O verão se aproxima e os dermatologistas alertam para a importância da prevenção do câncer da pele
Repórter: Aura Mazda
Fotos dos médicos: Bruno Póvoa
Dezembro é o mês oficial de prevenção contra o câncer da pele, que também deve ser prevenido ao longo do ano inteiro. É neste mês que a Sociedade Brasileira de Dermatologia prepara ações de conscientização e consultas gratuitas para a população. No Rio Grande do Norte, a SBDRN realiza todos os anos o “Dia D”, que este ano ocorre em 7 de dezembro com atendimentos na Liga Norte-Riograndense Contra o Câncer.
O câncer da pele é provocado pelo crescimento anormal das células que compõem a pele. Existem diferentes tipos da doença que podem se manifestar de formas distintas, sendo os mais comuns denominados carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular – chamados de câncer não melanoma – que apresentam altos percentuais de cura se diagnosticados e tratados precocemente. Um terceiro tipo, o melanoma, apesar de não ser o tipo de câncer da pele mais incidente, é o mais agressivo e potencialmente letal.
Quando descoberta no início, a doença tem mais de 90% de chance de cura. A exposição excessiva e sem proteção ao sol é a principal causa de câncer da pele, que pode se manifestar como uma pinta ou mancha, geralmente acastanhada ou enegrecida; como uma pápula ou nódulo avermelhado, cor da pele e perolado (brilhoso); ou como uma ferida que não cicatriza.
O câncer da pele responde por 33% de todos os diagnósticos desta doença no Brasil, sendo que o Instituto Nacional do Câncer (INCA) registra, a cada ano, cerca de 180 mil novos casos.
A dermatologista Tatiana Maia alerta que a principal causa de câncer da pele no Brasil é a exposição solar. “Somos expostos a uma radiação altíssima o ano inteiro. Mas no verão, com o hábito de veranear, as pessoas estão expostas ao sol em atividades recreativas, atividades ao ar livre, então o cuidado deve ser redobrado. A incidência solar é tão alta no Rio Grande do Norte que passar meia hora em um carro ou fazer uma simples caminhada significa uma exposição considerável” disse.
Sinais e sintomas
A dermatologista Emanuela Menezes alerta para os principais sintomas de câncer. É importante ficar atento as pintas que apresentam assimetria, bordas irregulares, quando tem três ou mais cores, diâmetro maior que 6 milímetros e evolução. “Se o paciente fala que tem aquela pinta há muitos anos, mas ela não está mudando de cor, relevo, textura e estável, me preocupo menos, mas se começou a crescer e mudou é um sinal de preocupação”, explicou a médica.
O diagnóstico do câncer da pele é suspeitado no exame físico com um médico e confirmado por meio de uma biópsia, em que é feita a retirada da lesão para confirmar em um laboratório de patologia através da análise do médico patologista. “Na maioria das vezes, o tratamento é feito por meio de cirurgia. Mas em alguns casos, por exemplo, de carcinoma basocelular, alguns pacientes por motivo de idade ou local da lesão não precisam partir para a cirurgia. Pode entrar com uso de medicamentos, mas em casos muito específicos”, disse.
O dermatologista Arnóbio Pacheco recorda personalidades públicas que morreram em decorrência do melanoma, como Bob Marley, Carlos Lacaz, Pedro Collor de Melo e o precursor no Brasil dos transplantes de órgãos, Euryclides de Jesus Zerbini. “Todos estão sujeitos a essa doença que não pode ser negligenciada nem deixada para depois”, frisou Arnóbio Pacheco.
Descrita como a “Noiva do sol” pelo escritor e folclorista Câmara Cascudo, Natal registra altos índices de radiação ao longo de todo o ano. Concomitante à necessidade de prevenção o ano inteiro, é necessária uma campanha de alerta sobre o câncer da pele durante todos os meses do ano, defende o presidente da Sociedade de Dermatologia no RN.
“O meu sonho é que essa campanha seja permanente. O que tornaria interessante, além de questões de saúde, também de divulgação. Assim como Natal é considerada Noiva do sol, também poderia ficar conhecida no país inteiro como a capital da prevenção contra o câncer da pele, assim como Acari é conhecida como a cidade mais limpa do Brasil”, defende Pacheco.
Os atendimentos do “Dia D” que acontecerá no sábado, dia 07 de dezembro, na Liga Contra o Câncer, incluem consultas, orientações e encaminhamentos para tratamentos direcionados apenas para casos de câncer da pele, além de pequenas cirurgias feitas de forma voluntária pelos dermatologistas.
Dicas de prevenção
Para a prevenção do câncer da pele e de outras lesões provocadas pelos raios UV, é necessário evitar a exposição ao sol sempre que possível, principalmente nos horários mais intensos, ou seja, das 10 às 16 horas, sem proteção. Se a exposição for inevitável, deve-se incentivar o uso de chapéu, guarda-sol, óculos escuros, camisa de mangas longas e filtro solar durante qualquer atividade ao ar livre.
