Ainda são necessárias mais informações para ter certeza da severidade da doença provocada pela nova variante
Por Isabella Sanches, da Agência Einstein
Identificada na África do Sul, a nova variante do Sars-CoV-2 batizada de Ômicron foi classificada pelaOrganização Mundial da Saúde (OMS) como uma variante de preocupação no fim de novembro. Dois motivos levaram a isso:
Ser mais transmissível não significa, necessariamente, que essa variante gere uma doença mais grave, segundo explica Fernando Spilki, especialista em virologia e coordenador da Rede Corona-ômica.BR–MCTI, que atua no sequenciamento do genoma de amostras do novo coronavírus no Brasil. Para esse tipo de afirmação, é preciso cautela e tempo.
Confira mais informações sobre a Ômicron e o cenário do Brasil daqui para frente no contexto da pandemia, de acordo com informações de Spilki, que também é responsável pelo Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade FEEVALE, no Rio Grande do Sul.
Quais são as principais características da Ômicron e por que se tornou preocupante?
Do ponto de vista do genoma e da estrutura de proteínas, essa variante reuniu várias mutações que já conhecíamos de outras cepas de preocupação do passado. É como se ela tivesse feito uma seleção de várias alterações genéticas de outras variantes.
Do ponto de vista da transmissibilidade, sabemos com certeza até agora que é alta. Já a virulência, ainda não sabemos: algumas notícias dão conta de que os quadros provocados são mais leves, mas temos também informações de aumento de casos de internação na província onde ela foi encontrada na África do Sul.
Por isso, precisamos de cautela. Ao longo do tempo, vimos as variantes se comportando de forma variada em diferentes cenários. Isso porque temos populações que estão mais vacinadas, outras menos vacinadas, com mais ou menos comorbidades, com características únicas e diferentes em cada região etc. Então, a questão da virulência ainda vai levar mais tempo para entender.Talvez nas próximas semanas fique mais claro.
As variantes sempre vão continuar surgindo? Como ocorre esse processo?
Sim, pois é impossível parar a evolução do vírus. É um processo em que o microrganismo vai escapando dos desafios que ele encontra; nesse caso, essencialmente do nosso sistema imunológico. Como é um processo que ocorre ao acaso, sem controle, quanto mais infecções o vírus provocar, melhor para ele, pois vai ter mais chances de mutar.
O que podemos fazer para reduzir as chances de surgimento de novas variantes?
O surgimento de novas cepas está atrelado à possibilidade de o vírus infectar um grande número de hospedeiros suscetíveis a ele. Por isso, a chave para impedir que isso ocorra é justamente impedir essas infecções e impedir que as pessoas transmitam o vírus. E as ferramentas que temos para isso são comportamentais, como evitar aglomerações, usar máscara, manter ambientes ventilados, e a vacinação. Com mais pessoas vacinadas, o número de mutações tende a ser menor, pois teremos organismos combatendo o vírus.
Com o cenário positivo da vacinação no Brasil, estaríamos mais prevenidos e menos vulneráveis a essa nova variante?
Sem dúvida, mas não é só isso. Em populações com alto índice de vacinação e que têm um perfil de cuidado maior, com uso de máscara e evitando aglomerações, o cenário de transmissão de qualquer variante é reduzido. Mas precisamos estar atentos, acompanhar os ensaios em laboratório com as vacinas e ajustar os protocolos de vacina, se for necessário.
Já é possível ter uma ideia do que podemos esperar daqui para frente? Seria a Ômicron capaz de dominar o surgimento das novas infecções?
O que nós pudemos observar em um cenário bastante reduzido, que é o que vimos na África do Sul, é que mesmo em um ambiente dominado pela variante Delta, a Ômicron foi capaz de evoluir e dominar o cenário de infecções. Com o tempo, é bastante provável que ela substitua a Delta, até porque essa é a maneira como o vírus “atuou” até agora, inclusive no Brasil: as variantes vão se substituindo ao longo do tempo. Mas ainda precisamos aguardar para ter mais certezas.