No dia 25 de fevereiro, o mundo celebra o Dia do Implante Coclear! Para marcar a data, especialistas da ABORL-CCF destacam a importância dessa tecnologia que transforma vidas.
O implante coclear é um dispositivo eletrônico avançado desenvolvido para reabilitar a audição de pessoas com surdez severa à profunda, quando os aparelhos auditivos convencionais não são eficazes. Ao contrário dos aparelhos auditivos tradicionais, que apenas amplificam os sons, o implante coclear converte os sons em sinais elétricos e os transmite diretamente ao nervo auditivo, alcançando a área cerebral da audição.
O Sistema de Implante Coclear é composto por duas partes principais: um componente interno, chamado de implante coclear, implantado cirurgicamente na cóclea (orelha interna), e um componente externo, chamado de processador de fala, o qual capta os sons do ambiente convertendo-os em sinais elétricos e os transmitem para a unidade interna, estimulando eletricamente as fibras do nervo auditivo permitindo que estes sinais alcancem a área cerebral da audição os quais são percebidos como sons pelo paciente. Quando implantado seguindo os protocolos preconizados, o implante coclear pode melhorar significativamente a percepção dos sons da fala, permitindo o desenvolvimento da linguagem e a capacidade de comunicação.
A indicação para o implante coclear, no entanto, depende de uma avaliação médica criteriosa, considerando fatores como tipo e grau da perda auditiva, desempenho com o uso dos aparelhos auditivos convencionais, idade do paciente e condições gerais de saúde. “O critério audiológico é fundamental, sendo a indicação clássica para perdas auditivas sensorioneurais de grau severo a profundo. Além disso, também avaliamos aspectos médicos e psicológicos para garantir que o paciente tenha boas condições de se beneficiar da cirurgia”, explica o Dr. Rodolpho Penna Lima, otorrinolaringologista e membro da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL CCF).
Em relação à idade , não existe um limite máximo para indicação do implante coclear, sendo indicado para crianças até idosos. Em crianças, ele pode ser recomendado tanto para aquelas que nasceram surdas quanto para as que adquiriram a surdez ao longo da vida. O resultado do procedimento pode variar de acordo com uma série de fatores, como a idade do aparecimento da surdez, a idade da implantação, o tempo e a causa da surdez além do acesso a terapia de reabilitação da audição e fala.
“No caso das crianças, o melhor período para indicação da cirurgia de implante coclear é até os três anos e meio de idade. Isso porque o nosso sistema nervoso central é extremamente plástico e, se implantamos nesta fase, conseguimos alcançar os melhores resultados. Mas não quer dizer que crianças mais velhas não possam ser implantadas e que também não possam ter bons resultados”, explica o especialista.
A reabilitação da audição e da linguagem é indispensável, principalmente para crianças implantadas. “Hoje, um dos grandes desafios dos centros especializados é garantir que esses pacientes tenham acesso a reabilitação auditiva, no pós-operatório. A escassez de profissionais reabilitadores é um dos principais gargalos enfrentados pelos centros de implantes cocleares no Brasil, e, em muitos casos, a falta desse suporte pode comprometer o resultado alcançado com a cirurgia”, alerta Penna Lima.
Avanços tecnológicos
Hoje, os dispositivos são mais eficazes, menores, mais discretos e mais confortáveis do que nunca. Os eletrodos estão mais delicados e flexíveis, reduzindo o risco de trauma nas estruturas do ouvido interno (cóclea), potencializando os resultados alcançados. Além disso, os novos modelos são compatíveis com exames de ressonância magnética de maior intensidade, como os de 3 Tesla, ampliando a segurança para os pacientes. Entre os principais avanços estão, ainda, a melhoria da qualidade sonora, na percepção de música, e conectividade com outros dispositivos eletrônicos como celulares, tablets etc.
“Isso permite que os pacientes adaptem o implante às suas necessidades individuais, proporcionando uma experiência auditiva mais natural. Além disso, a técnica cirúrgica também se aprimorou, tornando a operação mais segura e com recuperação mais rápida. A evolução tecnológica contínua permite uma experiência auditiva mais natural e personalizada”, destaca o Dr Robinson Koji Tsuji, especialista da ABORL-CCF, que preside a Sociedade Brasileira de Otologia (SBO).
Desafios e perspectivas
O Brasil tem apresentado um crescimento significativo de implante coclear nos últimos anos, refletindo avanços médicos e a ampliação do acesso a tratamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2022, segundo estatísticas do Datasus, foram realizados 774 procedimentos de implante coclear via SUS. Em 2023, esse número aumentou em 16,5%, totalizando 902 implantes. A evolução no número de implantes cocleares pode ser atribuída a diversos fatores, incluindo o avanço da medicina, a inclusão de tratamentos no SUS e campanhas de conscientização que têm ampliado o acesso a essa tecnologia.
Embora o implante coclear seja um grande avanço, os usuários enfrentam alguns desafios. O primeiro é a adaptação ao dispositivo. Para muitos, o som percebido pelo implante pode parecer diferente do som natural, e o cérebro precisa de tempo para aprender a interpretar os sinais. Esse processo de adaptação pode levar semanas ou até meses. Outro desafio é o seguimento contínuo. O implante coclear exige acompanhamento médico regular, ajustes no dispositivo e, muitas vezes, terapia fonoaudiológica para garantir que o paciente aproveite ao máximo os benefícios do implante.
Especialmente em crianças, é necessário um esforço contínuo para integrar o uso do implante no processo de aprendizagem e comunicação. O SUS oferece o implante coclear gratuitamente, desde o atendimento multiprofissional na fase pré-cirúrgica, a cirurgia, até o acompanhamento pós-operatório. Os planos de saúde também oferecem cobertura para a realização da cirurgia de implante coclear. Em algumas regiões, o acesso ao procedimento ainda pode ser limitado.
O implante coclear representa um avanço significativo na medicina e um divisor de águas na qualidade de vida de muitas pessoas com perda auditiva. Graças aos avanços tecnológicos e à crescente acessibilidade, um número cada vez maior de pacientes pode recuperar a audição e retomar plenamente suas interações sociais. Ampliar o debate sobre o tema é essencial para incentivar políticas que facilitem o acesso ao tratamento”, ressalta Dr. Robinson.