“Orientamos proteção solar com fator acima de 30, como recomenda a SBD. Quando os pacientes têm o fototipo 1, ou seja, os mais branquinhos, geralmente recomendamos fatores acima de 50 com reaplicação a cada 2 ou 3 horas, além de proteções com blusas. A preocupação e os cuidados devem ser ainda maiores com os bebês e às crianças, por ser, a infância, o período da vida mais suscetível aos efeitos danosos da radiação UV que se manifestam mais tardiamente na fase adulta”, explicou a dermatologista Viviane Lira.
Também é importante que se estimule a procura por proteção física (áreas de sombra), que podem ser desde árvores até edificações como marquises. Áreas de sombra reduzem em até 50% a intensidade das radiações UV.
Sociedade Brasileira de Dermatologia
Em 4 de fevereiro de 1912, um grupo de 18 médicos fundou oficialmente a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em uma sessão inaugural ocorrida no Pavilhão Miguel Couto, na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. Seu estatuto foi registrado no dia seguinte, 5 de fevereiro, data em que se comemora, desde 2000, o Dia do Dermatologista no Brasil.
A SBD, atualmente, congrega mais de 9.400 mil associados. São dermatologistas que têm colaborado com a especialidade por meio de estudos originais, em especial na área das doenças infectocontagiosas e tropicais, o que só comprova que a dermatologia brasileira continua dando importante contribuição à ciência e ao desenvolvimento da dermatologia mundial.
No Rio Grande do Norte a Sociedade Brasileira de Dermatologia nasceu em 1985, por iniciativa do saudoso professor Doutor Iron Idalino, juntamente com os médicos e professores da UFRN Pedro Trindade, Arnóbio Pacheco e Aderson Tavares. Passadas mais de três décadas de sua criação, a SBDRN está presente na medicina no RN por meio de serviços, campanhas, parcerias e orientações e virou sinônimo de credibilidade. Na época em que foi criada, a SBDRN contava com 10 sócios. Hoje, são 110.
A médica Regina Jales, vice-presidente da SDBRN, enalteceu o trabalho desenvolvido pela entidade. “Lutamos por uma boa formação que inclua a residência médica no serviço credenciado, título de especialista que nos permite fazer parte da SBD, que é muito rica em termos de qualificação e o que queremos oferecer aos brasileiros é o que tem de ponta na dermatologia. Queremos uma Sociedade unida em prol de oferecer o melhor aos nossos pacientes”, explicou Regina Jales.
Nos dias atuais, a dermatologia é considerada a especialidade de mais difícil acesso, principalmente pela alta concorrência. A preferência, segundo Arnóbio Pacheco, ocorre pelo leque de opções de área de atuação ao especialista.
“Envolve desde a pesquisa científica até a clínica médica devido ao grande número de doenças da pele. Os dermatologistas podem atuar com cirurgia dermatológica, doenças infecciosas, dermatologia pediátrica, dermatologia geriátrica, imunologia, doenças de cabelos e unhas, histopatologia, câncer da pele, mucosas e genitais, além da cosmiatria”, explicou.
Natal: a capital da dermatologia
Na história da dermatologia do Rio Grande do Norte, poucas lembranças ficaram tão marcadas como a do Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia (CSBD) 59ª edição, que ocorreu em 2004, sediado no Centro de Convenções. O lugar foi palco daquele que viria a ser um dos eventos mais prestigiados de que se tem notícia. Na ocasião, 3.480 dermatologistas, de todos os cantos do Brasil, vieram à Natal. O evento foi pensado e organizado por Arnóbio Pacheco.
“Este congresso deu uma grande contribuição para o turismo de eventos em Natal. Propiciou a construção do Auditório Norton Mariz, para três mil pessoas, no Centro de Convenções, com grande ajuda do secretário de Turismo na época, Haroldo Azevedo”, explicou lembrando que a climatização do Centro de Convenções se deu graças a doação de 1 milhão de reais feita pela SBD.
Este ano, a SBDRN, sob a iniciativa de Arnóbio Pacheco, cooptou o CSBD que ocorrerá em Natal em 2023, 15 anos após o grande sucesso do primeiro congresso na capital potiguar. A escolha, no entanto, não foi fácil. Natal concorreu com São Paulo, Porto Alegre e Goiânia.
“Saímos vencedores com muitos méritos, graças ao congresso de 2004, que marcou nossa vitória. O lucro do Congresso foi convertido em investimentos no Serviço de Dermatologia do HUOL, que adquiriu um padrão classe A, se transformando em referência em nível nacional”, comemorou Pacheco.
