Maior incidência de doenças metabólicas foi observada entre idosos que passam a noite com alguma iluminação; pesquisadores dão dicas para minimizar o problema.
A exposição a qualquer quantidade de luz durante o sono à noite está associada a um aumento significativo na incidência de obesidade, pressão alta e diabetes. A conclusão é de um estudo de pesquisadores do departamento de Neurologia da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, publicado na revista científica SLEEP.
O trabalho acompanhou 552 idosos, entre 63 e 84 anos. Para medir a iluminação, os participantes utilizaram dispositivos que detectavam a presença de luz no ambiente. Foram consideradas não apenas luzes de lâmpadas, mas também de outras fontes, como aparelhos eletrônicos. Após um período de sete dias, foi observado que pouco menos da metade (255) dormia completamente no escuro, o indicado pelos especialistas.
“Seja do smartphone, deixando a TV ligada durante a noite ou da poluição luminosa em uma grande cidade, vivemos em meio a um número abundante de fontes artificiais de luz que estão disponíveis 24 horas por dia. Os adultos mais velhos já correm maior risco de diabetes e doenças cardiovasculares, então queríamos ver se havia uma diferença nas frequências dessas doenças relacionadas à exposição à luz à noite”, explicou a autora principal da pesquisa e professora da universidade, Minjee Kim, em comunicado.
Os cientistas constataram que a incidência de doenças metabólicas era consideravelmente mais alta entre esse grupo que dormia com alguma luz acesa no quarto, na comparação com os demais.
Enquanto 40,7% do grupo com alguma iluminação na hora de dormir era obeso, esse índice foi de 26,7% nos que aproveitavam o sono no escuro. A mesma diferença foi vista para aqueles com diabetes, com uma incidência de 17,8% no primeiro grupo contra 9,8% no segundo; e com hipertensão, 73% contra 59,2%.
O estudo é do tipo observacional, ou seja, apontou apenas uma relação entre a iluminação noturna e a prevalência das doenças analisadas, e não uma causa direta entre os fatores. No entanto, os pesquisadores acreditam que há sim alguns motivos biológicos que podem justificar essa ligação.
“Não é natural ver essas luzes à noite. A luz realmente desliga algumas das partes do cérebro que dizem ao nosso corpo se é dia ou noite. Então, esses sinais enviados por ele são confusos de certa forma, porque o ciclo circadiano é enfraquecido e, com o tempo, isso tem implicações para nossa saúde”, afirmou Minjee ao jornal americano HealthDay.
Para o professor e chefe da seção de medicina do sono da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, Emerson Wickwire, que não fez parte do estudo, a nova pesquisa se soma a um corpo de evidências que mostra os impactos da interrupção do sono e da desregulação do ciclo circadiano para a saúde geral, especialmente entre os idosos.
“Mesmo que este estudo demande um acompanhamento cuidadoso em estudos futuros, esses são resultados empolgantes. Primeiro, a luz à noite pode piorar a saúde ao desregular o relógio circadiano. Além do sono, a saúde circadiana é vital para a prevenção de doenças e desempenho ideal do organismo”, disse o professor ao HealthDay.
Ele cita ainda que a luz atua suprimindo a produção de melatonina no corpo, o que pode estar ligado à piora da qualidade do sono durante a noite.
“A melatonina, também chamada de hormônio da escuridão, está associada a várias propriedades de saúde, incluindo propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes. A luz à noite reduz essa melatonina”, afirma o especialista.
Como diminuir o problema
Para diminuir esses potenciais riscos, a chefe do departamento de medicina do sono da Universidade Northwestern, e uma das autoras do estudo, Phyllis Zee, alerta que “é importante que as pessoas evitem ou minimizem a quantidade de exposição à luz durante o sono”, em comunicado. Para isso, ela sugere algumas dicas que podem ajudar durante o processo:
- Não acenda as luzes. Se você precisar ter uma luz acesa (o que os adultos mais velhos podem querer por segurança), deixe uma luz fraca e que esteja mais próxima do chão.
- A cor é importante. Uma luza na cor âmbar ou vermelha/laranja é menos estimulante para o cérebro e, portanto, menos prejudicial. Por isso, não utilize luz branca ou azul e mantenha-a longe do local de dormir.
- Máscaras e cortinas blackout. Quando não é possível controlar a iluminação interna e externa, uma boa saída é o uso de máscaras para os olhos e cortinas chamadas de blackout, que conseguem impedir de forma mais eficiente a entrada da luz no quarto.
- Posição da cama. Tente organizar o quarto de modo que a cama fique numa posição em que a luz não incida sobre o rosto, o que eleva os malefícios da iluminação noturna.