A tão temida fase chegou! E agora? O que fazer com a “aborrecência”? Os adolescentes muitas vezes parecem mesmo não só muito aborrecidos mas também aborrecendo ou ignorando os adultos. Ficamos presos a essa forma de pensar a adolescência porque temos pouca compreensão sobre o que acontece nessa etapa da vida. Talvez a falta de informação sobre o que eles sentem e vivem seja um grande ponto de partida para essa definição tão reducionista.
A adolescência é uma fase importantíssima do desenvolvimento que toda família passa e percebe-se muitas dificuldades de entender e acolher as emoções e comportamentos que vão emergindo nesse momento. É uma grande oportunidade de intervenção para auxiliá-los na busca pelo equilíbrio emocional e maturidade.
Dentre as tarefas principais a serem cumpridas nessa fase, a EMANCIPAÇÃO SOCIAL tem um destaque bem preponderante e vou te convidar a entender um pouquinho o que isso quer dizer.
Se recordarmos a história do início, perceberemos o quanto nos preparamos para a chegada de um filho (organizamos a casa, o quarto, os dias de licença e até os auxílios externos ao trabalho das noites acordadas), mas não continuamos com o mesmo investimento à medida que eles vão crescendo. Ali por volta dos 7 anos, começamos a acreditar que o trabalho acabou ou, pelo menos, diminuiu e que, a partir de agora, será só sossego. Daí eles ressurgem, começam a questionar tudo e colocam todas as regras e valores a prova. Um verdadeiro choque! Parece que ficamos procurando por um filho que não existe mais e desejando que ele volte a ser quem era: tranquilo, obediente, compreensível e que aceita as orientações após um “carão”.
A infância e os brinquedos perdem a graça, o colo que era tão confortável passa a não ser mais, sair com os pais já não é mais tão interessante. Parece até que do dia para noite tudo perdeu o encanto e prazer. Ele vai perdendo o interesse pela família enquanto o relacionamento com os amigos passa ao primeiro plano. E aí começa o sofrimento e o desencontro entre pais e filhos: como aquele filho que dependia tanto dos cuidados parentais agora parece ter verdadeira “alergia”?!
É imprescindível para o adolescente se distanciar para reconhecer seus desejos próprios, mas esse processo é permeado de dor e luto tanto para os filhos quanto para os pais. Pode-se dizer até que é uma fase cheia de momentos de despedidas! Eles necessitam se despedir, sem entender o porquê, e os pais necessitam facilitar essa despedida sem entender também.
A adolescência exige da família uma reorganização das suas relações, pois o passado (a infância) será passado a limpo em forma de questionamentos e ressignificação.
A briga deles pode ser entendida como uma forma de se defender dessa DOR da despedida e enfrentar um percurso que ainda é desconhecido para eles.
Em resumo, o processo adolescer acontece assim: a criança nasce do útero materno para a família, o adolescente nasce da família para a sociedade. Ele necessita encontrar novas referências para contestar as que existem e assim poder construir sua própria identidade cumprindo com isso a maior tarefa – Sua Existência Social!
É preciso sensibilidade para compreender que esse filho agora embarcou em uma viagem de autodescoberta e estará sempre mudando de rumo, entre acertos e erros, tentando encontrar o caminho. E os pais necessitam encontrar o seu novo lugar nessa relação que será sempre de apoio e presença, porém apenas quando solicitado. Certamente, dentro deste percurso, ele necessitará descansar no velho lugar seguro – os pais!
DRA KARINA MACHADO, PSICÓLOGA
CRP 17/1135
@KACONTIGO