Informação é a principal aliada na luta contra o câncer infanto-juvenil
O diagnóstico precoce de câncer das potiguares Maria Luiza Agripino e Hemilly Smith, de 13 e 12 anos, respectivamente, foi considerado por seus médicos como fator primordial para o sucesso do tratamento contra a doença. No Brasil, para o ano 2018, o INCA estimou 12.500 novos casos de câncer infantil, sendo em torno de 150 casos no Rio Grande do Norte. Para conscientizar a sociedade sobre o diagnóstico precoce de câncer infantil foi lançada em 2015 a campanha “Setembro Dourado”.
A campanha tem desenvolvido uma cultura de alerta para o câncer infanto-juvenil no intuito de que os responsáveis (pais, parentes, professores e todos que lidam com esse público) possam trazer as crianças e adolescentes em tempo hábil para um tratamento menos invasivo e doloroso, possibilitando assim maiores chances de cura, sem sequelas. “Também temos conseguido mobilizar entes públicos e setores da iniciativa privada para abraçarem a causa e a divulgação do diagnóstico precoce”, frisou.
A médica Annick Beaugrand, oncologista pediatra, explicou que o câncer infanto-juvenil corresponde a um grupo de várias doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. Diferentemente do câncer do adulto, o câncer infanto-juvenil geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação.
Por serem predominantemente de natureza embrionária, tumores na criança e no adolescente são constituídos de células indiferenciadas, o que, geralmente, proporciona melhor resposta aos tratamentos atuais. Os tumores mais frequentes na infância e na adolescência são as leucemias (que afetam os glóbulos brancos), os que atingem o sistema nervoso central e os linfomas (sistema linfático).
“Os pais devem estar alertas ao fato de que a criança não inventa sintomas. Ao sinal de alguma anormalidade, devem levar seus filhos ao pediatra para avaliação. Os sintomas geralmente estão relacionados a doenças comuns na infância, mas isto não deve ser motivo para descartar a visita ao médico”, alertou.
O diretor da Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, Rilder Campos, credita à desinformação dos pais, ao medo do diagnóstico de câncer ou mesmo ao desconhecimento dos médicos a demora frequente nos atuais diagnósticos. “Algumas vezes o diagnóstico é feito tardiamente pela apresentação clínica de determinado tipo de tumor não ser muito diferente de doenças comuns na infância. O conhecimento do médico sobre câncer é determinante para um diagnóstico seguro e rápido”, alertou.
Atualmente, em torno de 80% das crianças e adolescentes acometidos da doença podem ser curados, se diagnosticados precocemente e tratados em centros especializados, segundo Rilder Campos. A taxa de sobrevida média no Brasil é de 64%, de acordo com o INCA. “A maioria deles terá boa qualidade de vida após o tratamento adequado”, explicou.
Setembro Dourado
A campanha Setembro Dourado acontece desde 2015, sendo uma mobilização nacional promovida pela Confederação Nacional de Instituições de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente com Câncer (CONIACC). Em Natal, a campanha faz parte do calendário oficial de eventos do município através da Lei Municipal nº 6.540, de 13 de julho de 2015, e este ano será inserida no calendário estadual (RN), através da Lei Estadual Nº 10.519, de 30 de maio de 2019, que instituiu o Setembro Dourado como mês de conscientização e mobilização em prol da causa.
Em Natal, participam da campanha instituições de apoio como a Casa Durval Paiva e o GACC, além dos hospitais de referência no tratamento do câncer – Varela Santiago e Liga Norte-Riograndense contra o Câncer. E em Mossoró a Associação de Apoio aos Portadores de Câncer de Mossoró e Região (AAPCMR).
Durante o mês de setembro serão realizadas atividades divulgando os principais sinais de alerta para o diagnóstico do câncer infanto-juvenil, estimulando a investigação clínica do câncer, alertando a população quanto às chances de cura e captando novos voluntários. Este ano, serão realizadas audiências públicas, ações nos Centros de Referência de Assistência Social (Cras), Unidades Básicas de Saúde, escolas da rede municipal de Natal, estações de trem (CBTU), paradas de ônibus, com palestras, distribuição de panfletos e laços dourados, apresentação de peça com mamulengos, além de mobilização de influenciadores digitais para postagens de vídeo nas mídias sociais.
Histórias de superação
Foram quatro meses e sete médicos diferentes entre os primeiros sintomas e o diagnóstico. Nesse ínterim, médicos acreditavam que os sintomas que “Malu” sentia pudessem acusar uma virose ou até uma pneumonia. Após uma das manchas que apareciam em sua pele chamar atenção de uma médica, exames revelaram que se tratava de linfoma não-Hodgkin, tipo de câncer que tem origem nas células do sistema linfático e se espalha de maneira não ordenada. A jovem e sua família buscaram ajuda na Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva.
A adolescente afirma que não deixa de fazer praticamente nada e lamenta apenas não poder tomar banho de piscina ou de praia, devido a um catéter que foi instalado durante o tratamento quimioterápico. Malu cursa o 8º ano do Ensino Fundamental regularmente. Aos que estão enfrentando a doença, Malu aconselha ter fé e pensar que a doença é passageira. “Se pensarmos que é algo pior, isso vai entristecer. A nossa mente limpa e pensando positivo é o principal”, aconselhou.
A jovem Hemilly Smith tinha 8 anos quando foi diagnosticada com melanoma. A mãe, Cilene de Farias, percebeu um sinal vermelho atrás da orelha e, quando percebeu o crescimento do sinal, levou a menina a um médico. Quatro anos depois, com cirurgias e sessões preventivas de quimioterapia, a menina está curada.
“Foi um momento de desespero quando descobrimos o melanoma. Tudo foi Deus, porque ela encarou com uma naturalidade grande”, disse a mãe, que credita ao diagnóstico precoce a cura da menina. “Emily foi um milagre de Deus. Deus permitiu ver isso cedo”, disse.