar a população sobre atualização vacinal e combater informações falsas”.
CNN BRASIL