Adicção: quando o amor vira medo


A experiência e aprendizado de uma mãe de um filho dependente químico.

Há sete anos vivi o confronto real de que drogas são uma realidade que entra sem avisar. Meu filho adolescente com 15 anos estava mudado. O alegre e comunicativo garoto e atleta vivia agora num vai e vem à portas fechadas em seu quarto com amigos. Estranhei a mudança, mas só percebi o fato após a descoberta de um objeto. Pensei ser um apontador de lápis. Era um triturador de maconha .

Dali para cá, o sentido do ressignificar a vida me atinge de diversas formas. À medida que descobria, mais eu via que nada sabia. E a imagem de um monstro contra o qual eu lutava passou a habitar minha mente e minha casa. Meu filho mudava. Ele não existia mais na condição que o conhecia. E eu sabia que tinha que tirá-lo daquele “poço” do qual ele não conseguia sair. Naquele momento achei que mergulhar na dor era a forma de resgatá-lo. A dor era o poço onde ele se encontrava. E eu entrei junto para ele não se afogar sem forças. Fui sabendo sobre uso de ecstasy, LSD, cocaína, etc. E eu como mãe precisava da ilusão equivocada de imaginar que ele só usava maconha!

Busquei psiquiatras, psicólogos, clínicas, conhecimento teórico, cursos… E o processo abusivo da relação tóxica mãe-filho continuava  se aprofundando. Entre gritos, roubos, portas destruídas por chutes, quarto trancado muitas noites por medo de ser assassinada, vi o meu amor pelo meu filho virar medo! Abri a porta do seu quarto muitas noites para vê-lo vivo. Perdi muitas noites de sono.  Ganhei o registro de olheiras que não me abandonavam, unidas à ausência do meu riso franco que agora ia embora. E, após muitas conversas e textos e explicações sobre o processo da adicção, encontrei um caminho para me trazer de volta a mim mesma. Queria voltar a ser leve. Queria voltar a viver bem. Entendi que internaria meu filho involuntariamente todas as vezes necessárias. E que seriam muitas. Isso significava que ele e eu teríamos que ter 7 vidas como os gatos. E incrível, muito mais que 7, pois não se tem o número exato por quantas mortes/ internações teremos que passar.

Catarina Simões é médica anestesiologista 

Me joguei com força na terapia para não entrar em depressão. Tive êxito, apesar da tristeza, minha companheira mais fiel. Briguei e fiz as pazes infinitas vezes para não perdê-lo e, há quase um ano, descobri no surf os caminhos das ondas que completaram meu encontro final com a alegria de viver.

Meu filho está internado pela nona vez. Eu estou em paz, em terapia e surfando para continuar em equilíbrio. Descobrindo nesse momento que as dores mais profundas podem nos destruir ou nos modificar. A escolha sempre será nossa.

Continuo ajudando meu filho. Mas, a opção por mim, para retornar a minha alegria de viver em leveza, encerra a única chance para nós dois. E estar conectada ao que me faz viver bem é a solução assertiva para nossas vidas seguirem em frente.

Aloha!

 

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