Pesquisa mostrou que proteção da vacina contra a variante Gama aumenta 30% entre doses e chega a 87,6% contra hospitalizações e 77,9% contra Covid sintomática
Estudo de efetividade da vacina contra Covid-19 da AstraZeneca, produzida pela Fundação Oswaldo Cruz, mostrou que as aplicação das duas doses conferiu efetividade de 93,6% contra mortes; 87,6% contra hospitalizações e 77,9% contra a doença em sua forma sintomática em idosos dentro de um contexto de disseminação da variante Gama.
O estudo foi publicado nesta quinta-feira (28) na revista científica Nature Communications.
A pesquisa coordenada pelo infectologista Julio Croda, da Fiocruz do Mato Grosso do Sul, avaliou a efetividade do imunizante em 61.164 pessoas acima de 60 anos residentes no estado de São Paulo, que foram submetidas a exame de RT-PCR no chamado teste negativo: com parte dos pacientes testando positivo para Covid-19 em comparação com os que testaram negativo.
A pesquisa conduzida por 20 pesquisadores no Brasil, Estados Unidos e Espanha visou angariar dados sobre a efetividade da vacina da AstraZeneca/Fiocruz na população idosa em países com uma alta prevalência da variante Gama, identificada pela primeira vez em Manaus.
A escolha pelo estado de São Paulo foi por ele ser o mais populoso do país e que atravessou três ondas da pandemia de Covid-19, acumulando mais de 3,89 milhões de casos e 130 mil mortes até 9 de julho deste ano.
Durante a segunda e a terceira onda, a variante Gama aumentou sua circulação e chegou a uma prevalência de 80,2% de março a maio deste ano no estado, segundo dados da Fiocruz.
Importância da segunda dose
O estudo mostrou que 28 dias após a primeira dose, a efetividade da vacina era de 33,4% contra a Covid-19 sintomática, 55,1% contra hospitalização e 61,8% contra a morte entre idosos. Uma nova medição, 14 dias após a segunda dose, mostrou um aumento de 30% na proteção contra sintomas, internações e mortes.
“A conclusão do esquema vacinal da vacina ChAdOx1 [AstraZeneca] confere proteção significativamente aumentada em relação a uma dose apenas contra a Covid-19 branda e grave em indivíduos idosos durante a ampla circulação da variante Gama”, diz o estudo.
Os dados da pesquisa, portanto, indicaram que mesmo nos idosos, cuja efetividade dos imunizantes tende a ser menor, a vacina da AstraZeneca demonstrou alto poder de proteção.
“Sabemos que os idosos têm a questão da imunossenescência [alterações do sistema imunológico provocadas pelo envelhecimento], mas essa análise nos maiores de 60 anos mostra que, mesmo no contexto da circulação da Gama, o esquema vacinal completo garante uma boa proteção. Daí a necessidade de buscar os faltosos, encontrar todo mundo que não completou o esquema vacinal e garantir que tomem as duas doses”, disse Croda à Fiocruz.
Testes da coronavac
Croda também coordenou a pesquisa envolvendo a efetividade da Coronavac em idososs em São Paulo diante da circulação da Gama, publicada em agosto.
O trabalho avaliou mais de 55 mil pessoas acima de 70 anos que realizaram teste de RT-PCR para Covid-19 entre 17 de janeiro e 29 de abril de 2021 e mostrou uma efetividade de 61,2% do imunizante contra óbitos em idosos.
O pesquisador, no entanto, ressalta que as pesquisas não devem ser comparadas entre si porque o grupo de corte é diferente, com a Coronavac, que começou a ser aplicada antes, sendo usada por pessoas de 80, 90 anos.
Proteção contra a Delta
Croda observa que, mesmo diante do avanço da variante Delta, a vacina da AstraZeneca parece se manter efetiva.
“Se houvesse uma mudança, a gente ia verificar um aumento de casos e a aceleração dos óbitos. E não estamos observando isso até o momento. O Rio foi epicentro da Delta, e a tendência é de redução de hospitalização e morte. Acredito que as vacinas continuam funcionando para a Gama e a Delta”, disse Croda à Fiocruz.
“Ainda temos pouco tempo de circulação da Delta. Precisamos de mais dois ou três meses de predomínio dessa variante para fazer este mesmo tipo de avaliação”, completou.
CNN BRASIL