A queda de cabelos em tempos de pandemia


O que a saúde mental, as emoções e o cenário atual tem a ver com alopecias e perda acentuada de cabelos?

São sabidos os prejuízos que a pandemia está trazendo para diversos setores da sociedade. Na intimidade das relações e na saúde dos indivíduos os problemas são variados podendo manifestar sintomas extremamente incômodos. A queda de cabelos é um problema que é visível aos olhos, que pode ser agravada por razões psicossomáticas para além de suas causas.

O médico e tricologista Dr Ademir Leite Junior aponta a importância de considerar e incluir a psicossomática nos casos de queda de cabelos. Para entender melhor o que o profissional defende a definição em um dos seus textos é esclarecedora:

“Para aqueles que pouco entendem sobre psicossomática, trata-se de uma área do conhecimento médico que trabalha os fenômenos envolvidos na inter-relação corpo e psique, dentro de um contexto que envolve uma abordagem que enxerga o homem como um ser que tem corpo, mente e que vive em um meio ambiente onde esse homem terá de interagir com todos os aspectos que envolvem nossas vidas”. (Trecho publicado no blog O Tricologista).

Assim como a dor física do luto é real e o processo de vivência da perda pode trazer complicações como a baixa da imunidade, mudança no apetite, desequilíbrio do sono, entre outros, o stress, a ansiedade e os impactos da crise provocada, por exemplo, pelo cenário da pandemia de COVID-19 podem causar ou agravar casos de queda de cabelos. Segundo o tricologista, “todo sintoma ou doença afeta a nossa percepção do mundo e a forma como nos relacionamos com ele, consequentemente causa impactos psicoemocionais. E todo evento psicoemocional interfere na bioquímica corporal, provocando sintomas e alterações do comportamento de células, tecidos, órgãos e sistemas… e com o sistema capilar não é diferente”.

O profissional que se especializou na área de estudos da tricologia, a ponto de fundar uma escola para formação de novos profissionais que completa em 2020 dez anos de existência, ressalta que a psicossomática é de extrema importância na avaliação em consultório. Em um de seus cursos, Psicossomática em Tricologia, expõe o que é vivido em consultório e as abordagens para tratar em seus mais de 20 anos de experiência dando o espaço que acredita ser essencial ao entendimento dos profissionais para o sucesso do diagnóstico e tratamento: “A abordagem psicossomática do atendimento médico em cabelos permite analisar e compreender melhor a origem dos problemas dos pacientes dentro dos âmbitos biopsicossociais (que utiliza de fatores biológicos, sociais e psicológicos). Considerando também que, para além dos problemas que surgem a partir de alterações do funcionamento biológico, o ambiente em que nós vivemos e as escolhas que fazemos podem influenciar seriamente no surgimento e agravamento de doenças.

Foi uma questão pessoal que aproximou Dr Ademir da tricologia e o fez um dos profissionais referência no entendimento e tratamento de diferentes problemas capilares. Quando o assunto é o medo de ficar careca, o médico tornou público um texto onde relata que “Como paciente e como médico escolhi tratar de queda capilar. O estudo e a experiência me fizeram compreender muitos comportamentos de pacientes que perdem cabelos. (…) As formações em psicossomática, o estudo da psicologia analítica e meu mestrado em psicologia clínica pela PUC-SP me deram um substrato a mais para compreender a mim mesmo e aos meus pacientes”.

Para quem está no estágio de ser pego de surpresa com queda de cabelo e ter seus primeiros momentos sob o impacto dessa percepção, o tricologista explica que seja para alopecia androgenética, difusa, areata ou outros tipos de problemas capilares em consulta o profissional “deve ter interesse em entender mais do que aquilo que o paciente tem para contar sobre seu cabelo. Isso porque acredito que a saúde dos cabelos passa pela saúde do corpo e de nossas emoções, então, aquilo que o paciente pode não ter dado valor em um relato escrito pode ter grande valor quando conversado em consulta”.

Dr. Ademir C. Leite Jr. – CRM 92.693 (fotoÇ divulgacao)

Um problema de queda capilar quando inserido no contexto atual, onde os medos e dores causados pela pandemia, as cobranças e competividade nocivas comuns a essa vida moderna, a necessidade de aprovação e de enquadramento em padrões muitas vezes inatingíveis, toma proporções muito maiores atingindo emocionalmente inclusive quem convive com a pessoa que passa por isso. No que conclui Dr Ademir “Não haveria queda de cabelo se não houvesse um desconforto humano por de trás, e toda queda capilar só é motivo de preocupação porque fortalece este desconforto”.

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