Estudos sugerem que a proteção contra o coronavírus seria mais ampla com essa estratégia de vacinação. Mas nem toda combinação faria sentido
Alexandre Raith, da Agência Einstein
Para aprimorar as campanhas de vacinação contra a Covid-19, cientistas vêm tentando descobrir se a combinação de imunizantes de fabricantes diferentes estimularia ainda mais a resposta imunológica do organismo contra o coronavírus. Os resultados das pesquisas disponíveis hoje ainda não são conclusivos, mas têm se mostrado positivos.
Um estudo alemão, por exemplo, indicou que voluntários que tomaram a primeira dose da AstraZeneca e a segunda da Pfizer/BioNTech apresentaram uma resposta imunológica mais ampla, com produção de diferentes anticorpos e células de defesa. Isso em comparação a pessoas que receberam as duas aplicações com o produto da AstraZeneca. Uma conclusão similar foi obtida na Espanha, após um teste com 663 pessoas. Faltam investigações que avaliem se, na prática, essa ativação mais completa do sistema imunológico se reverteria em maior proteção, especialmente diante de variantes do Sars-CoV-2 (versões do vírus que acumularam certas mutações).
Já uma pesquisa britânica ressaltou a segurança de administrar a combinação de vacinas AstraZeneca e Pfizer/BioNTech. Os participantes que a receberam inclusive apresentaram efeitos colaterais mais leves do que quem recorreu a duas doses do mesmo produto.
Na opinião de Luiz Vicente Rizzo, imunologista e diretor superintendente de Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein, essa estratégia é promissora. “Durante a pandemia, foram desenvolvidas vacinas com plataformas diferentes, que são capazes de induzir melhor um ou outro tipo de resposta imune”, explica. “É provável que as combinações façam com que a pessoa vacinada tenha uma imunização mais completa. Até o final do ano teremos dados confiáveis”, projeta.
Outro benefício possível da combinação seria o aumento do tempo de proteção contra o coronavírus. “Quanto mais se estimula a resposta imune por vias diferentes, maior a chance de ela ser duradoura. A menos que surja uma variante capaz de escapar da defesa imunológica”, analisa Rizzo.
O surgimento constante de variantes do coronavírus e as altas taxas de infecção pelo mundo inclusive funcionam como estímulo para esquemas de vacinação com produtos diversos. “Isso acontecerá mais cedo ou mais tarde, como alternativa aos métodos propostos hoje, ou até como tratamento principal”, afirma Rizzo.
Dois países servem como exemplo. Canadá e Chile já recomendam que indivíduos que tomaram a primeira dose com a AstraZeneca completem o esquema com o imunizante da Pfizer ou da Moderna.
Entretanto, nem toda combinação carrega muito potencial. Entre outras razões, as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca têm sido testadas em conjunto com frequência porque possuem métodos distintos para gerar uma resposta imune contra o Sars-CoV-2. A primeira usa a tecnologia de mRNA, que introduz um pedaço do código genético do vírus, instigando o sistema imunológico a criar defesas contra o agente infeccioso em si. Já a segunda se baseia em um vetor viral: um adenovírus modificado geneticamente para não gerar estragos carrega uma proteína do coronavírus, que também estimula a resposta imune.
Em resumo, essas vacinas promovem uma proteção por meios diferentes. Especula-se que imunizantes que utilizem o mesmo método para resguardar as pessoas da Covid-19 seriam menos promissores quando combinados. Respostas definitivas, no entanto, só virão com mais pesquisas, que de fato avaliem desfechos clínicos.
(Fonte: Agência Einstein)