A dermatologista e professora da UFRN, Regina Jales, presidente do Congresso, destacou o mérito da conquista do congresso de 2023 e sua importância para reintroduzir Natal na rota dos grandes congressos de dermatologia. “É um congresso que atrai mais de 5 mil dermatologistas, então essas pessoas vão movimentar aeroportos, hotéis, turismo e também enriquecer a nossa SBD Regional. Foi um momento de muita alegria para todos”, disse.
A Dermatologia na Cidade do Sol
A história da dermatologia no Rio Grande do Norte caminha de mãos dadas com a de Arnóbio Pacheco, um dos protagonistas na especialidade. Dermatologista, professor universitário e atual presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia no Rio Grande do Norte, ocupa lugar de destaque no “panteão” dos que dedicam a vida em prol de fazer a diferença por meio do seu ofício. Seja em seu consultório, nas salas de aula da UFRN ou nos grandes congressos que organizou e ainda organiza, o médico transborda talento e amor pela profissão.
A valorização dos congressos é uma característica marcante de Arnóbio Pacheco. Desde 1977 ele participa anualmente do Congresso Brasileiro de Dermatologia, contabilizando mais de 40 congressos brasileiros. Em 2004 presidiu o Congresso que aconteceu no Rio Grande do Norte e já comemora a captação para o Estado novamente do Congresso de 2023.
O dermatologista presidiu o Congresso Norte/Nordeste , em 2000, criou o Congresso Derma Natal, em 2002, e destaca também sua participação anual há 20 anos consecutivos no Congresso Europeu de Dermatologia.
Na dermatologia, especialidade que escolheu ainda garoto, já atendeu um número expressivo de pacientes. A experiência e dedicação fizeram de Arnóbio Pacheco um dos médicos mais requisitados em todo o Nordeste. Em uma consulta, o olhar clínico dificilmente erra um diagnóstico.
“Nesses quarenta anos, eu consultei boa parte da população de Natal. Uma frase de autor desconhecido resume muito bem o sentimento que tenho sobre a profissão: O mais difícil de entender é o que está diante dos seus olhos e você não consegue enxergar. Enxerga bem quem possui conhecimento e experiência”, comenta Dr. Arnóbio que foi o primeiro dermatologista do Rio Grande do Norte a conseguir, após provas e testes, o título de especialista pela SBD Nacional.
“O que me impressiona na dermatologia é a resolutividade com segurança e responsabilidade do diagnóstico. Muitas vezes, o paciente pode apresentar diversas queixas em uma mesma consulta e o que ele acha menos importante, em algumas ocasiões, é o mais grave. A atenção do especialista faz a diferença no diagnóstico e controle da doença”, alertou o médico.
O que Dr. Arnóbio Pacheco aprendeu nas “cadeiras da universidade” retribuiu, anos depois, ao ingressar como professor na Universidade Federal do RN, lugar onde ensina há 40 anos. Lá, ajudou a formar milhares de médicos e ampliou, através da pesquisa, o conhecimento da medicina dermatológica.
O professor e chefe do Serviço de Dermatologia do Hospital Universitário Onofre Lopes criou no local, há dez anos, um ambulatório voltado para o tratamento de portadores de psoríase, doença que pode atingir até 2% da população mundial. É uma enfermidade crônica, autoimune – ou seja, em que o organismo ataca ele mesmo -, não contagiosa e que pode ser recorrente. Para os alunos de medicina, a prática ocorre no sétimo período, sendo 50 estudantes por semestre. Alunos do internato em Clínica Médica fazem rodízio constante, além dos médicos residentes.
O Serviço de Dermatologia da UFRN, hoje considerado um dos mais tradicionais da instituição, foi fundado em 1956 pelos médicos Olavo Medeiros (In Memorian), Adoasto Souza (In Memorian), Iron Idalino (In Memoriam) e Pedro Trindade.
Atualmente, o local oferece atendimento à população do RN nos ambulatórios de dermatologia geral e especializados. Como projetos de extensão existem os de câncer da pele, hanseníase, psoríase, dermatologia pediátrica, doenças bolhosas, de cabelos e unhas e cirurgia dermatológica.
Arnóbio Pacheco possui graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1977), Residência Médica em Dermatologia pelo IASERJ-RJ (1979), título de Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (1980), Mestrado em Dermatologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1983) e Doutorado em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2015).
Atualmente é chefe do Serviço de Dermatologia da UFRN e presidente da SBD/RN
Autor dos livros:
– Atlas – A pele em foco (1988)
– Skin Feeling – Sentindo a psoríase (2016)
– Tratamento com Imunobiológicos na Psoríase (2017)
– Autor do capítulo “Tratamento de Dermatoviroses” do livro de Doenças Infecciosas do Professor Walter Tavares
– Foi convidado para participar do livro Consenso de Psoríase da Sociedade Brasileira de Dermatologia, produzindo o capítulo sobre qualidade de vida.