Mais da metade da população brasileira negligencia o câncer no fígado


Pesquisa encomendada pelo Ibrafig destaca que 60% das pessoas não testaram, ou não sabem se foram testadas, para a hepatite C

Por Alexandre Raith, da Agência Einstein

A maior parte dos brasileiros se descuida quando o assunto é câncer no fígado. Dados de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostram que 60% da população não fez, ou não sabe se fez, testes para a detecção de hepatite C e 52% para hepatite B.

A convivência crônica com os vírus causadores das hepatites é uma das principais responsáveis pelo chamadocarcinoma hepatocelular (ou hepatocarcinoma), que é o tipo mais comum do câncer primário do fígado. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA),ocorre em mais de 80% dos casos e é considerado agressivo.

Contraditoriamente, oito em cada 10 entrevistados afirmaram que sabem que a testagem da hepatite estádisponível gratuitamente em unidades públicas de saúde. Apesar do conhecimento, 47% deles responderam que não realizam o exame por não sentirem necessidade ou dor, enquanto 46% demonstraram falta de interesse.

Segundo dados de 2019 do INCA, os cânceres do fígado e das vias biliares intra-hepáticas estão em sexto lugar na lista de mortalidade das neoplasias em homens no país. Entre as mulheres, ocupam a oitava posição. No mundo, de acordo com dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença é a terceira em óbitos. Vale lembrar que a hepatite C tem cura e a hepatite B possuiuma vacina eficaz e gratuita, disponibilizada pelo SUS.

A pesquisa da Ibrafig foi realizada pelo Instituto Datafolha, que entrevistou 1.995 pessoas acima de 18 anos, presencialmente, em 129 municípios das cinco regiões do país, entre os dias 8 e 15 de setembro. A margem de erro para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.

Câncer sem sintomas

Os exames das hepatites, em caso positivo, são essenciais para avaliar a evolução do hepatocarcinoma, geralmente assintomático e tratável no estágio inicial. Quando descoberto na fase em que os sintomas já se manifestam, os cuidados são prioritariamente paliativos e o prognóstico, menos otimista, segundo informações da Ibrafig.

Além das infecções pelas hepatites, este tipo de câncerpode surgir a partir do uso excessivo de bebidas alcoólicase a esteatose hepática, ou a gordura no fígado”. Outros tipos de tumor do órgão são as colangiocarcinomas(inflamação das vias biliares) e angiossarcomas (contato com substâncias carcinogênicas, como cloreto de vinil, arsenicais inorgânicos e solução de dióxido de tório, encontrados em agrotóxicos).

Esses tipos representam os cânceres primários do fígado que começam no próprio órgão. Há ainda tumores secundários ou metastáticos, cuja origem ocorre em outrolocal e, com a evolução da doença, chegam ao fígado. De acordo com o INCA, o tipo secundário mais comum vem a partir de tumores no intestino grosso ou no reto.

Dos sintomas que devem chamar atenção, segundo o INCA, estão:

– Dor abdominal;

– Massa abdominal;

– Distensão abdominal;

Perda de peso inexplicada;

– Perda de apetite;

Mal-estar;

– Icterícia (tom amarelado na pele e nos olhos);

– Amulo de líquido no abdome.

Hepatites virais

O Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, publicado em julho de 2020 pelo Ministério da Saúde, destaca que 74.864 pessoas morreram no Brasil, entre 2000 e 2018, em decorrência da doença.

Os cinco tipos de hepatite viral (A, B, C, D e E) são provocados por diferentes agentes infecciosos, e os sintomas mais comuns são cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras.

Há vacinas disponíveis apenas para os tipos A (crianças menores de cinco anos e pessoas com doença no fígado) e B (população em geral).

Prevenção

Evitar a infecção por hepatites virais, especialmente a B e C, diminui o risco do câncer no fígado. Outras medidas que podem ser tomadas:

Prevenir doenças metabólicas, como o acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática) e diabetes;

– Evitar o consumo de bebidas alcoólicas;

Nunca usar esteroides anabolizantes, a não ser com indicação médica específica;

– Evitar lesões pré-malignas, como os adenomas de fígado, relacionados ao uso de anticoncepcionais orais;

– Manter um peso corporal adequado;

– Não consumir alimentos contaminados por aflatoxina substância produzida por fungos/bolores encontrados no amendoim, milho e mandioca, quando armazenados em condições inadequadas;

– Não fumar e evitar a inalação da fumaça do cigarro.

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