Vigilância ativa no câncer de próstata: abordagem não “abandona” paciente


Por Cristiane Santos, para a Agência Einstein

O diagnóstico de um câncer na próstata, segundo tipo mais comum entre os homens, nem sempre exige uma intervenção cirúrgica ou tratamento com radioterapia, medidas mais invasivas de controle. Em pacientes com tumores de baixo risco e pouco volume, e que receberam o diagnóstico precoce, uma abordagem possível é a vigilância ativa.

Apesar de parecer uma medida sem ação, a vigilância ativa consiste no acompanhamento contínuo da evolução da doença e, sempre que necessário, é acompanhada de intervenções ou mudanças no tratamento. Dentre as vantagens, evita que o paciente seja submetido a tratamentos desnecessários e diminui o risco de efeitos colaterais, como enjoos, náuseas e até a possibilidade de disfunção erétil e incontinência urinária.

De acordo com Rodolfo Borges dos Reis, diretor do departamento de Uro-Oncologia da Sociedade Brasileira de Urologia, esse tipo de cuidado se torna possível porque o tumor de próstata é sólido e tem um crescimento mais lento que outros tipos de câncer. Vigilância Ativa não é abandonar o paciente, mas dar a ele o acompanhamento necessário para o tipo de tumor que ele tem”, explica o especialista, que também é professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.

Vigilância ativa: perfil do paciente

A classificação de um tumor de baixo risco para a indicação da Vigilância Ativa tem como base os resultados de três exames:

Toque retal;
PSA – que mede a quantidade de antígenos específicos da próstata;
Biópsia confirmatória.

Por meio de uma coleta de sangue comum, o exame doPSA, que em português significa Antígeno Prostático Específico, analisa a quantidade desse antígeno produzido pelo tecido prostático. Se o órgão está inflamado ou desenvolveu um câncer, o exame apresentará uma concentração de PSA maior. Para que o paciente receba a indicação da vigilância ativa, o ideal é que esteja abaixo de 10 ng/mL (nanogramas por mililitro).

No caso da biópsia, a indicação da vigilância considera a identificação do tumor em até 2 dos 12 fragmentos do tecido prostático avaliados. Outro fator é a análise de agressividade do câncer a partir da escala de Gleason, que considera como baixo risco a pontuação até 6.

“Juntos esses exames podem indicar o risco de crescimento rápido do tumor e agressividade dele. Quando eles indicam baixo risco, existe a recomendação de Vigilância Ativa”, afirma Alex Meller, médico urologista e professor de Urologia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Protocolo Médico

Ao ser selecionado para a vigilância ativa, o paciente deve se comprometer com o tratamento que inclui:

Realização do PSA e toque retal a cada três meses;
Nova biópsia a cada dois anos;
Ressonância magnética a cada 12 meses.

“Não é um check-up. É o acompanhamento de perto da doença que vai permitir perceber se o tumor cresceu ou se tornou mais agressivo e indicar a manutenção da vigilância ou a necessidade de outro tipo de intervenção que só funciona com o comprometimento do paciente”, continua Alex Meller, da Unifesp.

O médico conta que, apesar deste tratamento existir há mais de 15 anos e ter resultados positivos comprovados cientificamente, é comum que os pacientes negligenciem ou abandonem o tratamento. “É um desafio. Estudos mostram que metade desistiu da vigilância ativa por algum motivo emocional. Muitos deles diziam que não conseguiam viver sabendo que tinham câncer e que preferiram outros tipos de intervenção”. Outros, cerca de 1/4, simplesmente não dá continuidade ao acompanhamento.

“Diagnosticado precocemente e com tratamento correto, as chances de cura do câncer de próstata podem chegar a 90%. O entendimento das pessoas que a vigilância ativa não traz nenhum prejuízo para a saúde está muito relacionado a forma como esse tema é abordado pelo profissional de saúde. É lógico que existe toda essa pressão pela eliminação do tumor e a questão psicológica, mas isso tem melhorado muito porque os médicos estão cada vez mais preparados para tratar o assunto”, encerra o médico Rodolfo Borges dos Reis, da USP Ribeirão Preto.

No Brasil, não há estudos que mostram o percentual de pacientes com câncer de próstata que são submetidos a este tratamento. Mas, nos Estados Unidos, por exemplo, a taxa é de 40%, de acordo com dados divulgados pela Escola de Medicina Johns Hopkins.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), estima-se que, anualmente, sejam diagnosticados cerca de 65 mil novos casos da doença no país.

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