Pesquisa britânica mostra que 1 em cada 5 pessoas deixou de cuidar da saúde ocular durante a pandemia
Desde o início da pandemia, o comportamento da população em relação aos cuidados com a saúde mudou. Muitas pessoas adiaram consultas e tratamentos, principalmente, por medo de se contaminar. Outro motivo é que muitos procedimentos cirúrgicos eletivos foram cancelados durantes os lockdowns.
Entretanto, esse adiamento de exames e consultas pode ser potencialmente grave para a saúde. Em relação às doenças oftalmológicas, por exemplo, postergar consultas ou tratamentos cirúrgicos, pode significar a perda definitiva da visão.
Segundo a oftalmologista Dra. Maria Beatriz Guerios, especialista em glaucoma, a saúde ocular não deve ser negligenciada, especialmente quando já existe um diagnóstico como o do glaucoma.
“O glaucoma é uma doença potencialmente grave e silenciosa, que pode levar à cegueira irreversível. O acompanhamento médico de um paciente com a doença deve ser frequente. Infelizmente, tivemos muitos casos de atrasos na rotina das consultas no último ano”.
Uma pesquisa realizada pela Fight for Sight, organização britânica dedicada à pesquisa oftalmológica, revelou que 1 em cada 5 pessoas no Reino Unido deixou de visitar um oftalmologista durante a pandemia. Além disso, o estudo mostrou que um terço dos adultos relatou deterioração da visão desde o início da pandemia.
Posso deixar de lado minha saúde ocular?
“Os cuidados com a visão são importantes desde cedo. Contudo, merecem mais atenção a partir dos 40 anos. A consulta de rotina nessa faixa etária é capaz de detectar, de forma precoce, condições que podem causar a perda da visão, como glaucoma, catarata, degeneração macular relaciona à idade (DMRI) e patologias da retina”.
Sem os devidos tratamentos para essas doenças, as consequências podem ser devastadoras. Isso porque são doenças crônicas, degenerativas e progressivas.
Ou seja, podem causar uma perda importante da visão. Apenas a catarata é reversível. O glaucoma, a DMRI e a retinopatia diabética, por exemplo, causam danos visuais irreversíveis.
Quais condições oculares não podem esperar?
Embora uma consulta de rotina, quando não há nenhuma doença ocular pré-existente, possa ser adiada, é preciso ficar atento a sintomas oculares que demandam procurar um oftalmologista precocemente, ou até em um serviço de emergência, como:
- Lesão ou trauma ocular
- Dor aguda nos olhos
- Sintomas de conjuntivite viral ou bacteriana
- Mudança repentina no campo visual
- Ardência e vermelhidão que não melhoram
Vale ressaltar que pacientes com diagnóstico de glaucoma, DMRI e retinopatia diabética, devem seguir, rigorosamente, suas rotinas de acompanhamento oftalmológico.
Telemedicina na oftalmologia
A telemedicina se tornou uma realidade desde o início da pandemia. Entretanto, nem todas as especialidades podem atender integralmente por telemedicina.
“Temos estudado uma forma de realizar os atendimentos de forma online. Para isso, é preciso que o paciente esteja conectado a um computador ou celular, com uma câmera de vídeo. Mas, nem todos dispõem desses equipamentos. Aliado a esse fato, o glaucoma costuma afetar, mais comumente, pessoas acima dos 50 ou 60 anos, muitas vezes menos adaptados à tecnologia”, cita Dra. Maria Beatriz.
“Nas consultas por telemedicina podemos avaliar exames de imagens, verificar se o paciente tem usado a medicação corretamente, se tem alguma dúvida em relação à horários e se apresenta algum efeito colateral relacionado aos medicamentos prescritos”, explica a oftalmologista”,
Autocontrole da pressão intraocular
O exame mais importante para prevenir o glaucoma, bem como para seu acompanhamento, é a medição da pressão intraocular (PIO). Embora existam equipamentos para o autocontrole dessa pressão, é uma tecnologia que ainda não chegou ao Brasil.
“Portanto, a PIO só pode ser aferida na consulta presencial. A detecção precoce e o tratamento do glaucoma não podem esperar”, reforça Dra. Maria Beatriz.
Consulta domiciliar
Uma outra forma de ajudar os pacientes é realizar a consulta médica domiciliar. Nesses casos, o oftalmologista leva um aparelho portátil para medir a pressão intraocular e examinar o fundo do olho.
“O desafio, aqui, é ampliar o acesso a esse tipo de serviço para mais pessoas”, comenta Dra. Maria Beatriz.
Boas perspectivas
Os profissionais da saúde foram os primeiros a serem vacinados no Brasil. Além disso, a população acima dos 50 anos também já recebeu, pelo menos, uma dose da vacina. Outro ponto positivo é que as cirurgias eletivas foram liberadas.
“Todos esses fatores são favoráveis à retomada das consultas presenciais de rotina, bem como dos tratamentos cirúrgicos para o glaucoma e outras doenças oftalmológicas mais graves.
“A recomendação é que a população retome a rotina de cuidados com a saúde em geral, inclusive a ocular”, finaliza Dra. Maria Beatriz.